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Carlos Vale Ferraz, lançou em 1983 a ficção “Nó Cego”. Para mim, é a leitura deste autor, mas no sentido contrário do cronológico. Aqui dei conta em 4 de abril do ano passado, do seu mais recente romance “A Última Viúva de África (2017)”.
Este autor que também foi militar em Moçambique, coloca a acção em finais de 1969 no planalto dos Macondes, Mueda. Nome terrível para muitos portugueses. O jovem que “sentia a curiosidade dos gatos por tudo o que o rodeava e que desconhecia. De facto, jamais pensara em seguir a carreira militar.” p.28 Como tantos outros aqui estava, milicianos ou não, de arma na mão. Em pleno teatro de guerra. O nome do romance traz-me à memória a operação Nó Gordio no mesmo local. Ea história como na realidade começa antes com gente que queria ser diferente. O enfermeiro Cardoso queria ser pintor. Um dia “o professor foi levado mais uma vez para Caxias e o João Cardoso viu-se no meio da sala da mansarda, com tudo o que restava dos seus bens comuns desfeito e espalhado pelo soalho a seus pés”p. 45. É agora o enfermeiro da companhia.
“O clínico militar, um alferes miliciano mobilizado mal acabou a especialização...entrou na sala trazendo atrás de si o brigadeiro e o tenente-coronel que vinham em visita de inspecção.(...)Acendeu a luz amareladae deixou-se a fitr a cara do brigadeiro, a empalidecer enquanto observava o interior do cubículo negro. Apontou com o dedo musculado de cirurgião, sem uma termura: - Aquilo que está dentro daquele caixote, embrulhado no pano de tenda, era, ou é, já nem sei, o corpo dum daqueles a quem o senhor chama “soldadesca”.”p. 81.
“E ali estava ele só, o dólman do camuflado ainda sujo da viagem, sentado num monte de pedras como se carregasse o peso de todas as canseiras, apensar nela, a entender os poetas e a poesia – “essa pieguice”, como ela lhe dissera um dia, quando, deitados numa prais de areia fina no Algarve, ela lhe lera um poema”. p. 241
E entretanto, na cidade, longe das operações de cerco e assalto, o “Azevedo Melo tinha o programa previsto para o dia completo de cruzeiro no mar dos seus convidados, que passava por uma experiência de pesca ao corripo.” p. 258
E assim vai correndo a ficção do “Nó Cego” ou Nó Gordio, como preferirem, o desempate da guerra que não aparece, nem na ficção nem na realidade.
Abtónio Regedor
A escolha deste livro para ler em período de férias foi por sugestão do livreiro de uma das livrarias de rua. Pequena livraria, com poucos fundos, com falha de autores de referência de quem eu andava à procura. Mas foi boa a sugestão do livreiro. João Pinto Coelho mostrou-se hábil na construção de uma história de Polacos em que a guerra fez emergir as diferenças e ódios latentes entre si. Longe da história oficial de fazer dos Polacos as vítimas dos Soviéticos e dos Nazis durante a IIGM, o livre vem fazer-nos recordar que a sociedade Polaca tem rivalidades internas próprias. A escrita do papel dos Polacos na II Guerra tem manchas que os próprios fizeram. Já em tempos, quando li a história do Gueto de Varsóvia me tinha dado conta da acção dos “capos” de colaboração com os Nazis e de repressão dos seus próprios concidadãos. No auxílio que prestaram aos alemães na vigilância dos campos de concentração. Este livro de João Pinto Coelho desprende-se das versões mais ou menos politicamente correctas e apresenta a realidade mais desvelada quando a cobardia enlameia o colaborador. “a eles, pois! Aos israelitas, que desde o primeiro dia andavam em conluiu com os bolcheviques, viciados na perfídia e na denúncia, delatando cristãos, tomando-lhes os postos, assenhorando-se das migalhas que os russos lhes atiravam em troca.” p. 203. “Outrora inchados e soberbos, os cristãos pareciam tísicos, espavoridos;” “A cidade tresandava a comunistas, e isso bastava para os deixar naquele estado.” “Para grande irritação dos batizados, os judeus tornaram-se insolentes. Sem qualquer constrangimento, calcorreavam livremente a metade da cidade que não lhes pertencia, “ “Mas faziam pior: sem saberem o que inventar para bajular os russos, mostravam-se sempre servis, e usavam da perfídia para acusarem os cristãos.
Estes viam no gesto a mais nefanda das traições e, quando os seus começaram a partir enjaulados nos comboios, não pensaram duas vezes para saber quem culpar.” p. 223-224. Isto o narrador a falar, mas no discurso de um dos protagonistas do romance é dito: “ Shionka a querer proteger-me, a travar sem avisar, a empurrar-me, a esconder-me, a tapar-me a boca para ver se eles passam sem dar por mim. A princípio, julguei que eram só os russos, mas agora sei que há outros, conheço as suas vozes polacas, cresci cim elas.” p. 224.
Coelho, João Pinto – Os loucos da rua Mazur. Alfragide:Leya. 2017
António Borges Regedor
O virar de página sente-se cada vez mais com o digital. Durante muito tempo continuará convivência entre o livro digital com o livro físico. Pese, embora, cada vez a nossa leitura ser feita em digital. Leio muitos artigos científicos em formato digital. Guardo alguns livros em “pdf”. A minha tese de Doutoramento está online e é assim que é lida, como leio a dos meus colegas. Com a vantagem das contagens de download e citações feitas. No entanto, na ficção, mantenho o meu velho hábito de usar os vários sentidos com o livro. A visão das cores e atracção dos motivos de capa. O toque das folhas à passagem uma a uma, ou mesmo quando o tempo o tenta esconder com fina camada de pó que se sente na ponta dos dedos. O olfato que distingue o cheiro da tinta fresca ou a acidez instalada no papel mudado pelo tempo. O som do desfolhar corrido de trás para a frente na busca da ilustração, ou do virar de página.
António Borges Regedor
José Eduardo Agualusa continua a produzir imenso.
Está para breve, mais um livro.
“O paraíso e outros infernos “ é o próximo. Editado pela Quetzal.
Para início desta rubrica , aqui no blog, tive necessariamente por optar pelo tema das itinerantes. Elas fazem parte do imaginário da maioria da população que viveu o século XX em Portugal. Um ano depois do início das emissões de televisão, a Fundação Calouste Gulbenkian concorre com essa nova forma de ver o mundo e envia pelo país bibliotecas cheias de livros para leitura pública. Hoje com uma rede de bibliotecas municipais, os bibliobus são um prolongamento daquelas.
Inevitavelmente a entrevista teria de ser feita a um bibliotecário que dá o rosto pelos bibliobus. Nuno Miguel Cardoso Marçal. Conheci-o em Portalegre, apresentado por um ex-aluno e amigo Norberto Lopes.
Onde decorreu a tua formação em ciência da informação?
No Curso de Especialização em Ciências Documentais (variante Bibliotecas) na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias e ao volante da Bibliomóvel a percorrer estradas, terras e Pessoas de Proença-a-Nova.
Em 1998 estava a concluir a licenciatura em Sociologia e reflectia qual seria o futuro profissional que esse curso podia trazer no regresso a Castelo Branco. Resolvi apostar na especialização, num final de tarde sentado na esplanada da Faculdade reparei nuns folhetos de divulgação e entre eles estava o de Ciências Documentais. Não foi amor à primeira vista, mas ao longo destes anos aprendi a respeitar esta profissão e a amar tudo o que com ela está relacionada, principalmente neste campo das Bibliotecas Itinerantes.
Em 2006 houve uma reorganização funcional nos serviços da Biblioteca Municipal de Proença-a-Nova, simultaneamente o projecto da Bibliomóvel foi aprovado, financiado e concretizado. 26 de Junho de 2006 lá estava eu sentado ao volante de uma Biblioteca Itinerante(Bibliomóvel) a fazer aquela que seria a primeira de muitas andanças a ir,levar,estar e dar Biblioteca Pública sobre rodas.
Que outros serviços são prestados pela autarquia, aproveitando o bibliomóvel?
Sempre tive uma obsessão pela Utilidade da Biblioteca, creio que que está aqui a chave para a reconquista da relevância social e até da sua sobrevivência. Desde o início procurei trazer o máximo de funcionalidades e utilidades que pudessem abranger as mais diversas áreas, sempre com o intuito de ser mais útil, de fazer mais e tentar fazer melhor indo ao encontro das necessidades daqueles que todos os dias passam, entram e usam aquilo que somos, levamos e damos. Para além dos habituais e “normais” serviços prestados por qualquer Biblioteca, na Bibliomóvel possuímos também o Balcão Móvel do Município, onde se prestam alguns serviços relacionados com o preenchimento e entrega (via electrónica) de requerimentos e formulários disponíveis no Balcão Único do Município. Existe também a possibilidade de efectuar pagamentos e carregamentos de telemóvel com referencias multibanco, através de um ATM portátil.
Em 2017 iniciamos uma parceria com a Unidade Móvel de Saúde do Município, levando dentro da Bibliomóvel o seu técnico e com equipamento básico fazemos rastreios dos níveis de colesterol, glicemias e tensão arterial.
Achas ainda poder introduzir novos serviços? Tempo de comunicação com familiares tipo “skype” ?
Esse serviço esteve sempre presente quase desde o início deste projecto. Quando a internet foi instalada na Bibliomóvel, automaticamente ela foi usada por familiares para contactar com os seus que estão espalhados um pouco por toda a Europa, primeiro via chat e depois com a instalação de uma webcam juntamos as palavras com a imagem.
Hoje em dia com a proliferação de smartphones, a utilização deste meio de comunicação diminuiu no entanto como possuímos rede wi-fi, ela continua a ser usada para estabelecer contactos.
Mais que novos serviços pretendo consolidar os existentes, tentando sempre melhorando aquilo que já fazemos, prova disso é a instalação de um leitor de cartão do cidadão e a ajuda na criação e uso da Chave Móvel Digital.
A regressão demográfica não te preocupa?
Muito!
Nestes doze anos vi partir muita gente(demasiada), quer pela ordem natural da vida quer pela desordem desta realidade nacional que divide o nosso país entre um país de oportunidades e um outro onde o abandono, o envelhecimento da população são doenças, com curas anunciadas mas apenas com alguns paliativos receitados.
Quero e gosto de acreditar que podemos tentar fazer acontecer a diferença no quotidiano destas Pessoas e com esse espirito que todos os dias nos fazemos à estrada. Sou um optimista/realista e ainda tenho esperança num país mais equilibrado e igual no acesso a oportunidades de desenvolvimento sustentável. Ainda tenho esperança!
O CV do Nuno Marçal
Nome: Nuno Miguel Cardoso Marçal
Data de Nascimento: 20/09/1974 em Castelo Branco
2 – FORMAÇÃO ACADÉMICA
2001 – Curso de especialização em Ciências Documentais, variante de Bibliotecas concluída na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.
1999 – Licenciatura em Sociologia concluída, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.
3 – EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL
4 – PUBLICAÇÕES
5 – DISTINÇÕES/REFERÊNCIAS
Nota Biográfica
Nuno Marçal
Nasceu em Castelo Branco a 20 de Setembro de 1974.
É bibliotecário, por paixão na Biblioteca Municipal de Proença-a-Nova desde o ano 2002.
No ano de 2006 iniciou as funções de Bibliotecário-
Ambulante, onde tenta conciliar a Razão e a Paixão ao volante da Bibliomóvel, projecto itinerante de biblioteca, que se desloca pelas povoações das quatro freguesias do concelho de Proença-a-Nova com o intuito de divulgar o livro a leitura e sempre algo mais...
Editor do blogue: http://opapalagui.blogspot.com/ onde retrata e relata as andanças da Bibliomóvel por terras e gentes de Proença-a-Nova.
Portugal convidado de honra no México
Portugal é em novembro 2018 o Convidado de Honra na Feira Internacional do Livro de Guadalajara, o maior evento literário do mundo hispano-falante e que levará ao Estado mexicano de Jalisco as letras portuguesas.
Serão apoiados editores de todo o espaço latino-americano, que vão produzir um total de 56 publicações que formam a seguinte lista:
Esta dinâmica é possível através do programa especial de apoio à tradução, edição e reedição de obras de autores de língua portuguesa, promovido pela DGLAB (Ministério da Cultura) e pelo Camões, I.P.
. Rebooting Public Librarie...