A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Deixa-me ver se ainda me lembro alguma coisa de Tertuliano.
Quintus Septimius Florens Tertullianus. Este cidadão romano nasceu no norte de África, em Cartago, viveu entre cerca de 160 e 220.
É um apologeta cristão que afirma a filosofia como mãe de todas as heresias.
O tema da heresia é , à época, a principal disputa e preocupação dos diversos grupos de cristãos. Nestes primeiros tempos do cristianismo todos se revêm na figura de Cristo, mas a dispersão dos grupos e os relatos e escritos a que têm acesso são diversos, variados e o corpo teórico e teológico ainda não está naturalmente consolidado. Naturalmente há muitas diferenças, interpretações a acusações mútuas de heresia. Nessa construção doutrinária há “os livros universalmente considerados sagrados, como os evangelhos de Lucas, Mateus, Marcos e João, que são lidos na liturgia; os livros que não reúnem o consenso universal, mas que são lidos , como o apocalípse de Pedro; outros... e finalmente os textos a rejeitar porque são heréticos, como os de Basilides (século II) ou dos marcionistas.” Eco 2010 : 129. De referir que os marcionistas eram também cristãos, e que o próprio Tertuliano que abraçou teses designadas “ montanismo”, tinha esta corrente pontos de contacto com o “marcionismo”.
Estávamos ainda longe do ano de 360 em que se realiza o Sínodo de Laodiceia que no artigo 59 proíbe a leitura de textos não canónicos nas igrejas. A lista dos 27 livros do novo testamento é confirmada no “Sínodo de Hipona (393) e no Sínodo de Cartago (397)” Eco, 2010: 129 . Curiosamente numa das primeiras listas index de livros a não incluir nos canónicos “são também enumeradas as obras de Tertuliano” Eco 2010: 130
Tertuliano é um crítico do Estoicismo, que como sabemos enforma o pensamento do Estado Romano clássico e que segundo Manzanera foi com o estoicismo que “la filosofia se convertió en religión” (Manzanera Salavert 2011: 37)
Há ainda outros aspectos do pensamento de Tertúliano, nomeadamente a questão Mariológica, mas que poderá ficar para outra vez.
Eco, Humberto- Idade Média: Bárbaros, Cristãos e Muçulmanos. Alfragide: D. Quixote. 2010
Manzanera Salavert , Miguel – El Periplo de la Razón: El racionalismo Musulman en la Edad Media. Sevilla: Fénix Editora. 2011.
Para dar abertura à notícia cultural: “A biblioteca dos livros proibidos”, publicado a 02.07.2017 às 16h30. No jornal expresso, as palavras de Valdemar Cruz são: “diz-se estar na posse da biblioteca do Palácio de Mafra a maior coleção de livros proibidos pela Inquisição”.
A notícia cultural, nada tem a ver com a Biblioteca do Convento de Mafra, mas sim com uma instalação feita com livros em algum momento proibidos.
Acontece que a colecção da biblioteca do convento de Mafra não era o depósito das obras proibidas em Portugal (apenas estava autorizada, por bula Papal de 1754, a incluir no seu acervo livros proibidos pelo index) e é de duvidar que o número de exemplares de obras inscritas no index seja superior a muitas outras instituições no estrangeiro e até em Portugal.
Obviamente que a maior colecção de livros censurados estará certamente no Arquivo Secreto do Vaticano. Já que era a igreja católica de Roma a analisar e a decidir se o livro tinha as autorizações para publicação ou passava a figurar no index.
No caso de o autor só se referir a Portugal, há também a dizer que a biblioteca da Real Mesa Censória criada em 1768 (o mosteiro de Mafra apenas iniciou a sua construção em 1717 e a basílica consagrada em 1730) visou transferir da igreja para o controlo directo do Estado a censura de todas as publicações em matéria religiosa, política e civil. Será de inferir que é esta colecção a mais extensa em matéria de livros proibidos, já que os analisava a todos. Esta colecção seria integrada na actual Biblioteca Nacional.
António Regedor
Fonte: http://expresso.sapo.pt/cultura/2017-07-02-A-biblioteca-dos-livros-proibidos
“A verdade é que ali estava naquela manhã, na biblioteca da Real Academia Espanhola – ocupo o cadeirão da letra T há doze anos - , parado diante da obra que compendiava a maior aventura intelectual do século XVIII: o triunfo da razão e do progresso sobre as forçs obscuras do mundo então conhecido. Uma exposição sistemática em 72 000 artigos, 16 500 páginas e 17 milhões de palavras que continha as ideias mais revolucionárias do seu tempo, que chegou a ser condenada pela Igreja católica e cujos autores e editores se viram ameaçados com a prisão e a morte. Interroguei-me como é que aquela obra, que durante tanto tempo estivera no Índiced de livros proibidos, tinha chegado ali. ... Estendi as mãos, peguei num deles e abri-o na folha de rosto: Encyclopédie, ou dictionnaire raisonné rdes sciences, des arts et des métiers, par une societé de gens de lettres. Tome premier. MDCCLI. Avec approbation et privilege du roy.” (p.12)
Pérez-Reverte, Arturo – Homens Bons. Alfragide: Asa, 2016
. Livros que falam de livro...
. Dança
. Rebooting Public Librarie...