A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Na sequência da revolução industrial, a mecanização criou muita revolta. Entendia-se que as máquinas iriam substituir a mão de obra, e isso dispensaria o trabalho humano e promoveria o desemprego, a pobreza e a fome. Foram muitas as acções que de forma primária, pulsional, irreflectida, se lançaram a destruir máquinas. O Anarquismo como visão do mundo, construção ideológica e expressão política deu corpo a essa fase de contestação. Um misto de idealismo do homem bom, com um voluntarismo organizacional da sociedade enformava essa insatisfação com a vontade de mudar socialmente. Uma Arquê não suportada na moral, mas na ética.
A teorização da sociedade capitalista, de classe, produziu uma ideologia. O marxismo. A luta era agora comandada pela razão, contra a revolta espontânea, contra a religião. Já não contra as máquinas, mas contra o capital detentor das máquinas, os meios de produção. A raiz idealista herdada do método dialéctico Hegeliano fazia osmose com o materialismo social. Novo afastamento da moral religiosa por via do seu carácter estático cimentador do poder instituído, como é da sua génese. Afirma-se a ética da igualdade radical da cidadania, da mudança social pela superação individual. Uma ética do homem novo. Mais livre, mais solidário, mais igualitário. De alguma forma uma renovação dos valores da revolução francesa.
A percepção do fracasso do resultado prático dessa aplicação teórica da luta de classes, deixou um enorme espaço vazio de racionalidade e de ideologia. Uma certa desvalorização da racionalidade, da idealidade, da humanidade. Da liberdade foi um passo para o liberal. A liberdade inclui o outro como ser livre. O liberal interessa-se por ser livrar de incluir o outro. A igualdade resvalou facilmente para a concorrência. E a solidariedade passou a individualismo senão mesmo a egoismo. Este vazio da ética social, da Arethê traduzida como Excelência ou Virtude civilizacional, vai sendo ocupado pela religião como instrumento ideológico. E desta vez, não como revolta resultado de uma pulsão, não como luta ideológica de classe contra classe, mas do pensamento monolítico e da força bruta. Contra a razão e contra a vida. Contra a cidadania e contra a humanidade. Contra a compreensão e contra a diferença. Luta irracional e terrorista. É esta nova moral que produz os Daesh do islamismo, do judaísmo ou do cristianismo. Porque encontramos os mesmos fundamentalismos, os mesmos extremismos, as mesmas intolerâncias, as mesmas violências, em todas as expressões religiosas. Não por mau uso ou má interpretação, mas porque todas elas são por essência exclusivas, repulsivas das outras, ortodoxas no pensamento e irracionais na opinião
António Regedor
. Livros que falam de livro...
. Dança
. Rebooting Public Librarie...