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A Linha de Caminho de Ferro do Tâmega começava na estação de Livração-Marco de Canavezes na Linha do Douro. Seguia para Amarante, Celorico de Basto e ia até Arco de Baúlhe onde tinha a última estação. Isto já no concelho de Cabeceiras de Basto. Esta estação terminal de Arco de Baúlhe é hoje na sua totalidade um núcleo museológico dos caminhos de ferro portugueses. Foi inaugurada a 15 de Janeiro de 1949 e a linha foi encerrada a 1 de Janeiro de 1990. Foram quarenta e um anos de passageiros, mercadorias, correios, vida vivida de maquinistas, bagageiros, chefes de estação, água a correr para alimentar as caldeiras e carvão, muito carvão para dar vida a essa forma de ligar o território de Basto ao Rio Douro através de montes e vales, rasgando encostas e galgando rios.
A 8 de Janeiro de 2000, foi assinado um protocolo entre a Rede Ferroviária Nacional – REFER, E.P. e a Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto para a gestão e dinamização da Secção Museológica.
O conjunto inclui a Estação revestida com painéis azulejares, executados em 1940 por A. Lopes na Fábrica de Cerâmica Sant’Anna localizada em Lisboa. É um edifício de rés-do-chão e primeiro andar. A fachada ostenta no cimo e ao centro um belíssimo painel de azulejos com um escudo da nação e a inscrição: “Caminhos de Ferro do Estado”. A linha permanece no seu lugar de sempre. Para a travessia de uma plataforma a outra ainda lá estão as passadeiras constituídas por travessas de madeira. Pelo meio o balastro evidencia a passagem do tempo. As agulhas para os desvios de linhas e a plataforma giratória usada para inverter o sentido da marcha da locomotiva são outro motivo de memória. Ainda lá está a grua de abastecimento de água para as caldeiras das locomotivas e o torre depósito de água. O depósito de carvão consiste numa enorme caixa rectangular em paredes de granito. Na linha está uma composição constituída pelo furgão DEfv 506, uma carruagem fechada construída em 1908 pela «Dyle & Bacalan», em Lovaina na Bélgica. Destinava-se ao transporte de correio e despachos, que seguia acoplado a comboios de passageiros. O vagão EAKLMO 5937023 de caixa aberta para transporte de mercadorias foi construído entre 1909 e 1911 nas Oficinas do Barreiro. Há ainda o vagão-cisterna UHK 7012002 com a capacidade de 10 000 litros construído em 1926 pela empresa Van der Zypen & Charlier na Alemanha. A locomotiva MD 407 / N.º 8916, construída em 1908 na empresa «Henschel & Sohn» (Kassel, Alemanha), está numa cocheira onde também repousa a automotora a gasolina ME 5 construída em 1948, nas oficinas gerais da CP, em Santa Apolónia, Lisboa. Possui motor Chevrolet, a gasolina. O aspecto é o de uma habitual camioneta de passageiros em tudo idêntica às que víamos nas estradas. É ainda visitável a carruagem CEyf 453 construída em 1908 na empresa «La Métallurgique, Nivelles», na Bélgica. Destinava-se aos viajantes que seguiam em 3.ª classe. Uma carruagem de passageiros com entrada por uma plataforma com varandim e porta que dava para o interior da carruagem. Do varandim havia uma porta de grade que permitia a passagem entre carruagens. A plataforma com varandim tinha ainda duas portas que podiam fechar em andamento dando maior segurança. Os bancos em madeira da carruagem correspondiam às condições de viagem em 3ª classe que existia no tempo de Portugal salazarento. Um vagão de mercadorias com serviço “correio” que consistia num espaço com vários cacifos para separação dos destinos das cartas e um banco onde o empregado dos correios se sentava para cumprir essa tarefa enquanto o comboio circulava. Numa outra (garagem) cocheira segundo a designação da época, estão estacionadas mais duas carruagens, mobiladas e em excelente estado de conservação. Uma delas é a carruagem-salão SEfv 4001 (MD 1) construída em 1905, na empresa «Ateliers Germain», em Monceau sur Sambre, na Bélgica. Foi usada pela primeira vez na linha do Corgo pela Rainha D. Amélia de Orleães, em Junho de 1907, na sua visita às Termas de Pedras Salgadas. E a carruagem-salão SEyf 201 / N.º 1801 (CN 2) construída em 1906, na empresa Carl Weyer & C.ª, em Dusseldorf, na Alemanha, foi tal como a anterior usada pelo Rei D. Carlos na mesma viagem às Pedras Salgadas em 1907.
Ainda no edifício da Estação são conservadas peças, mobiliário, equipamento, utensílios e documentos. Há um exemplar de telefone de comunicação entre estações que era absolutamente necessário porque só podia haver um comboio na linha e o cruzamento só se podia fazer nas estações. Caixas dos bilhetes previamente impressos para os vários destinos e que eram vendidos em estação. Cacifos para despachos de mercadorias, já que cumulativamente ao transporte de passageiros seguiam no comboio carruagens de mercadorias e também correio como já foi referido. Bandeiras de sinalização que podiam ser verdes, amarelas ou vermelhas. Malas usadas pelos revisores. Exemplos de embalagens, caixas e malas de mercadorias despachadas. Há ainda balanças, obliteradoras, continentes para jornais e documentos. Cornetas para avisos sonoros, alicates de revisores fazem parte do acervo. Mapas horários, avisos e tantos outros pormenores que davam vida própria às estações de caminho de ferro de outros tempos que a memória não pode perder.
António Borges Regedor
Em Vila Real abriram há pouco tempo os percursos naturais do Corgo. São percursos praticamente dentro da cidade, mas num excelente ambiente de ruralidade, beira-rio, entre escarpas e várias cascatas. Vila Real já tinha um caminho pelas margens do rio Corgo que designa por percurso geológico do Corgo. Estes dois percursos estão agora unidos. Há agora uma rede coerente de percursos que ligam a cidade, o rio Corgo e se pode prolongar pela ecopista do Corgo (canal de caminho de ferro desactivado). Começando na Vila Velha (o primeiro núcleo urbano da cidade), pode visitar-se o museu de arqueologia e a partir de vários pontos desse promontório ter vistas excelentes do território. Daí o percurso desce ao rio. Aproveita ao máximo os caminhos de terra batida existentes com passadiços que ajudam a vencer melhor as pendentes e a travessia do rio quando necessário. Daí também se ter a oportunidade de usufruir do espaço das duas margens. O percurso pode ainda derivar por caminhos de ligação a vários pontos da cidade. Liga ao Percurso Geológico do Parque Corgo com ligação ao Parque Florestal, às piscinas, parque de campismo e áreas fluviais com diversos caminhos e relvados muito bem tratados. Este percurso segue até Abambres com uma entrada junto à Ponte da Timpeira. Aqui se quiser pode continuar pela ecopista do Corgo ( o canal de caminho de ferro até Chaves). Para voltar à ”Bila” pode fazê-lo brevemente pela ecopista até à estação de caminho de ferro (hoje desactivada). No final merece provar os “covilhetes” de carne ou as “cristas” e os “pitos” da doçaria conventual que ainda hoje a “Bila” se orgulha de preservar.
Notas:
“Vila Velha” Núcleo primitivo da ocupação deste território até ao século XIII. Com a doação do Foral por D. Dinis em 1289, a vila desenvolve-se para Norte, expandindo-se para lá do promontório inicial. Para que é hoje Vila Real sempre em crescimento.
“Bila” a designação por que os locais tratam carinhosamente e com orgulho a sua cidade.
“Covilhetes” é um produto tradicional local. É um pastel de forma redonda, com recheio de carne de vaca.
“Cristas” e “Pitos” são alguns dos produtos da doçaria tradicional de Vila Real que terá origem conventual (Convento de Santa Clara, também conhecido por Convento de Nossa Senhora do Amparo).
António Borges Regedor
A Biblioteca Museu foi um conceito de biblioteca que entrou em Portugal por via do iluminismo, um período de mudança de mentalidades. Um tempo de grandes transformações. As colecções de livros já não se circunscreviam apenas ás livrarias conventuais e monásticas. Desde os séculos XII e XIII que se vêm a constituir muitas bibliotecas privadas. É o tempo do desenvolvimento comercial e dos mesteres tão necessários à navegação marítima. Crescimento das cidades. E a necessidade de letrados para os registos, os contratos, as traduções necessárias ao desenvolvimento comercial e económico das cidades. Os letrados da época, designados por clérigos não eram já formados exclusivamente nos colégios episcopais. Formavam-se agora nas Universidades. Pagas pelos burgueses das cidades e pelos nobres que a elas acorriam. Chamavam até si Mestres, a quem pagavam para os ensinar, e com eles formar corporação e ter direitos próprios.
No século XVIII as reformas da Universidade de Coimbra e do ensino tendem ainda mais à secularização da educação. No plano científico verificamos a fundação da Real Academia de História (1720), a fundação do Real Colégio dos Nobres (1761), a formação da Imprensa Régia (1772), a lei relativa à organização do ensino primário (1772) e, finalmente, a fundação da Academia Real das Ciências (1779). Foi instituída a formação profissional dirigida a comerciantes e técnicos industriais, com a instituição da Aula de Comércio, em 1759, uma das primeiras na Europa.
As mudanças no pensamento, na ciência e educação acompanharam a mudança de conceito de Biblioteca, que irá passar gradualmente da esfera privada para a esfera pública. A Real Biblioteca Pública da Corte , em 1836, passará a ser Biblioteca Nacional de Lisboa.
Há duas figuras centrais neste desenvolvimento do conceito de biblioteca. Foram Frei Manuel do Cenáculo e António Ribeiro dos Santos .
Por volta de 1779 havia em Portugal duas mil quatrocentas e vinte (2420) bibliotecas particulares, das quais novecentas e trinta e cinco (935) pertenciam ao clero. (Guedes, 1987). Mais de duas centenas (221) eram bibliotecas de pessoas com formação jurídica, onde a preferência, para além dos livros de direito, incidia sobre monografias e obras de literatura, história e religião. Nas cento e vinte e seis (126) bibliotecas de médicos, além dos livros de natureza médica, os gostos estavam ordenados por literatura, religião e história, áreas disciplinares preferenciais ao tempo.
Tal como refere Pereira (2006), em finais do século XVIII, surge a ideia de criar em
Portugal uma biblioteca de carácter público na Corte. Ideia que provinha dos tempos de
Pombal e de Frei Manuel do Cenáculo. O acervo será constituído pelos livros da Real
Mesa Censória que Cenáculo enriqueceu e com a doação e incorporação de outros fundos.
Vaz (2006) faz salientar que no espírito de Frei Manuel do Cenáculo presidia
a ideia de que as bibliotecas só fariam sentido se abertas ao público, tendo-se insurgido
contra os coleccionadores que trancavam os livros.
Paralelamente, é importante referir que a imagem de biblioteca permanece associada a
museu. Nela encontramos outras espécies que não apenas os livros, como se nota na
descrição de Pereira (2006), ao referir a existência de medalhas, numa versão
correspondente à concepção de biblioteca partilhada por Cenáculo.
Segundo Brigola (2006) terão influenciado esta concepção de Biblioteca-Museu,
mormente o cardeal Ângelo Maria Querini (1680-1755), bispo de Brescia, fundador e
doador de uma Biblioteca-Museu (1750), com quem Cenáculo se encontrou em Roma(1750); assim como Tommaso Campanella, com a obra intitulada Civitas solis vel de republicae idea (A Cidade do Sol), publicada em 1602.
Durante ainda muito tempo foi-se mantendo a concepção de biblioteca-museu, paralelamente ao conceito de biblioteca pública considerada a servir um público erudito conforme aos ideais iluministas.
Poucos anos depois, com a revolução liberal, os conventos e mosteiros foram extintos e foi com os fundos das livrarias conventuais que se formaram as primeiras bibliotecas públicas em Portugal.
Odiernamente o conceito de biblioteca pública é radicalmente diferente. Mantem-se no entanto a necessidade da preservação dos fundos antigos patrimoniais em bibliotecas especificamente concebidas a esse fim.
Das bibliotecas-museu, não restam mais que estes espaços de memória. Deixaram de fazer sentido.
Bibliografia:
Brigola, João Carlos (2006) – “Frei Manuel do Cenáculo – Semeador de Bibliotecas e
de Museus. O conceito de Biblioteca-Museu na Museologia Setecentista”, in: Vaz,
Francisco A. Lourenço e Calixto, José António, Frei Manuel do Cenáculo, Construtor
de Bibliotecas, Casal de Cambra: Caleidoscópio, pp. 47-53.
Pereira, José Esteves (2006) – “Ribeiro dos Santos, Cenáculo e a criação da Real
Biblioteca Pública”, in: Vaz, Francisco A. Lourenço e Calixto, José António, Frei
Manuel do Cenáculo, Construtor de Bibliotecas, Casal de Cambra: Caleidoscópio, pp. 11-21.
Regedor, A. Borges Regedor (2014) - Bibliotecas, Informação e Cidadania. Políticas Bibliotecárias em Portugal. Séculos XIX-XX p. 43-49
Vaz, Francisco António Lourenço (2006) – “A Fundação da Biblioteca Pública de
Évora”, in: Vaz, Francisco A. Lourenço e Calixto, José António, Frei Manuel do
Cenáculo, Construtor de Bibliotecas, Casal de Cambra: Caleidoscópio, pp. 5-9.
António Borges Regedor
Em 1941 foi construído em Portugal, o primeiro navio de arrasto lateral. Construído nos estaleiros da Companhia União Fabril (CUF). Destinava-se à pesca do bacalhau. Mas logo em 1945 foi estabelecida a regulação dos recursos marinhos e controlo dos fundos do Atlântico, denominada Proclamação Truman. No ano seguinte realizou-se a Convenção Internacional de sobre pesca, em Londres. O primeiro organismo de gestão das pescarias do bacalhau do Atlântico, foi a Comissão Internacional das Pescarias do Noroeste Atlântico (ICNAF) criada em 1948. Nos dois anos seguintes era construído na Holanda o “Santo André” para a pesca do bacalhau nos bancos da Terra Nova.
Só em 1954 é que foi construído o primeiro navio de arrasto pela popa do mundo. Foi o “Fairtry” nos estaleiros de Aberdeen, na Escócia.
Mas o “Santo André” modernizava-se em 1961 com a instalação do parque de pesca coberto e de dois porões de congelados. Portugal estabelece uma Zona Económica Exclusiva de 200 Milhas em 1977 e a (ICNAF) dá lugar à North Atlantic Fisheries Organisations (NAFO).
Portugal adere em 1986 à CEE e passa a vigorar a Política comum de pesca. Bem depressa se chega à última campanha de arrastões laterais da frota portuguesa em 1991. Logo no ano seguinte o Canadá proíbe a pesca de bacalhau na Terra Nova e o “Santo André” é reconvertido em Navio-Museu.
Está hoje ancorado no Jardim Oudinot, na Gafanha da Nazaré, Município de Ílhavo. Era um navio moderno, com 71,40 metros de comprimento e porão para vinte mil quintais de peixe (1200 toneladas). No convés principal, ao centro do navio, estão instalados o guincho de manobra de redes, o sistema de roldanas, as patescas, as portas de arrasto e a rede, componentes essenciais na pesca. O guincho era manobrado por dois operadores e tinha capacidade para 25 toneladas. A fábrica de transformação de pescado tinha capacidade de processar 12 toneladas por dia.
Para ter uma ideia da máquina que fazia mover este navio, é de referir que o motor atingia a potência máxima de 1700 cv. Abastecia com 450 mil litros de gasóleo e gastava 250 litros hora. Atingia a velocidade máxima de 11 nós (cerca de 20Km/h).
Mas não só. Tinha uma caldeira para aquecer a água necessária ao aquecimento no navio, geradores a gasóleo para produzir a energia eléctrica, e um dessalinizador com capacidade de produzir 1500 litros de água potável, por dia.
Cerca de 57 pessoas viviam neste
Barco durante o período da faina. Capitão, imediato, piloto, enfermeiro, telegrafista com camarotes próprios e próximos. Cozinheiro, dois ajudantes e contramestre de salga em camarotes junto à cozinha. Chefe de máquinas, mais dois maquinistas, electricista e quatro ajudantes de maquinista com camarotes junto das máquinas. E finalmente camaratas para 40 homens.
Mas o melhor, é entrar no barco e imaginar-se na faina, com todos os barulhos, balanços e tarefas, apenas com o mar por horizonte.
António Regedor
Preservação e Promoção do Património Náutico
A CENÁRIO é uma associação que tem por objectivo a promoção da cultura náutica no território da Ria de Aveiro; o fomento da navegação essencialmente à vela em embarcações tradicionais; o desenvolvimento do estudo, preservação, restauro e construção de embarcações representativas a arte da Carpintaria Naval.
Está situada no Cais do Puxadouro, Válega, Ovar e constitui o Núcleo Museológico da Cenário instalado num antigo armazém de sal. Este cais foi em tempos muito movimentado, nomeadamente no transporte de caulino para a fábrica da Vista Alegre em Ílhavo.
No armazém a associação proporciona as condições de espaço e equipamento para o desenvolvimento da prática da carpintaria naval, e este é também o ponto de apoio à pratica da nautica de recreio que a associação promove.
António Regedor
Acabei de ler o livro: “Gestão da Informação em Museus: Um contributo para o seu estudo”. Os autores são meus conhecidos de há vários anos. A Paula Moura foi minha aluna de pós-graduação na Universidade Portucalense, e o Luís Borges Gouveia meu colega de docência em Ciência da Informação na Universidade Fernando Pessoa.
Foi uma leitura rápida, que prende a atenção. Informação útil e estruturada sobre as várias questões da gestão da informação em Museus.
Não poderia deixar de prestar atenção especial às referências feitas ás normas ISO 2788: 1986 que era matéria de estudo das minhas aulas de linguagens documentais, no estudo da linhas de orientação para o desenvolvimento de thesauri monolingues, e também ao programa SERVQUAL e à norma ISO 11620:1988 que era a dor de cabeça das minhas aulas de Análise e avaliação de unidades de informação na Universidade Fernando Pessoa.
António Regedor
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