. Portugal na 1ª Guerra. Ma...
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A triste sina das colónias portuguesas
A Revolução industrial criou novas necessidades em energia, matérias-primas e minérios aos países que se iam industrializando.
Foi isso que os fez olhar a África mesmo àqueles que não tinham aí tradição de presença.
Mesmo Portugal não tinha presença na ocupação do território africano. Apenas colonizava feitorias costeiras e pequenos territórios à volta delas. A ocupação do território era uma fantasia e o direito histórico da ocupação do território pouco ou nada consistente.
Para os finais do século XIX há muitos conflitos entre zonas de influência de cada país industrializado em África, o que se compreende pela necessidade de assegurar os territórios com as matérias-primas necessárias a cada um desses países.
Em 1870 Portugal sente a necessidade de alargamento para o interior dos territórios que colonizava. E essa tarefa vai ser realizada pela Sociedade de Geografia de Lisboa no intuito de travar o expansionismo Britânico do Cairo ao Cabo. E desenvolveu as acções recorrendo a subscrição pública destinada a estabelecer estações civilizadores nas colónias. Daí a a pretensão do mapa côr-de-rosa. O que fica deste episódio da subscrição pública é o fraco empenho da monarquia portuguesa na questão colonial. Também não será de admirar, já que se trata de uma casta política essencialmente terratenente que também não se empenha na industrialização. E é o baixo nível de industrialização que não a leva a monarquia portuguesa a olhar o interesse estratégico das colónias.
É em 1887 pouco antes da Conferência de Berlim convocada para dividir a África pelas potências industriais europeias que Portugal desenvolve as poucas iniciativas de expedição pelo interior das colónias, protagonizadas por Hermenegildo Capelo, Roberto Ivens e Serpa Pinto. E por aqui se ficam.
Obviamente que em 1884/1885 na Conferência de Berlim não é reconhecido o critério do direito histórico. Fica determinada a livre circulação dos rios. No caso de Portugal refere-se ao Congo, Zambeze, Rovuma. E Portugal perde a foz do Rio Congo, ficando apenas com Cabinda.
Ainda no ano de 1885 no ano da conferência Portugal negociou com a França e a Alemanha a delimitação das fronteiras dos territórios portugueses. Assinou com a frança em 1886 onde ainda apensou o mapa cor-de-rosa. Com a Alemanha foi em 1887 e também aí colocou o mapa cor-de-rosa. Também essas negociações explicam as fronteiras traçadas a linha recta com o Congo e com a Namíbia e também com a Zâmbia. De nada adiantou para os ingleses o mapa côr-de-rosa. Prevaleceu a vontade do mais forte. As fronteiras das colónias portuguesas eram resultado dessas negociações e da partilha colonial da África e não da herança deixada pelos feitos heróicos dos portugueses como dizia a propaganda salazarista no tempo da ditadura.
No início do século XX os Republicanos Portugueses alinhavam pela ideia dominante europeia do colonialismo. Na realidade, o colonialismo do século XIX e XX era a consequência lógica do processo de industrialização europeia e da necessidade de matérias primas que se obtinham essencialmente fora do continente europeu e nomeadamente na África ainda virgem das madeiras e carvão, dos minérios e culturas agrícolas.
Mas ao contrário de outros países europeus já na fileira industrial, Portugal tinha perdido muitos anos na guerra civil entre os monárquicos. Os liberais, que queriam o progresso da indústria, da ciência e a ascensão da burguesia urbana contra os conservadores, ligados ao rentismo da terra, à exploração dos “caseiros” e ao domínio da religião.
Dentro dos liberais ganhou a grande burguesia, ligada ao comércio internacional, aos monopólios à finança e cambismo e dependente dos ingleses. E a “Regeneração” e o “Fontismo” acentuaram a dependência à finança inglesa.
No início do século XX o Portugal permanecia, numa agricultura de subsistência, numa ruralidade demográfica, numa ignorância escolar, numa dominação religiosa. E na já referida dependência financeira do exterior e especialmente da Inglaterra.
A permanência na ruralidade e o atraso na industrialização não deixaram de colocar Portugal na repartição das colónias africanas feita na conferência de Berlim. E a dependência financeira à Inglaterra juntamente com a antiga aliança entre os dois países não deixaria de influenciar os acontecimentos da segunda década do século XX.
Não admira que na primeira guerra a opção portuguesa fosse apoiar os ingleses. Logo em 1914, no mês de Setembro foram enviadas tropas para Angola e Moçambique para defender as fronteiras contra os alemães. No ano seguinte, 1915, o Partido Democrático ganha a maioria absoluta para a Câmara dos Deputados e para o Senado. E a 6 de Agosto Bernardino Machado é eleito Presidente da República.
1916 é o ano em que os acontecimentos se precipitam para a guerra. Instigados pelos ingleses, Portugal, a 23 de Fevereiro, aprisiona os barcos Alemães atracados em portos nacionais, aprovando o Decreto 2229 de 24 Fevereiro com as assinaturas de Bernardino Machado, Afonso Costa e Norton de Matos.
Portugal quebra declaradamente a neutralidade. Manda regressar de Berlim o embaixador Sidónio Pais. Permitiu o trânsito de tropas inglesas por Moçambique, autorizou a utilização da Madeira como base inglesa e vendeu-lhe material de guerra.
Obviamente deu todos os argumentos para a Alemanha declarar guerra, o que aconteceu a 9 de Março de 1916.
A partir daí a consequência foi a participação com tropas.
A Julho, em Tancos foram formados trinta mil militares comandados por Norton de Matos. A França é autorizada a utilizar vinte e cinco baterias de artilharia portuguesas. E a 30 de Janeiro de 1917 embarcaram em três navios ingleses o Corpo Expedicionário Português comandado por Gomes da Costa, mas que ficou às ordens do comando inglês.
Portugal a quem a Alemanha declarou guerra directamente, não teve sequer capacidade de projecção de tropas e limitou-se a mandar canhões e homens para ser comandados por ingleses.
O desfecho é conhecido a par de internamente haver muita fome e muito descontentamento como o que ficou conhecido pela “revolta da batata”, e ser necessário a 12 de Julho colocar Lisboa em Estado de Sítio em resposta ao movimento grevista.
Pelo meio ainda aconteceu o milagre de Fátima.
António Borges Regedor
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