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Quinta-feira, 13 de Outubro de 2022

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AH.jpg 

Diogo Freitas do Amaral escreveu uma biografia de Afonso Henriques. Confesso que a base do meu conhecimento sobre o primeiro Rei de Portugal vem essencialmente  da bibliografia de José Mattoso.  A minha análise crítica leva-me a rejeitar as fantasias de Alexandre Herculano e a curiosidade levou-me a conhecer a perspectiva de Freitas do Amaral.

É interessante que nesta biografia está presenta a verificação dos factos pela lupa do jurista. Assim é  em assuntos como a determinação do encontro de Zamora (1143) foi um acto de vassalagem do rei Português ao seu primo também Afonso. E Freitas do Amaral afirma que de jure é sem dúvida vassalagem. Como já o tinha sido em Tuy em 1137.  E apesar de Freitas do Amaral condescender em descrever os mitos que em boa parte constituíram o ensino da história de Portugal no período da ditadura fascista, avisa do que se trata e delimita no texto. Assim fez quando à hipotética batalha de Ourique de que não se conhece o lugar onde decorreu e do pouco que se sabe, Freitas do Amaral tem o cuidado de colocar ponderadas dúvidas quanto ás fantasias de heroicidade e valentia que a tradição construiu ao longo dos tempos e com que monárquicos por ignorância, falta de rigor científico, má intenção ou construção ideológica teimam em mentir.

É um pequeno livro de duas centenas de páginas que merece a nossa leitura.

António Borges Regedor

publicado por antonio.regedor às 12:56
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Segunda-feira, 11 de Abril de 2022

Comboio Histórico

  

O comboio tem ainda um potencial valor na actividade turística.  Viagens de lazer, temáticas ou históricas são potenciadoras do uso do comboio. No caso específico das viagens históricas pode mesmo ser a forma de manter locomotivas, carruagens, percursos, mobiliário e equipamento de época. São viagens que permitem muito valor acrescentado.  A viagem num comboio histórico é um exercício de memória e  história.    

publicado por antonio.regedor às 16:32
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Quarta-feira, 22 de Setembro de 2021

O Castro de Wamba

castelo wamba.jpg

Findo o Império Romano, o território da Península Ibérica foi dando espaço aos Suevos e Visigodos. No Norte de Portugal, na região do Barroso, bem na linha da actual fronteira de Portugal-Espanha, no marco 229 aparece o nome Wamba associado a um Castro.
O Castro de Wamba foi um povoado fortificado de planta rectangular e circular com duas cinturas de muralhas e um fosso escavado. O Castro regista ainda um santuário proto-histórico.
Wamba cujo nascimento terá sido cerca de 630 em lugar não conhecido e morre por altura do ano 688, foi rei Visigodo entre os anos 672 e 680 sucedendo ao rei Recesvinto. Wamba faria parte da aristocracia Visigoda. Terá sido eleito a 1 de Setembro de 672 em Gertici ou Gérticos que mudou o nome para Wamba em sua honra e que se situaria onde hoje é Valladolid. Foi coroado em Toledo onde foi ungido pelo Bispo Quirico na Igreja de S. Pedro e S. Paulo a 20 de Setembro do mesmo ano. Foi o último rei do esplendor visigodo. Após a sua morte começa a decadência do reino.
O reinado foi também de lutas entre a nobreza entre si e contra a população local, nomeadamente revoltas de Asturianos e Vascos. Simultaneamente o campo cristão está dividido com o combate da obediência de Roma contra o Arianismo considerada heresia. O maior perigo é que nesse ano em que é eleito os berberes islâmicos do norte de África tentaram a invasão da península.
Em 675 Wamba convocou o XI Concílio de Toledo em que se tomaram medidas para corrigir os abusos e vícios dos eclesiásticos.
O fim do seu reinado terá sido organizado pelo bispo de Toledo que narcotizando Wamba o tonsuraram, vestiram-lhe um hábito de monge e obrigaram-no a renunciar. Terminou no Mosteiro dos Monjes Negros de San Vicente de Pampliega em Burgos. No século XIII o Rei Afonso X ordenou a sua trasladação para a Igreja de Santa Leocádia no alcázar de Toledo onde já estava o seu antecessor Recesvinto. Actualmente estão no ayuntamento de Pampliega.
Em Portugal há ainda uma referência a Wamba em Vila Velha de Ródão com uma torre denominada castelo de Wamba.
Chegamos ao Castro de Wamba, partindo de Chaves para a aldeia de Cambedo. Aqui, nesta localidade de grande significado histórico na luta contra o Franquismo e o Salazarismo toma-se o caminho da fronteira e pouco antes do marco 229 encontramos o que resta do Castro. Hoje não passa de um monte com os vestígios do que terá sido partes do povoado fortificado. O ostracismo a que foi votada a aldeia pode justificar também o esquecimento deste património a merecer recuperação, valorização e memória histórica. Nele se cruzam vários momentos históricos deste território: O Castro e o período cristão de vários conflitos simultâneos entre os povos ibéricos, os cristãos e os avanços islâmicos. O período medieval onde o território pertencia ao couto misto. E o combate de Cambedo entre as forças militares portuguesas e os últimos guerrilheiros republicanos anti-franquistas em território português. Muitas histórias se cruzam neste território

António Borges Regedor

publicado por antonio.regedor às 18:09
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Terça-feira, 24 de Agosto de 2021

Castelo Roqueiro de Aguiar

CASTELO aGUIAR.jpg

É difícil um outro castelo em ponto tão alto e em enorme cabeço rochoso. É impressionante e penosa a subida  a esta fortaleza natural onde foi edificado o  castelo. Mas no final, no cimo do castelo, na acrópole, a vista  é deslumbrante.

Hoje em dia a entrada no castelo faz-se pela “ porta da traição” e não pela entrada principal. Do que resta da muralha podemos imaginar as funcionalidades e os vários espaços. Na parte mais alta do castelo ainda se pode entrar numa estrutura coberta com lajes de granito que poderá ter sido uma cisterna.

Não se conhece a data da sua origem, mas sabe-se que teve função até ao século XVI.  a região terá ocupação desde a pré-história, mas é no período romano que é mais significativa com a exploração de ouro na região e concretamente nas minas a céu aberto de “Tresminas”.

O castelo tem já existência no tempo da independência de Portugal, testemunhado pelo cerco por tropas leonesas dado o seu tenente ser fiel a D. Afonso Henriques.

A freguesia onde se localiza é Telões que recebeu foral de D. Afonso III em 1255. O Concelho foi integrado no Foral de  Aguiar da Pena em 1515.

Está na Rota da EN2 e tal como “Tresminas” é imperdível a visita a estes dois lugares.


António Borges Regedor



 

 

publicado por antonio.regedor às 14:02
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Quarta-feira, 18 de Agosto de 2021

Castelo de Lapela

torre.jpg

A  independência de Portugal foi muito difícil de conseguir. Levou vários anos até que a entidade de reconhecimento à época, O Papado, reconhecesse Afonso como rei de Portugal. Apesar de sua mãe sempre o pretender e se equiparar e rivalizar com sua irmã Urraca. O mesmo com Afonso Henriques e a permanente rivalidade com o seu primo Afonso VII, rei da Galiza desde 1111, de Leão 1126 e de Castela e Toledo desde 1127. Perante o crescendo de importância do seu primo rival será compreensível a preocupação de Afonso de Portugal que apenas Conde, pretende ser rei e isso implica preparar as defesas do reino pretendido.

O seu pai morre em 1112 e a disputa do Condado com a sua mãe dá-se em 1128 no episódio de São Mamede. Dois anos depois, em 1130, decide  dotar Lapela de uma fortificação encarregando Lourenço Gonçalves de Abreu de a erguer e de ser o seu primeiro Alcaide-Mor. Este fidalgo, próximo de Afonso Henriques, era já senhor do Couto de Merufe, de Lapela e outros lugares.  

A torre que é o que resta da fortificação, foi construída muito mais tarde. Apenas entre 1367-1383.  É de secção quadrada com 10 metros de lado e paredes com três metros de espessura. Eleva-se a 35 metros e só permite a entrada por uma porta, à altura de seis metros, aberta na parede norte.  

No reinado de D. Manuel (1495-1521) beneficia de reforço da estrutura.

Após a restauração da independência a  importância militar do castelo medieval da Lapela  vai perder a favor da fortificação de Monção, para onde é levada pedra do castelo da Lapela, o que acarreta o seu desmantelamento, em 1706, no reinado de D. João V. Ficou apenas a Torre que hoje podemos ver e visitar. O que vemos é já produto das intervenções realizadas pela ditadura com alterações como a construção de ameias.

Em  2016, numa louvável iniciativa da Câmara Municipal de Monção, sofreu obras de beneficiação para ser núcleo museológico e comportar uma exposição referida à sua história cujos dados também contribuíram para a realização deste texto.

António Borges Regedor

 

 

publicado por antonio.regedor às 11:23
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Sexta-feira, 25 de Junho de 2021

Porto: ponto de encontro de história, arte e religião. Parte I – A Penaventosa. De Ernesto Vaz Ribeiro.

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O Porto tem mais um livro de divulgação. É da autoria de Ernesto Vaz Ribeiro e cobre uma área de conhecimento que não é habitual nos textos de divulgação da cidade.

Há várias publicações de história da cidade. Vários historiadores a ela se dedicaram. Nomes como Miguel Duarte, Oliveira ramos, Francisco Ribeiro da Silva  só para citar professores da universidade do Porto, mas há outros.

Ernesto Vaz Ribeiro, arrisca uma visão do Porto que não sendo muito comum.  Avança para além  da história com preciosa informação de arte e religião. A primeira surpresa é a apresentação do Porto a partir da informação geológica do local onde se iniciou o assentamento dos povos que vieram a dar início a este povoado e cidade. Faz referência aos vários povos que aqui se instalaram. Busca a origem do topónimo. E mais importante é o enquadramento social e cultural que à época proporciona o desenvolvimento da cidade e a íntima ligação com o despontar da importância do condado portucalense e a nacionalidade.

Ernesto Vaz Ribeiro coloca, e bem, a questão dos interesses religiosos de Braga contra Santiago.   A influência dos franceses de Borgonha, as suas ligações à poderosa abadia de Cluny. A colocação destes nas posições de liderança do Condado Portucalense.  O incómodo que será para a aristocracia portucalense, essencialmente a do norte do Douro.  A independência de Portugal resultado também da vontade da igreja local.

Colocado o enquadramento, o autor descreve de forma pormenorizada o povoado da Pena Ventosa, a evolução da cerca (ou cercas), a cividade e portas e espaços religiosos.  É nos espaços religiosos, e desde logo a Sé, que o livro nos concede enorme manancial de informação. Quer  do património construído, dos espaços de culto, da sua arquitectura, e pormenores artísticos.  Mas não se fica apenas por aí. É um excelente texto explicativo das várias ordens religiosas envolvidas nessas edificações religiosas e que fazem do livro tão singular na sua importância.

O livro de Ernesto Vaz Ribeiro dá razão ao título: “Porto: ponto de encontro de história, arte e religião. Parte I – A Penaventosa” A Editora é “Zéfiro” e a primeira edição é de Dezembro de 2010. Por comodidade o livro pode ser pedido  a zefiro@zefiro.pt. O meu chegou mais rápido que  pedido na livraria.

António Borges Regedor

publicado por antonio.regedor às 18:21
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Quinta-feira, 10 de Dezembro de 2020

Memória de Cartago

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De Cartago, naturalmente,  já só pude ver as ruínas e através delas imaginar uma cidade construída pelos fragmentos de história que ouvi, dos livros que li,  das imagens que vi  e do espaço que senti. Nos empedrados que percorri, senti as avenidas dessa cidade.

Uma das Avenidas percorridas junta-se ao mar naquilo que outrora fora um porto de abrigo para os barcos de mercadorias e de passageiros, tendo em conta que na antiguidade os caminhos mais seguros, mais confortáveis e mais rápidos eram os caminhos por mar.  Ao longo do empedrado, de um lado e do outro restos de muros e  colunas  deixando adivinhar as casas e as suas divisões, pátios, claustros, peristilos, fontes.  Mas também o que seriam edifícios públicos como balneários com os vários banhos e latrinas. E os espaços de diversão festa e cultura como o anfiteatro. Sentar-me naquelas bancadas do anfiteatro e saber que ali mesmo, séculos antes, outros ali se sentaram para assistir a teatro, poesia, canto e música. 

Foi logo a seguir à sua fundação, uma República duradoura, anterior ainda à de Roma e  talvez das mais longas da História.

Aristóteles refere-se a Cartago como sendo uma República de povo culto e com numerosas bibliotecas. 

 

António Borges Regedor

publicado por antonio.regedor às 13:25
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Quarta-feira, 11 de Novembro de 2020

A Arte de Bem Negociar

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João I filho ilegítimo nascido em Lisboa no ano de 1357, aclamado pelo povo sequência de uma conspiração que ficou conhecida por defenestração a 6 de Dezembro de 1383. Foi eleito rei nas cortes em em 1385.

No Porto, em 1387, casou com a neta do rei Eduardo III de Inglaterra que lhe reforçou a aliança com esse país. Em 1389 a negociou o 2º Tratado de Monção, que estabelecia tréguas e restituía por troca, terras conquistadas. Portugal cedia a Castela Salvaterra de Miño e Tuy, e recebia desta Mértola, Noudar e Olivença, no Alentejo, e Castelo Melhor, Castelo Mendo e Castelo Rodrigo, no Ribacoa. Em 1411 é assinado um Tratado de Paz com Castela.

Em 1415 para a conquista de Ceuta foi pregada uma bula do Papa de Pisa João XXIII, mas logo muda para o Papa de Roma Gregório XII. (Era o tempo do Grande Cisma da Igreja Cristã e chegou a haver três Papas em simultâneo).

Aliás, a empresa de Ceuta que abre caminho à exploração marítima foi executada com grande mestria diplomática e estratégica. Já no Tratado de Windsor havia uma Convenção Marítima anexa que dava a Portugal a segurança da navegação entre o Canal da Mancha e Gibraltar.Depois foi a anulação dos conflitos com Castela, reduzindo nessa frente a tensão e o perigo. E finalmente o modo sigiloso na preparação da  conquista de Ceuta . Em 1414   reune  em sigilo as Cortes em Torres Vedras para tratar de assuntos da conquista de Ceuta. A construção da Armada nos estaleiros de Miragaia no Porto. O embarque em Lisboa, foram operações de simulação do verdadeiro fim em vista,  a conquista de Ceuta.

Em 1420 nomeou o seu filho Henrique administrador da Ordem de Cristo.

A sua mestria negocial não se manifestou apenas na diplomacia externa, foi também na forma de governar com o apoio de Cortes que reuniu quase anualmente.

D. João I foi um verdadeiro mestre da negociação.

 

António Borges Regedor

 

publicado por antonio.regedor às 15:11
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Terça-feira, 20 de Outubro de 2020

Curiosidades da conquista de Ceuta

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A leitura do artigo de João Abel da Fonseca intitulado “A empresa de Ceuta – Dos antecedentes às circunstâncias que ditaram as causas próximas” permitem-nos compreender melhor a lógica, o sentido e o alcance imediato da conquista de Ceuta. (1)

Ceuta foi conquistada em 1415 no reinado de D. João I. Afirma João Abel da Fonseca num texto intitulado “A Empresa de Ceuta – Dos antecedentes as circunstâncias que ditaram as causas próximas” que tal fora possível por actos que a possibilitaram e que já vinham de D. Dinis. Logo no início deste reinado, em 1280, foi criada uma armada para a defesa da costa Algarvia sediada especialmente em Tavira. Por sua vez, D. João I assina, em 1386, com a Inglaterra o Tratado de Windsor e a Convenção Marítima anexa. Desta forma Portugal garante “numa articulação entre o Mediterrâneo e o Atlântico, encontrou novos limites – o meridional no estreito de Gibraltar e, mais tarde, o setentrional no canal da Mancha” (Fonseca, 2016, p.63).

Borges Macedo é da mesma opinião e refere que “Portugal, com esta aliança, ao lado da independência como estado,conservou a sua função europeia de garantir uma área essencial de tráfego internacional,livre das hegemonias peninsulares”. (Cronica da Tomada de Ceuta. Jorge Borges de Macedo, na sua História Diplomática Portuguesa – constantes e linhas de forca, precisamente, no capitulo intitulado “A defesa do equilíbrio”) (Macedo 2006, cit in Fonseca, 2016). (2)

Não é só Portugal interessado no Mar e nos territórios de África.

Já em 1260 Afonso X de Espanha tinha ordenado uma expedição marítima punitiva a Sale (Marrocos).

Em 1291 pelo tratado de Monteagudo e pelo Acordo de Soria a costa Magrebina era dividida ficando Espanha com os territórios a oriente de Ceuta e Portugal com os territórios a ocidente desta cidade.

Mas não se tratava apenas de garantir uma zona alargada de navegação segura. Outros países também tomavam iniciativas marítimas concorrenciais.

Algeciras foi tomada por Fernando IV de Leão e Castela.

Por seu lado o Sultão Abu al‑Rabi Sulayman, Rei de Marrocos, contratou mercenários aragoneses que conquistaram Ceuta ao Sultão Muhammad III de Granada e a entregaram ao Rei de Marrocos em 1309.

Uma expedição às canárias em 1341 é desencadeada conjuntamente por lusos-florentinos-genoveses.

Em 1400 Henrique III de Castela enviou uma esquadra que destruiu Tetuão

A igreja católica também exercia pressão para a tomada de posições aos mouros. D. Dinis foi incentivado a conquistar terras que ainda não tivessem diocese. D. Afonso IV recebeu indulgências para a conquista do reino de Fez. E para a conquista de Ceuta foi pregada uma bula do Papa em Pisa, João XXIII, apesar de no período de tempo entre 1410 e 1415 será o período do grande cisma na igreja católica e haver três papas em simultâneo. O já referido e ainda em Roma Gregório XII e em Avinhão Bento XIII.

Em todo este contexto impunha-se a conquista de Ceuta. A ideia de ir sobre Ceuta nascera, pelo menos, em 1409. (Fonseca, 2016). Em 1411 é assinado um Tratado de Paz que se seguiria a tréguas em vigor até 1413. Seguiu-se a reunião do Conselho secreto ou Cortes de Torres Vedras em 1414. Depois é já o que sobejamente conhecemos. A construção de cerca de metade da armada construída nos estaleiros de Miragaia que à época era uma enorme praia e onde hoje é o edifício da alfândega transformado em museu das comunicações. O episódio do abastecimento que atira para este facto o costume do consumo de tripas. O embarque das tropas em Lisboa. As escalas em Lagos e Faro e finalmente a tomada de Ceuta com cerca de 237 navios sendo de entre eles cerca de 88 naus.

Ainda segundo o autor referido a empresa de Ceuta teria como objectivos a afirmação do poder régio, a reconciliação nacional, a saída para a precária situação económica de alguns nobres e o controlo do comércio.





(1) FONSECA, João Abel da. – A empresa de Ceuta – Dos antecedentes às circunstâncias que ditaram as causas próximas. In João Abel da Fonseca, José dos Santos Maia e Luís Couto Soares (Cor) - Ceuta e a Expansão Portuguesa:Actas XIV Simpósio de História Marítima. Lisboa: Academia de Marinha, 2016.

(2) MACEDO, Jorge Borges de – História diplomática portuguesa: constantes e linhas de força. Estudo de Geopolítica. [Lisboa]: Instituto da Defesa Nacional, 2006.

 

publicado por antonio.regedor às 19:36
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Quarta-feira, 7 de Outubro de 2020

Luzes na escuridão

luznaescuridao.jpeg

Portugal nunca se tornou famoso pelo elevado índice de cultura, de alfabetização ou leitura. Tirando o momento histórico excepcional de actividade científica ligada à construção naval, navegação, astronomia, cartografia no período dos descobrimentos, o resto da história é cinzenta. Está no entanto pontilhada de casos singulares de excepcionalidade. Alguns deles como será o caso de D. Dinis o primeiro monarca a possuir uma biblioteca privada. Pedro Julião Rebolo que foi o Papa João XXI, mais dado à ciência que ao Papado. Luíz Vaz de Camões tanto dado às armas e aos amores como à cultura humanista. O iluminista Marquês de Pombal, que passa a considerar a Universidade de Coimbra uma instituição ‘pública’ numa linha de secularização do ensino. Frei Manuel do Cenáculo Villas Boas (1724-1814) que criou a Real Biblioteca Pública de onde deriva todo o edifício do sistema bibliotecário português. Egas Moniz, médico, Prémio Nobel. Saramago também Nobel entre outros. Vários pontos de luz numa realidade de base inculta, iletrada, dominada pelo ambiente religioso retrógrado, conservador da contra-reforma e cujo argumento para uma guerra civil foi a disputa entre liberalismo a absolutismo.

Em alguns momentos há luzes que se acendem na escuridão.

 

António Borges Regedor

publicado por antonio.regedor às 11:20
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