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Em Vila Real abriram há pouco tempo os percursos naturais do Corgo. São percursos praticamente dentro da cidade, mas num excelente ambiente de ruralidade, beira-rio, entre escarpas e várias cascatas. Vila Real já tinha um caminho pelas margens do rio Corgo que designa por percurso geológico do Corgo. Estes dois percursos estão agora unidos. Há agora uma rede coerente de percursos que ligam a cidade, o rio Corgo e se pode prolongar pela ecopista do Corgo (canal de caminho de ferro desactivado). Começando na Vila Velha (o primeiro núcleo urbano da cidade), pode visitar-se o museu de arqueologia e a partir de vários pontos desse promontório ter vistas excelentes do território. Daí o percurso desce ao rio. Aproveita ao máximo os caminhos de terra batida existentes com passadiços que ajudam a vencer melhor as pendentes e a travessia do rio quando necessário. Daí também se ter a oportunidade de usufruir do espaço das duas margens. O percurso pode ainda derivar por caminhos de ligação a vários pontos da cidade. Liga ao Percurso Geológico do Parque Corgo com ligação ao Parque Florestal, às piscinas, parque de campismo e áreas fluviais com diversos caminhos e relvados muito bem tratados. Este percurso segue até Abambres com uma entrada junto à Ponte da Timpeira. Aqui se quiser pode continuar pela ecopista do Corgo ( o canal de caminho de ferro até Chaves). Para voltar à ”Bila” pode fazê-lo brevemente pela ecopista até à estação de caminho de ferro (hoje desactivada). No final merece provar os “covilhetes” de carne ou as “cristas” e os “pitos” da doçaria conventual que ainda hoje a “Bila” se orgulha de preservar.
Notas:
“Vila Velha” Núcleo primitivo da ocupação deste território até ao século XIII. Com a doação do Foral por D. Dinis em 1289, a vila desenvolve-se para Norte, expandindo-se para lá do promontório inicial. Para que é hoje Vila Real sempre em crescimento.
“Bila” a designação por que os locais tratam carinhosamente e com orgulho a sua cidade.
“Covilhetes” é um produto tradicional local. É um pastel de forma redonda, com recheio de carne de vaca.
“Cristas” e “Pitos” são alguns dos produtos da doçaria tradicional de Vila Real que terá origem conventual (Convento de Santa Clara, também conhecido por Convento de Nossa Senhora do Amparo).
António Borges Regedor
Legenda da imagem: A carta tem assinalado a vermelho o traçado da A24. E a azul o troço que acompanha paralelamente o talude da auto-estrada. Não podiam ter escolhido pior paisagem e pior caminho.
O que não se deve fazer em trilhos pedestres.
O trilho Vidago- Arcossó (PR2 CHV) é desinteressante, mal desenhado, de má qualidade e perigoso. Exemplo do que não deve ser um trilho. Usa no percurso troços de estradas municipais onde obrigatoriamente se tem de caminhar pela via de circulação automóvel. Tem dois troços a ladear paralelamente uma auto-estrada, áridos e sem qualquer interesse paisagístico ou patrimonial. E no entanto é um trilho com potencial e agradável, se redesenhado utilizando a ecopista do Tâmega até Vilarinho das Paranheiras e retorno utilizando uma parte da via romana até Vidago. Este mesmo percurso permitia ainda uma extensão até à praia de Vidago ou manter aí o início e fim do trilho.
António Borges Regedor
A poucos kilómetros de Chaves, na estrada N 213 para Valpaços, há um trilho que combina vários traçados. A maior parte é feito por caminhos rurais. Atingir os passadiços que dão nome ao trilho implica, por um dos lados, descer uma encosta por um caminho a pé posto com a largura de uma só pessoa, escorregadio e onde toda a cautela é necessária. Os passadiços estão construídos junto à margem da Ribeira do Caneiro. Dada a dificuldade do terreno, os passadiços seriam mais úteis para vencer a pendente acentuada a caminho do rio. O ponto de interesse é agradável do ponto de vista do interesse patrimonial. É pena que os moinhos não estejam em melhor condição de conservação, dando a oportunidade de perceber como seria o seu funcionamento e até o percurso e funcionamento da levada que os fazia mover. A sinalização necessita ser conservada e rectificada nalguns pontos. Precisa de mais informação e sinalização. Este trilho confina com uma geira romana e esta nem tem informação, nem está sinalizada. Há um enorme potencial no trilho PR10 e no trilho da geira, mas necessitam de conservação, melhoria da informação e rectificação da sinalização. A ideia com que se fica é que depois de inaugurado foi abandonado.
António Borges Regedor
Vidago significa necessariamente a visita ao parque do Vidago Palace Hotel. Os jardins do Lago e a alameda que acompanha paralelamente o fairway do buraco um do campo de golfe. O trilho começa no jardim do Hotel com percurso circular terminando no mesmo local. Desenvolve-se subindo a encosta. Tem alguma dificuldade pela pendente, mas é curto (cerca de dois kilómetros) e muito bem sinalizado. A mata plantada em 1910 é obviamente o grande motivo e é de enorme impacto estético. O mesmo trilho confina com outro mais longo chamado do Gerêz, apesar do miradouro não permitir avistar tal região. É designado trilho das colinas.
António Borges Regedor
Tive oportunidade de fazer vários percursos pedestres. É uma forma de levar os visitantes ao conhecimento de aspectos interessantes das localidades que querem valorizar os seus territórios e com isso promover a economia local. Mas não basta criar uns percursos, fazer uns folhetos e colocar uns sinais. A permanente monitorização, conservação e melhoria é fundamental. Se assim não for, o investimento passa rapidamente a dinheiro gasto sem critério. Falta de sinalização ou má conservação da mesma, falta de informação. Se é para ter passadiços não conservados o melhor é não os fazer. Falta de limpeza e corte de infestantes. Passagem por locais de nenhum interesse e até desagradáveis ou grandes segmentos por estradas. Naturalmente os maus exemplos são comunicados, tal como os bons exemplos. E pelo que vejo falta em algumas autarquias e promotores de trilhos e passadiços pouca sensibilidade ambiental e muita gula de financiamentos que acabam sendo mal aplicados.
António Borges Regedor
Os trilhos para caminhadas em percursos de natureza para observação de ambiente natural, histórico, construído ou fauna e flora são uma prática antiga e inicialmente mais procurada em espaços classificados. Exemplo é o do Parque Nacional da Peneda-Gerêz onde desde jovem me iniciei nesta prática. Lembro os trilhos sobejamente conhecidos da Pedra Bela para os prados coveiros ou Teixeira, a Calcedónia, o trilho aos carris, no Lindoso ou do outro lado o de Pitões da Júnias ( mosteiro e cascata).
Muitos outros itinerários têm sido criados em formato de trilhos, ecovias ou passadiços. Alguns bem pensados, outros nem tanto e resultando mais de financiamentos externos que de genuíno interesse e conhecimento das autarquias ou instituições que os promovem.
Naturalmente se reconhece o valor que tal prática tem para a economia local. E a marcação de trilhos, ecovias e passadiços em locais bem determinados e ambientalmente integrados valoriza os locais e pode constituir o factor de desenvolvimento e viabilidade de uma comunidade .
Uma região de enorme potencial é o eixo Vila Real – Chaves que se estende até Verin. Entre outras razões por se tratar do eixo N2. A Estrada Nacional que liga pelo meio os extremos norte e sul do país. Por ser o eixo da “rota termal e da água” de Pedras Salgadas a Verin (Galiza). E ainda a ecopista do Corgo e Tâmega. Vila Real – Chaves - Verin. Com potencial de ligar desde a Régua. Está boa nalguns troços, mas noutros a precisar de manutenção e sinalização.
Os percursos pedestres são obviamente outro potencial a acrescentar a estas formas de turismo quer de passagem ou de permanência. E não basta aproveitar os financiamentos e fazer folhetos de percursos pedestres. Antes de mais é necessário que sejam objecto de forte interesse do património ambiental, histórico ou cultural.
António Borges Regedor
Toda a natureza está humanizada. O homem é o construtor da paisagem ambiental que conhecemos. A floresta foi sendo moldada pelo homem. O espaço ocupado pela agricultura, pecuária, alteração de espécies de fauna e flora. Com intervenção nas linhas de água e na paisagem que modificaram com os socalcos, as pastagens, as culturas. O que visitamos hoje na natureza é obra humana. O que vemos é o resultado da capacidade transformadora do homem. Da acomodação e adaptação do meio.
Mesmo o Parque Nacional ou os Parques e Reservas Naturais estão concebidos para o desenvolvimento humano, económico e social das populações que neles habitam. Paralelamente fazem parte de uma rede de protecção da natureza.
A natureza é isto. Uma natureza com o homem e moldada pelo homem. Toda a acção humana tem impacto na natureza. Ela é o resultado desse impacto.
Desde sempre o homem percorre a natureza. Por razões de assentamento demográfico, por razões de exploração mineira, agrícola ou pecuária. Também por comércio, transporte e peregrinação.
Modernamente os hábitos de lazer incluíram práticas de alpinismo e montanhismo. Trilhos insistentemente percorridos marcaram novas paisagens. E mais recentemente grupos de caminheiros popularizaram o contacto e passeios pedestres pela natureza. Deram até lugar a nova actividade económica.
Sou do tempo em que o caminhar pelas montanhas se fazia por orientação em carta militar e bússola. Com muita procura, e exploração, e uns aprendendo trilhos com outros mais experientes. O conhecimento dos trilhos ia passando de uns para outros e de exploração própria. Até que o negócio chegou a este campo do lazer.
Hoje muitas empresas se formaram para levar turistas a passear pela natureza. Muitos guias são remunerados para levar gentes por esses trilhos que só poucos conheciam. É o seu negócio turístico.
Entretanto comunidades isoladas, periféricas e economicamente mais vulneráveis reconheceram o potencial do território que os seus naturais construíram. A economia local faz-se com pessoas. E essas comunidades através dos passadiços acrescentam valor ao seu território. Atraem visitantes para o conhecimento da comunidade, da região, da paisagem, dos serviços e bens produzidos localmente e que dessa forma constituem a sobrevivência da comunidade.
Compreendo que possa tirar negócio às empresas que levam pessoas pelos trilhos. Mas o seu nicho de caminheiros mantém-se. Não têm de ser invejosos nem elitista exclusivos.
Afinal se os trilhos não estiverem marcados nem houver passadiços que ordenem e controlem os fluxos de visitantes da natureza, o negócio era apenas de uns quantos que ganhavam e não deixavam nenhum benefício para as economias locais. E é essa a verdadeira razão de tanta animosidade contra os passadiços.
Em vez da montanha ser apenas de alguns que possuem condição física e conhecimento dos trilhos, os passadiços são mais democráticos no acesso à montanha e sensibilizam mais para o valor da paisagem.
Os passadiços não impedem os caminheiros de continuar a percorrer os seus trilhos preferidos. Não impedem os montanhistas de continuar a fazer escaladas. O trilho não impede de quem quiser ficar apenas na praias fluvial, ou no parque de merendas onde se localizam ou nos parques de lazer onde os há.
Cada um deve poder usufruir da natureza segundo as suas possibilidades físicas e preferências estéticas.
António Borges Regedor
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