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Terça-feira, 17 de Agosto de 2021

Passos ousados ecoam nas bibliotecas

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Os avanços significativos dependem sempre de acções arrojadas. Neste campo o século XX é exemplar.  Até aí as políticas do livro não existiam, e a política para as bibliotecas remetia sempre para terceiros, no caso as autarquias, que não tinham interesse, conhecimento, vontade ou recursos. Daí terem falhado sempre.

Como digo, o século XX teve o primeiro momento de  ousadia. Foi protagonizado pela Fundação Calouste Gulbenkian que de forma corajosa, ousada, arrojada, enviou por todo o país carrinhas cheias de livros para emprestar sem restrições, sem medo, sem reserva. E não foi fácil vencer a iliteracia, a ignorância e o obscurantismo. Deixou semente, deu oportunidade a duas gerações terem contacto com o livro, com a leitura, a informação e o conhecimento. “Dois anos depois do início das emissões de televisão em Portugal, a 4 de Setembro de 1956, na Fundação Calouste Gulbenkian (doravante FCG), iniciava-se um novo serviço de educação” (Regedor, 2014  p.93)  

Essa ousadia de 1956 abriu caminho e possibilitou, trinta e um anos depois,  nova ousadia com sucesso. Foi o arrojado programa de Rede Nacional de Leitura Pública.  “Para a execução deste objetivo de política de leitura pública, através da Rede de Bibliotecas Municipais, o modelo é o do estabelecimento de contratos-programa entre a administração central e as autarquias,” (Regedor, 2014  p. 155).

É a coragem que agora se verifica na dotação de meios para novo impulso na Leitura Pública, com financiamentos para modernização tecnológica,  para digitalização, empréstimo de livros electrónicos,  tradução e apoio ao mercado livreiro. É destas ousadias que necessitamos. E também voltar exigir qualificação específica para o exercício de funções nas bibliotecas. Requalificar, dignificar, reconhecer os profissionais de Ciência da Informação e Documentação. Exigir que nas bibliotecas trabalham exclusivamente técnicos qualificados em Ciência da Informação e Documentação. E tal como nos Museus os dirigentes das equipas de biblioteca sejam Directores de Bibliotecas. O país (como existe em países avançados),  precisa da ousadia de ter uma Lei de Bibliotecas Públicas.

A Tese de Doutoramento de (Regedor, 2014)  indica que  “Os responsáveis políticos maioritariamente consideram vantajosa uma eventual lei de bibliotecas que incluía princípios normativos referentes ao orçamento, volume de fundos, recursos humanos, definição das competências do bibliotecário e perfil da figura do diretor da biblioteca. Do ponto de vista dos técnicos, a opinião maioritária defende a vantagem da existência de uma lei de bibliotecas que inclua normas sobre a institucionalização da figura do Diretor, mormente de este ser especialista em CID/BAD, orçamento, recursos humanos especializados, volume de fundos e renovação da coleção”. (Regedor, 2014   p. 231).  Muitos passos foram dados. Passos seguros, decididos, reflectidos e corajosos. Muitos mais serão dados com igual ponderação e ousadia. As bibliotecas serão cada vez mais uma realidade assumida pelas populações.  a leitura nas suas diversas formas será cada vez mais uma naturalidade nas diversas gerações. 

António Borges Regedor

publicado por antonio.regedor às 11:58
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