. O Império repete-se. A mo...
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De 21 para 22 de Janeiro de 1961 o paquete “Santa Maria” foi tomado de assalto.
A acção revolucionária, de nome de código “Operação Dulcineia” foi efectuada pela organização composta por portugueses e espanhóis denominada Directório Revolucionário Ibérico de Libertação (DRIL). Era chefiada pelo português Henrique Galvão e pelo espanhol Jorge de Soutomayor e composta por 24 exilados políticos portugueses e espanhóis.
A 24 de Janeiro Galvão lança o primeiro comunicado onde diz: : “Em nome da Junta Nacional Independente Libertação presidida General Humberto Delgado presidente também eleito República Portuguesa fraudulentamente privado seus direitos governo Salazar apresei ocupei com forças meu comando como primeira parte libertada do território nacional o navio “Santa Maria” depois breve combate pelas 1.45 a.m.” Pede reconhecimento político a todos os governos e povos livres do mundo e declara abertas as hostilidades contra “governo tirânico Salazar”.
O Navio é avistado apenas no dia seguinte, 25 de Janeiro, e passa a ser sobrevoado regularmente, sem qualquer sinal de hostilidade por americanos e ingleses.
Nos EUA, John F. Kennedy tomara posse como Presidente há cinco dias, a 20 de Janeiro de 1961.
A 1 de Fevereiro Jânio Quadros toma posse como Presidente do Brasil e garante asilo político a Galvão.
No dia seguinte, o paquete atraca no Recife. Os passageiros começaram a desembarcar.
Chegava ao fim o sequestro do ‘Santa Maria’.
Os sistemas políticos que se estabeleceram cerca dos anos 30 e que levaram à segunda guerra mundial foram quase todos mudados. Restava ainda o falangismo espanhol e o salazarismo português. Também desde a segunda guerra mundial a hegemonia política mundial passou para os estados unidos da américa.
Durante Portugal foi deixado à sorte do ditador Salazar por complacência e interesse dos dos EUA, como se pode verificar pela adesão de Portugal à NATO em 1949.
Segundo (Belo 2009) quando do desenvolvimento do seu processo de adesão à NATO, o Governo português colocou a questão das suas colónias, face aos estatutos da Aliança Atlântica. Os aliados responderam que as colónias portuguesas “não poderiam considerar-se dentro da área de segurança prevista pelo Tratado, o que já acontecia com as possessões de outros países membros, como a França e a Inglaterra” (Rodrigues 2008 cit. in Belo 2009).
Segundo (Garcia 2001 cit. in Belo 2009 )“no quadro da Aliança Atlântica (NATO), África era apenas considerada uma área útil para manobras (nesse sentido, os EUA vinham utilizando bases militares no continente africano, instaladas nomeadamente em países como a Libéria e a Costa do Marfim), apesar dos repetidos apelos para a inclusão deste continente nos planos de contingência ou no perímetro de defesa da Aliança”.
“Segundo a visão do estrategista general Abel Cabral Couto, para além dos Estados, das Organizações Internacionais e das Organizações Transnacionais, passaram também a ser considerados actores do Sistema Político Internacional, os Movimentos de Libertação Nacional.” (Belo 2009: 15).
Poucos dias antes, a 11 de Janeiro tinha havido uma sublevação na Baixa do Cassange de cariz laboral na área algodoeira de Malange.
Logo a seguir á tomada do Santa Maria, a 4 de Fevereiro militantes do MPLA fazem o assalto às prisões, Casa de Reclusão e Esquadra da PSP de Luanda.
A organização apoiada e financiada pelos EUA, a 15 de Março, iniciam horrendos massacres que se espalharam por todo o Norte de Angola.
John F. Kennedy, Jânio Quadros, a permanência num quadro ditatorial após a vaga democrática que seguiu à vitória dos aliados, as fraudes eleitorais do regime salazarista, a organização dos opositores, os movimentos de libertação colonial (inicialmente apoiados pelos EUA, outros pela Rússia no âmbito da guerra fria e mais tarde também com interferência da China), a ocupação do paquete Santa Maria, o início da luta armada nas colónias. Dois meses que abalaram Portugal. (Em Dezembro do mesmo ano, 1961, a India invade e ocupa Goa, Damão e Diu em três dias).
Bibliografia
Belo, José António Dias Mota (2009) - Santa Maria – O Paquete Rebelde (Operação Dulcineia – “O acontecimento que viveu para ser esquecido”) Lisboa, Janeiro de 2009. Dissertação submetida como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em História, Defesa e Relações Internacionais. ISCTE / ACADEMIA MILITAR
Couto, Abel Cabral (1988), Elementos de Estratégia – Vol. I, Lisboa, IAEM, 1988.
Francisco Proença Garcia,(2001) “Análise Global de uma Guerra. Moçambique 1964-1974”, p. 44.
Luís Nuno Rodrigues,(2008) “Salazar-Kennedy: a crise de uma aliança”, p. 23.
António Borges Regedor
Os Estados Unidos impuseram na NATO a despesa aplicada aos parceiros de 2% do PIB. Como todos os estados aliados da Nato usam armamento essencialmente americano. Estamos mesmo a ver quem beneficia com este imposto.
A propósito desta forma de cobrança de imposto a favor do império, refiro o livro “ A civilização Grega” de André Bonnard.
Na guerra contra a Pérsia, (Século V antes de cristo) as cidades gregas fizeram uma confederação com sede em Delos. No entanto, devido à maior força da sua frota de barcos, “Atenas gozava de privilégios particulares no seio da Confederação, devido à força única da sua frota. Tinha o comando das operações militares, donde resultava livre disposição das finanças”. (Como hoje é tão parecido). “...algumas das cidades aliadas, cujos barcos não eram do tipo moderno” forneciam uma contribuição em dinheiro. Só três cidades pagavam em barcos, as restantes pagavam em impostos. O resultado natural dessa supremacia foi Péricles transferir o tesouro da confederação para Atenas. E diz Bonnard “Em teoria, todos os aliados são cidades autónomas e têm direitos iguais, De facto, existe um desiquilibrio entre o poder de Atenas, senhora das operações militares e das finanças, e a fraqueza relativa das cidades aliadas.” (Bonnard: 1980, p.190) (mais uma vez o paralelismo com os dias de hoje). Quando se evidenciavam discórdias, as cidades discordantes eram subjugadas e tornadas súbditas. Atenas fixava o seu tributo anual. “Outras vêem os seus oligarcas expulsos e “democratizado” o governo”...”Instala em diversos lugares governos que lhe são dedicados.” (Bonnard: 1980, p.190) . ( sempre a repetição). É pelos tribunais de Atenas que são julgadas as desavenças de Atenas com os seus súbditos...”. “A Confederação de Delos tornou-se Império de Atenas” (Bonnard: 1980, p.191) .
Felizmente, tem mostrado a história ser ingrata aos impérios. Todos foram perecendo, como é já evidente com o actual império americano. Também este fenecerá, como é da história. Resta-nos a nós súbditos querer ou não erguer a cabeça. Para já, António Costa disse que não seria 2%, mas apenas 1,98%, e não apenas com o novo Fundo Europeu de Defesa, mas também com o futuro Horizonte Europa, destinado à inovação e investigação. E quanto a este último fundo europeu, repete-se a história. Os súbditos não constroem barcos, pagam tributo de cabeça baixa.
A civilização grega / André Bonnard. Lisboa : Edições 70. 1980.
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