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A Revolução já tinha sido no início do século, também já longe ia guerra civil e o cerco do Porto. Aproximando-se o final de século a cidade abre-se para o divertimento e a cultura burguesa que o liberalismo legou.
Várias famílias da burguesia portuense sentem a necessidade de construir os seus espaços de produção cultural e a construção do Real Teatro de São João é um deles. É construído em 1794 em homenagem ao Príncipe D. João, futuro Rei D. João VI. O Arquitecto foi Vicente Mazzoneschi que o desenha numa configuração em ferradura idêntica aos teatro italianos e ao Teatro de S. Carlos em Lisboa. O Porto do final do século XIX precisava de lugares onde desse espaço à sua vivência liberal. A este teatro deslocava-se de espinho Manuel Laranjeira. Ia aí assistir à Ópera, ver amigos, socializar. Bem perto do Teatro e ainda na Praça da Batalha o Café Águia de Ouro era também mais um dos pontos de encontro, de tertúlias e confidências políticas, particulares e artísticas como refere Júlio Dinis em “Uma Família Inglesa”.
Esse teatro 1908 foi completamente destruído por um incêndio. A reconstrução iniciou-se em 1911 com um projecto do Arquitecto Marques da Silva. O mesmo Arquitecto da Estação de S. Bento, Monumento aos Heróis das Guerras Peninsulares, na Rotunda da Boavista no Porto, do Liceu Rodrigues de Freitas, da Casa de Serralves, entre outros.
A inauguração só se realizou em 1920. Foi adquirido pelo Estado em 1992 e sofre obras de restauro entre 1993 e 1995. Hoje é uma das belíssimas salas de teatro da cidade do Porto.
Antóno Borges Regedor
No café do Palácio do Bolhão, onde tem sede a Academia Contemporânea do Espectáculo (ACE) e o Teatro do Bolhão, aguardava, ao balcão, o café que tinha pedido. Uma pessoa ao meu lado reparou em mim, eu mais atento reconheci também feições de um rosto que já não via há 44 anos. Exactamente o tempo a que conheço o António Capelo há 44 anos. Desde 75 cruzei-me com ele algumas vezes. No salão dos bombeiros de Vila Real quando ele andou por Trás os Montes fazendo teatro. Na Casa do Infante quando eu aí trabalhava na extensão cultural do Arquivo Histórico e onde o Capelo representou “Piolhos e Actores”. Mais alguma outras vezes até agora que vi anunciado este espectáculo : “Vida do Grande D. Quixote” de António José da Silva (o Judeu). A peça é uma reescrita do próprio António Capelo do texto do António José da Silva que viveu no século XVIII. Escreveu para teatro que ensaiava e apresentava no Teatro do Bairro alto em Lisboa. Em sete anos apresentou oito óperas da sua autoria. A sua obra está reunida em quatro volumes no título: “Theatro comico portuguez” editada por Francisco Luiz Ameno em 1744 ( a Biblioteca Nacional regista a quarta impressão em 1759). Foi também editado por Simäo Thaddeo Ferreira em 1787.
A encenação de Kuniaki Ida traz-nos à memória o teatro dessa época barroca do século XVIII com acompanhamento musical, canto e efeitos especiais. O espectáculos começa em black-out, o que me agradou logo de início. (Não gosto de estar perante um cenário e ver entrar os actores). A dupla canto músico está bem conseguida e registo especialmente um momento alto do espectáculo com o desfile da trupe de saltimbancos em que está toda a companhia em palco. E claro, a representação excelente do António Capelo. O bom nível dos que o acompanham. Aprendi imenso com a oportunidade de ver esta peça de teatro.
Ainda uma nota final sobre a obra de António José da Silva. Registo as obras publicadas por Francisco Luiz Ameno nos quatro volumes:
1º volume: Vida de D. Quixote de la Mancha ; Esopaida, ou Vida de Esopo ; Os encantos de Medéa ; Amphitryão, ou Jupiter, e Alcmena / António José da Silva.
2º volume: Labyrintho de Creta ; Guerras do alecrim, e mangerona ; Variedades de Protheo ; Precipicio de Faetonte / António José da Silva.
3º volume: Adolonimodonia ; A ninfa Siringa ; Novos encantos de amor ; Adriano em Syria. - Lisboa : na Of. Patr. de Franc. Luiz Ameno, 1760.
4º volume: Filinto ; Encantos de Circe ; Semiramis ; Encantos de Merlim. - Lisboa : na Of. Patr. Franc. Luiz Ameno, 1761.
Foto: retirada da página do facebook de Teatro do Bolhão in https://www.facebook.com/teatrobolhao/
A criação, maravilhosa e tenebrosa, resultado da conversa, lógica e demente, entre deus e o diabo. Com a lua por testemunha. A mulher veio de seguida para foder a criação.
António Borges Regedor
PS. Foto de um momento da peça de teatro "Eis o Homem!" do grupo "Teatro da Palmilha Dentada".
Eles próprios confessam na sua cosmogonia: Primeiro era o silêncio. Depois fez-se luz. Mais tarde o mar abriu-se e Roma ardeu. As coisas precipitaram-se quando alguém inventou o clip. Mataram o pacifista e o próprio rei morreu. Um pouco mais tarde aparece o Teatro da Palmilha Dentada. (Eu digo que foi, uma coisa de verão, em 2001, mas eles confirmarão ou não).
Fui ontem ver a peça e fiquei agradavelmente surpreendido. Bem recebido, com muito boa interacção entre o público e os actores, mesmo antes da peça começar.
Não sei se Pilatos gostou de que pegassem na deixa, mas Nietzsche gosta, certamente. Afinal, ele próprio, filósofo dionisíaco, que afirma não pretender melhorar a humanidade, mas apenas desmascarar os esconderijos do ideal e gostar mais da realidade, gostar da vida para superar toda a negatividade da história.
A partir da próxima sexta-feira, dia 11, está em palco no Teatro do Bolhão “ A vida de Galileu” de Brecht com encenação do japonês Kuniaki Ida.
Estou com grande espectativa acerca desta peça por várais razões. Por se tratar de um teatro novo onde ainda não fui, mas que quero ter oportunidade de conhecer. Por se tratar, claro, de Brecht. Por conhecer de há muitos anos o António Capelo, que reconheço como excelente cidadão e actor. Era responsável pela extensão cultural quando ele aí apresentou “piolhos e actores”. Por conhecer o Manuel Resende, amigo de há décadas, o tradutor, que também conheço como excelente poeta. E também por Galileu e o peso histórico que carrega e que a todos nós se pede ajuda a mover a terra onde queremos viver melhor.
António Regedor
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