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Bons livros dão bons filmes. Talvez não tenham sido feitos filmes de todos os bons livros. Nos últimos tempos o livro não tem que ser uma excepcional obra literária, mas é seguramente um best-seller que passado ao cinema ganha ainda maior dimensão.
Há uma questão que se coloca a quem leu o livro e depois viu o filme. A diferença. Diferença da leitura. Cada leitor lê de modo diferente. Depois de escrito cada leitor faz um livro diferente. Normal que o filme seja também produto de uma leitura diferente e naturalmente um livro diferente. Outra diferença é o da extensão. Obviamente uma narração de noventa minutos não poderá ser tão extensa, ter tanta informação, tantos pormenores como a leitura por trinta , sessenta ou noventa dias. Tenho esse exemplo com o “Nome da Rosa” de Umberto Eco. O livro contem muito mais informação da idade média, nomeadamente na diversidade de correntes monásticas e no disputado terreiro da correcção teológica e filosófica. Aqui reside o elemento estruturante do livro e do filme consequentemente. As mortes são provocadas por perspectivas teológicas diferentes na apreciação das expressões filosóficas. No caso, o Riso em Aristóteles, que trata o tema no seu volume II da “Poética”. O filme pode não dar visibilidade a esta questão, mas é a grande questão que no livro é a causa das mortes. Por isso ler um livro é bem diferente de ver um filme. Independentemente da abstrair do facto de mediação que o filme constitui em relação à ideia original.
Reconheço no entanto que ver um filme que resulte de adaptação é uma possibilidade interessante no contexto da enorme oferta de lazer para além da leitura. Que o cinema, e agora na visualização de cinema em casa, constitui um meio que na classificação de Marshall McLuhan e mais quente, o que significa de menor esforço para o consumidor dessa plataforma de fornecimento de lazer. E há imensa escolha em formato filme e série. Desde os clássicos, até aos best-seller tipo “guerra dos tronos”.
Os bons livros continuarão a dar bons filmes e não será isso que nos privará da nostalgia da leitura em papel, do cheiro a tinta fresca, do tacto das fibras vegetais compactadas mecanicamente à espessura de oitenta gramas o metro quadrado.
António Borges regedor
Hoje é dia de passar pela biblioteca e voltar a ler “O Nome da Rosa” de Humberto Ecco.
Faz hoje três anos que morreu Humberto Ecco. Volta-me à memória o livro de enorme riqueza informativa sobre a idade média, a vida monástica, as várias correntes do clero regular, as suas diversas visões do mundo e interpretação das escrituras e a sua relação com os textos filosóficos da tradição Helenística. No final da Idade Média em que a ciência ainda oprimida se tenta libertar do pensamento religioso e afirmar o raciocínio lógico. Não se trata do simplismo entre o bem e o mal, mas entre logos e mito, razão e fé, ciência e religião, teologismo e humanismo. Tempo de lembrar o Ecco e voltar a lê-lo.
António Regedor
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