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A relação do poder central durante o Estado Novo com a Fundação Calouste Gulbenkian, na criação de Bibliotecas Itinerantes, não aparentou ser conflituosa. Mas só na aparência, porque na realidade a polícia política teve sempre a acção das Bibliotecas Itinerantes sob vigilância.
“Na ausência de um plano de criação de bibliotecas de modo a constituir uma Rede de Leitura Pública por iniciativa do Estado, foi a Fundação Calouste Gulbenkian que, por sua livre iniciativa e vontade, definiu as prioridades estatutárias da rede que criou.” (Regedor, 2014 pag. 112).
“O regime político do Estado Novo foi muito restritivo, e ideologicamente orientador quanto à atividade bibliotecária, havendo produzido um índice dos livros recolhidos e disponíveis nas bibliotecas.” (Regedor, 2014 pag. 111).
“Na ausência de um plano de criação de bibliotecas de modo a constituir uma Rede de Leitura Pública por iniciativa do Estado, foi a Fundação Calouste Gulbenkian que, por sua livre iniciativa e vontade, definiu as prioridades estatutárias da rede que criou.” …
… Não obstante, o regime autoritário do Estado Novo não descura a vigilância sobre a iniciativa pioneira e arrojada da Fundação Calouste Gulbenkian, mormente no arranque do serviço de leitura de Bibliotecas Itinerantes. (Regedor, 2014 pag. 112).
“Compreende-se assim o aumento da vigilância e desconfiança dos serviços de censura do Estado Novo sobre as Bibliotecas Itinerantes da rede Gulbenkian. Foram múltiplas as perseguições e pressões exercidas sobre a direcção da Fundação Calouste Gulbenkian, para condicionar a atividade de divulgação do livro dos “encarregados das bibliotecas”, incluindo o seu despedimento.” (Regedor, 2014 pag. 114).
Regedor, António Borges - Bibliotecas, Informação, Cidadania. Políticas Bibliotecárias em Portugal. Séculos XIX-XX. Porto: Tese Doutoramento, 2014
http://hdl.handle.net/10284/4291
Texto de : Zélia Parreira
A primeira vez que participei num Encontro de Bibliotecários de Leitura Pública (e, infelizmente, um dos últimos que se realizou) foi em Ponte de Lima, em Outubro de 1998.
Já não sei descrever o que esperava, mas sei bem o que encontrei: um grupo de pessoas comprometidas com a profissão, e sobretudo com a missão que nos foi confiada, a de possibilitar o acesso livre e democrático a fontes de informação, cultura e lazer. Lembro-me que já nessa altura, imbuídos desse espírito missionário e de uma espécie de desejo de prestar um juramento, se discutiu bastante a criação de uma Ordem Profissional. Hoje, essa necessidade mantém-se, mas tornou-se mais inatingível do que nunca.
Atravessamos uma época em que o poder executivo do nosso país deixou de acreditar na importância das bibliotecas públicas e decidiu remetê-las à condição de organismos simples, dependentes de tutelas de âmbito mais reduzido, que as enquadram na sua escala de prioridades. E como sabemos, estas escalas de prioridades costumam passar por infra-estruturas de grande visibilidade que ignoram olimpicamente o trabalho diário e quotidiano, diria até “de formiguinha” que é desenvolvido por um bibliotecário de leitura pública na construção de um serviço de biblioteca.
A situação é ainda mais grave quando o nosso maior aliado, a única instituição que impunha condições mínimas de funcionamento, a única instituição que estava em condições de discutir, argumentar e exigir espaços, equipamentos e pessoal qualificado para a instalação de uma biblioteca, corre o risco de ser extinta. Mesmo agora, nesta fase em que ainda existe, a Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas encontra-se já ferida de morte, amputada da autoridade e legitimidade com que defendia os interesses da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas.
E nós, bibliotecários, falhámos. Não temos feito o suficiente. Não utilizámos todas as armas ao nosso alcance. Não lutámos e não defendemos a DGLB com o mesmo empenho, a mesma intransigência nos valores fundamentais, a mesma determinação com que esta sempre nos defendeu. Encolhemos os ombros, esperámos para ver. Deixámos de nos reunir, deixámos de ter tempo para nos encontrar, para discutirmos em conjunto o rumo da nossa profissão, para elevarmos constantemente o nível de exigência e rigor no nosso trabalho. Deixámos de ser Rede. Estamos, cada vez mais, orgulhosamente sós, nos nossos municípios, a organizar as nossas actividades, a catalogar os nossos livros, a inventar projectos diferentes, e esquecemos as vantagens e proveitos de um trabalho colaborativo e sobretudo, a força que conseguimos ter juntos.
Não podemos aceitar que um projecto com 25 anos, que sempre obteve resultados positivos, que conseguiu apoiar técnica e financeiramente 261 municípios e inaugurar 191 novos edifícios de bibliotecas municipais que cumprem os mais rigorosos requisitos internacionais, que constitui um dos poucos exemplos do “Portugal que deu certo”, sem casos obscuros nem derrapagens financeiras por explicar, que atravessou incólume as mudanças de cor política no Governo do País, seja agora ignorado, anulado e desprezado. Não podemos permitir que o trabalho desenvolvido com rigor e seriedade durante um quarto de século e que produziu resultados à vista de todos e comprovados por estudos nacionais e internacionais (lembram-se do PISA?) seja colocado em risco pela extinção do organismo que o enquadra e orienta.
Nas nossas mãos, bibliotecários, está a possibilidade de demonstrar em cada dia, com o nosso trabalho e as nossas palavras, que a existência de uma Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas activa e dinâmica é vital e imprescindível.
Publicado na seccão opinião de Noticias BAD de 6/4/2011
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