. Mértola
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Tenho de Mértola boas memórias.
Desde logo porque sou interessado pela influência na Filosofia da cultura islâmica no período medieval (essencialmente no Al Andaluz durante os séculos VIII-XII). Época em que considero ter havido grande mudança cultural, científica e social causada pela influência islâmica do Al-Andaluz.
De referir que é deste período Medieval Islâmico que Mértola foi uma importante cidade. Foi mesmo a capital de uma Taifa. O correspondente a um reino.
Mértola mantém ainda muito das características físicas da cidade islâmica. A mais significativa referência islâmica é a Mesquita, actualmente utilizada como Igreja cristã. No respeito pela sua identidade é visível o mihrab. O nicho indicador da orientação da oração (Meca).
Mértola é também repositório do seu passado histórico anterior. Na foto vemos representados vários momentos civilizacionais que se vão agregando como lâminas cronológicas.
António Borges Regedor
Ibn Abdul Wahhab é um islâmico do século XVIII seguidor de ibn Taymiyya que viveu no século XII, que por sua vez foi beber na interpretação corânica de Amade Ibne Hambal nascido em 780. Sigamos então a diacronia.
Sigamos então a diacronia.
Amade ibne Maomé ibne Hambal abu Abdalá Chaibani, Nasceu no século VIII, em 780 em Bagdad e aí morreu em 855. Filho de um soldado, foi teólogo Sunita continuador de escolas jurídicas ortodoxas. Viajou pelo Iraque, Síria e Arábia recolhendo tradições do profeta. E esta é apenas a sua fundamentação para ser considerado fundador da escola Hambali de jurisprudência islâmica. Nenhuma fundamentação teórica, apens a recolha de tradições locais. Fica-lhe apenas como fundamentação uma visão textual e tradicionalista do Islão.
A segunda personagem desta corrente Wahhaabita é Taqi al-Din ibn Taymiyya. Foi também teólogo, nascido já no século XIII. Nasceu em Harran em 1263 e morreu em damasco em 1328. A sua vida foi influenciada pela queda do Califado Abássida que resultou na conquista de Bagdad pelos Mongóis. Explicava este infortúnio dos abássidas por castigo divino devido a práticas heréticas dos costumes. O habitual explicativo para teólogos que só conseguem fazer leituras literais do Corão. Este teólogo até achava mal a comemoração do aniversário de Maomé. O seu ortodoxismo influenciou o Salafismo.
Chegamos então ao século XVIII e a Muhammad Ibn Abdul Wahhab que nasceu no que é hoje a Arábia Saudita em 1703. Também filho e neto de juristas islâmicos na tradição da escola Hambali de ibn Hambal (século VIII). Andou por Medina e Basra no Iraque. De regresso a Uuanya, sua terra natal, onde tinha alguns seguidores escreveu a sua doutrina. O livro da unidade (de deus) “Kiãb al-tawhid”. Rejeita os intermediários e as interpretações e práticas populares. Afirma o retorno às origens, à lei islâmica tradicional.
A controvérsia da sua pregação ortodoxa e tradicionalista levou À sua expulsão da sua terra de origem. Foi então para Al-Diriyyah formar uma aliança com Muhammas ibn Saud o governante do Najd (actual Arábia Saudita) o pai da actual dinastia de Saud que domina hoje a Arábia Saudita.
A sua interpretação do islão deu corpo a um pacto religioso-político que conduziu à campanha de conquista e derrota das outras tribos que fazem hoje o Reino da Arábia Saudita.
Ainda hoje os herdeiros de ibn Al-Wahhab dominam as instituições religiosas da Arábia Saudita numa parceria perfeita de religião de estado num estado religioso islâmico do tipo mais extremista ortodoxo que se conhece.
É esta corrente do sunismo radical que alimenta os fundamentalismos mais extremistas do islão. Entre eles os grupos como a Al Qaeda e o Estado Islâmico.
É também com o financiamento da Arábia Saudita que alastram as mesquitas radicais por todo o mundo. Fazendo alastrar dessa maneira o islamismo violento e o mais cruel tratamento e opressão sobre as mulheres.
António Borges Regedor
Ao cidadão comum impressiona ver a mulher islâmica caminhar de véu, atrás do homem, carregando o estigma, a inferioridade, a submissão, a dependência e segregação de género, por vezes acompanhada das outras três em igual condição.
Não é que nós, os mais velhos, não tenhamos visto alguns destes aspectos em tempos mais recuados da nossa vivência, ou seja, até cerca dos anos sessenta do século passado. Mas a laicização da sociedade, a afirmação dos direitos humanos e da igualdade de género tornaram, ainda que lentamente, a vida das mulheres mais digna.
O feminismo como movimento social, também contribuiu para a mudança de mentalidade, de costumes e de respeito pelas mulheres. Também alguma influência do feminismo ocidental se fez sentir no mundo islâmico. Nomeadamente pela influência britânica no Egipto ainda no século XIX. A opressão da mulher islâmica é entendida no uso do véu, em ter de aceitar a poligamia, na reclusão da mulher, na submissão enquanto esposa e na diferenciação dos papeis de género.
As concepções feministas ocidentais tiveram a simpatia de Huda Sharawi, que fundou a União Feminista do Egíto, e em Duriyya Shafiq , que foi fundadora da União das Filhas do Nilo.
Apesar de querer o acesso à profissão das mulheres islâmicas, Huda Sharawi afirmava não pretender mudar a sharia.
Já Zainab al-Ghazali, fazia parte da Irmandade Muçulmana, e apesar de alguma influência ocidental, nunca admitiu contradizer a religião. Entendia apenas que a mulher também deveria ocupar espaço no plano público e político, mas devia fazê-lo no contexto do corão e da sunnah dando prioridade ao seu papel de mãe e esposa. Zaibab nunca colocou em questão a forma como o islão trata a mulher.
Zainab em 1917 fez inicialmente parte da União Feminista do Egipto, para logo de seguida, e em ruptura, criar a associação da Mulher Muçulmana. A sua influência religiosa é a de um exegeta corânico e teórico do Islão político chamado Said Qutb. Esta figura é também ideólogo da Irmandade Muçulmana do Egipto. Foi influenciador da Revolução Iraniana de 1979 e da Al-Qaeda. Politicamente Zainab foi activista da Irmandade Muçulmana.
Para Zainab a mulher era fundamental para a criação de uma sociedade islâmica forte. Como mães e professoras deviam ser íntegras e religiosas. Deviam conhecer o corão, a sunnah, a política e a geografia mundial.
O feminismo hoje em dia é mais diversificado. Há exemplos de protestos feministas em mesquitas dos EUA contra a divisão dos sexos na oração. Há também o movimento Musawah de acabar com a poligamia no islão.
No fundamental as várias tentativas de melhor exprimir os pontos de vista da mulher no islão, estão sistematicamente inquinadas pelo peso do corão, da sharia e da sunnah na estrutura cultural, da mulher muçulmana.
No geral a consciência do respeito pela mulher, pela igualdade de direitos e contra os preceitos segregacionistas, de clausura da mulher e da sua menorização é muito fraco no mundo islâmico.
Ninguém espere que os homens islâmicos um dia acordem de boa consciência para estabelecer a igualdade e respeito entre homem e mulher. Os homens do islão serão sempre barreira, mas há ainda outra barreira. A das próprias mulheres incapazes de aspirar à sua identidade ontológica. Essa é a principal barreira. A que está na cabeça das mulheres islâmicas.
António Borges Regedor
O vestuário é apenas a face visível de uma situação bem mais degradante da condição da mulher. O essencial da questão é a condição ontológica da mulher. A sua consideração de "ser" ("ontos") inferior, dependente, subordinada a uma autoridade masculina (pai, irmão, marido, tio, cunhado, primo). Sem vontade própria. Sem direitos pessoais, familiares e sociais. Sem direito a receber instrução e à escolha da profissão. Sujeita ao castigo arbitrário, psicológico e físico, que pode ser extremado até à morte. O seu estatuto social é inferiorizado aproximando-se do estatuto dos animais irracionais. (Ausência de direitos próprios. Só tem os direitos que lhe forem conferidos pelo homem de que depende (dono). E podendo ser castigada e morta como os animais). Esta questão da dignidade ontológica é que é fundamental. O resto são aspectos mais visíveis, importantes mas não essenciais. A crítica ao Islão não pode limitar-se ao aspecto folclórico do vestuário.
Ainda a Europa se encontrava numa época obscura, já o Médio Oriente vivia grandes civilizações e produzia grande pensamento. A civilização Persa. A riqueza cultural, técnica, científica e civilizacional da Babilónia. A civilização Fenícia que nos legou a escrita. O trânsito civilizacional que passou do Oriente através do Médio Oriente como a escrita numérica indiana que é conhecida por árabe, a pólvora ou o papel e até mesmo a impressão tabular. No Médio Oriente desenvolvem-se as religiões monoteístas ou expandem-se por essa região como aconteceu com o islão.
O Cristianismo desloca-se do Médio Oriente para Ocidente pela Síria e Turquia. Nestes países foram construídas e existem ainda algumas das igrejas mais antigas da cristandade. Uma dessas igrejas é a de Santa Sofia em Istambul, que já foi Constantinopla e antes Bizâncio. Sabemos que os edifícios de culto devem geralmente a sua existência a locais desde sempre destinados a esse fim. E que ao longo do tempo foram servindo os vários cultos que se iam sucedendo. Como também se iam sobrepondo os edifícios destinados a esses mesmos cultos.
São diversos os casos de lugares de culto que serviram já diferentes religiões. Igrejas transformadas em Mesquitas. Como foi o caso de Santa Sofia. Mesquitas transformadas em Igrejas com aconteceu em Sevilha, ou no nosso caso, como bem conhecemos em Mértola.
A catedral de Hagia Sophia foi construída no século VI. Quando a região estava no domínio do Império Romano do Oriente. A cidade chamava-se Constantinopla e era Cristã. A catedral situa-se à entrada do estreito de Bósforo. Foi convertida em mesquita no século XV e transformada em museu em 1934 por decisão do fundador da Turquia secular, Mustafa Kemal Ataturk.
Na idade contemporânea as sociedades civilizadas tendem a considerar mais o património de compreensão histórica. Sejam escritos objectos ou edifícios. É nesse sentido que edifícios como os referidos, que serviram fins religiosos, valem não apenas pela sua funcionalidade, mas também e essencialmente pelo testemunho histórico e compreensão do diacronismo civilizacional. É essa a razão porque se recuperam edifícios que serviram a função de antigas sinagogas, mesquitas e igrejas. E se preservam como museus. E porque não se destroem, não se deturpam nem usam para novas funcionalidades.
Obviamente que há um limite de bom senso e de necessidade na determinação de imobilidade funcional de edifícios históricos. Não é útil nem sensato recusar novas funcionalidades. Não se pode tornar museu todos os edifícios que deixaram as suas funções iniciais, mas é importantes que alguns dos mais significativos sejam museus.
Conhecemos muitos edifícios que foram igrejas, mosteiros, castelos, palácios, armazéns, e que passaram a ser escolas , quartéis, hospitais, bibliotecas, hotéis. Outros devem ser preservados na sua original funcionalidade para compreensão do contexto histórico, social, económico. A História também precisa de exemplos. É o caso da Hagia Sophia construída no século VI, ainda não existia o islão. Com tantas mesquitas em Istambul, e até mais importantes como é o caso da Mesquita Azul, a antiga igreja merecia a preservação que o regime laico do fundador da Turquia moderna, Mustafa Kemal Ataturk, lhes quis facultar em 1934. Da mesma forma gostaria de ver a mesquita de Mértola no seu aspecto original, para melhor compreender e sentir toda a ambiência cultural que é a vila com mais representação dos vestígios da cultura islâmica em Portugal.
António Borges Regedor
Bagdad foi o maior centro de investigação científica no sec. IX
Até ao sec. XII O Islão foi líder na investigação científica.
Em 2002 O Relatório da ONU indicava que em todo o Mundo Árabe foram traduzidos cerca de 330 livros num ano. Um quinto dos traduzidos na Grécia.
Enquanto a Europa esteve submetida ao pensamento unitário do Cristianismo e os apologetas cristãos diziam que “a Filosofia era a mãe de todas as heresias”, segundo Tertuliano, davam espaço para o mundo oriental, Persa e Árabe, acolher, ler, traduzir a cultura e conhecimento helénico e a partir daí e de outras fontes desenvolver a filosofia, a ciência, a medicina. Foram os Árabes já Islamizados que fizeram chegar à Europa os algarismos e com eles o zero. Deram a conhecer e venderam em exclusivo durante muito tempo o papel que trouxeram do oriente( Bagdad chegou a ser o maior mercado mundial de papel)
O declínio só pode ser explicado com os mecanismos ditatoriais do pensamento único imposto pela religião.
A ciência explica a religião. A religião não explica a ciência.
A laicidade dá oportunidade ao conhecimento. A religião impõe a ignorância.
O conhecimento está na pluralidade dos livros. A ignorância no livro único.
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