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Presumo estar certo ao considerar José Saramago um escritor essencialmente de alegorias. É o que acontece em “ a Caverna” que acabei de ler recentemente apesar da primeira edição ser já do ano 2000. Utilizando a alegoria da caverna, de Platão, vemos como José Saramago trata os centros comerciais como a caverna onde tudo é ilusão de felicidade, abundância. O que na realidade é como na caverna de Platão, uma ilusão, uma falsa imagem dada aos que aí dentro se movem.
Em Platão o homem libertava-se da ilusão que vivia na caverna saindo para a luz, a verdade, as ideias. Em “A Caverna” de Saramago verifica-se a saída do mundo real, para a entrada no mundo onírico, fantasioso da caverna. Um mundo que elimina a vida natural, destrói emprego e competências, anula pessoas e torna dependentes os que enreda na malha desse novo mundo.
António Borges Regedor
“Não tenho a certeza” diz Sócrates no Fédon de Platão. Esta aguda consciência da nossa ignorância é o fulcro do pensamento científico” Esta afirmação de (Rovelli, 2019) é permanentemente referida pela filosofia, pela ciência. E é agora mais uma vez repetida no seu livro “A realidade não é o que parece”. Edição em Lisboa da Contraponto em 2019.
E continua: “Só se tivermos bem presente que as nossas crenças poderiam estar erradas poderemos libertar-nos delas e aprender mais”.
Como também fundamentou Descartes, é mais uma vez (Rovelli, 2019) a afirmar que “se ninguém tivesse levantado dúvidas, estaríamos ainda a adorar o faraó e a pensar que a terra está assente sobre uma grande tartaruga”.
“As respostas da ciência são as melhores disponíveis no momento. E porque não as consideramos definitivas estamos sempre abertos a melhorá-las” ou dito de outra forma “É a consciência da nossa ignorância que dá à ciência a sua extraordinária fiabilidade” (Rovelli, 2019) .
E finalmente (Rovelli, 2019) afirma que: “ a busca do conhecimento não se nutre de certezas: nutre-se de uma radical falta de certezas. Isto significa não dar crédito a quem diz que tem a verdade na algibeira”
Este autor é um físico teórico. Professor Universitário. Dedica-se ao estudo da gravidade quântica, história e filosofia da ciência.
Mais um bom livro para olhar de modo diferente tudo o que a comunidade científica tem vindo a dizer e o que tem vindo a mudar ao longo do processo de conhecimento da actual pandemia.
Rovelli, Carlo - a realidade não é o que parece. Lisboa: Contraponto, 2019
António Borges Regedor
A dualidade ontológica em Platão é vulgarmente explicada através da alegoria da caverna. Aqui os seres estão agrilhoados à sua própria vida,( convicções, usos, costumes, crenças e materialidades) .É o mundo das sombras, ilusões, o mundo em que nos movemos, imperfeito.
Mas é fora da caverna, onde há luz, que se encontram as ideias, o mundo das ideias, o conhecimento, a razão, a verdade.
Platão resolve a dualidade ontológica com o Uno. Entidade a que faz igualmente corresponder o Bem e o Belo.
O que vulgarmente se vai designando de felicidade.
A Academia começa com as lições de Platão no Bosque Akadeomos. A essas lições acorriam vários discípulos, entre os quais Aristóteles que se manifestava irreverente face ao Mestre. “O dever de todo o discípulo é ultrapassar o seu Mestre” dizia Aristóteles. E assim deve ser, e assim se faz ciência. As conclusões de uns, são o ponto de partida para outros e também para o próprio. Face a uma ideia concebida, dessa mesma se deve duvidar. questionar e a partir dela inovar. Do ponto de vista pessoal é isto que nos faz processar, melholhar, renovar. Do ponto de vista social é assim que nos faz aclarar, esclarecer ou ainda reorganizar, renovar, reestruturar. Enfim, avançar tomando sempre novos horizontes, azimutes, proas. A nautica ensina-nos o modo mais elementar do ethos. O de que a linha que traçamos, por muito melhor que tenha sido calculada, sofre da circunstância do oikos ao longo do Kronos. Por bem que a linha tenha sido traçada, em nautica, os ventos e correntes fazem derivar a linha mapeada. A rota é desviada por efeito de deriva. Esta tem que ser permanentemente corrigida traçando novas proas, novas linhas de rumo ao longo do tempo. Inevitavelmente esses novos rumos sofrerão de novas derivas e estarão permanentemente a ser dorrigidos. . Assim é a vida. E essencialmente a ciência, de paradigma em paradigma, de lei em lei, relativizando cada uma delas ao seu objecto e objectivo. A vida, como a ciência é esta deambulação peripatética. Seja qual for o Pathos. O de Akadeomos ou o da entrada da nossa faculdade, da oficina, do condomínio ou o do forum de onde se alarga a cidade e se expressa a cidadania.
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