. Do caminho de ferro à eco...
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Em 1968 o país estava servido com 3592 Km de linhas de caminho de ferro para transporte de passageiros e mercadorias.
Nos anos oitenta o sistema ferroviário criou-se uma enorme frente de ataque contra o sistema ferroviário. O sistema ferroviário não era perfeito. Não estava completo. Não chegava a todas as capitais de Distrito. Mas tinha uma enorme cobertura do país. Havia capacidade instalada para produzir material circulante e conhecimento em matéria de manutenção. Precisava de investimento em melhoria da rede, electrificação, segurança, comodidade e rapidez. Precisava de mais e melhor material circulante. Precisava até de chegar mais longe.
Mas outros interesses se organizavam e se sobrepunham ao enorme potencial do serviço de caminho de ferro. O lóbi do betão, mais o das obras públicas, o do automóvel mais o do petróleo coordenados pelo enorme poder do capital financeiro tudo compraram. E os políticos foram os mais baratos nessa compra.
O investimento na rodovia foi feito com a destruição criminosa da ferrovia. Os argumentos da falta de rentabilidade, da falta de passageiros que na altura foram usados contra a ferrovia, foram anos mais tarde os mesmos argumentos que justificariam a manutenção, modernização, comodidade e rapidez da ferrovia. Apenas alguns exemplos: O encerramento da linha do Corgo com o argumento da falta de passageiros foi claramente contrariado anos depois quando a Universidade facultou a Vila Real um enorme crescimento demográfico e enorme crescimento pendular de estudantes e outros profissionais. Pode dizer-se o mesmo com a Universidade de Aveiro e os movimentos pendulares até Viseu que justificariam a linha do Vale do Vouga com a modernização e reconversão que fosse entendida como necessária. Passageiros e mercadorias não faltariam. Para dar um exemplo pela positiva, a Universidade na Covilhã, em Braga, em Guimarães pelo fluxo de passageiros bem que justificaram até a existência, e bem, de intercidades. Melhores linhas e melhores comboios trazem mais passageiros, mais rentabilidade, melhor serviço.
Mas o que aconteceu nas últimas três décadas foi o crime do lóbi da rodovia matar o comboio.
A Resolução de 19 de Fevereiro de 1988 de Cavaco Silva foi a sentença de morte do caminho de ferro. Dizia a resolução: “a modernização dos caminhos de ferro em Portugal não deve fazer-se no pressuposto de que os serviços produzidos e a configuração actual da rede serão uma constante para o futuro”. Dizia-se claramente que a configuração não seria a mesma no futuro. Na cabeça de Cavaco estava a destruição da ferrovia e da sua rede. E foi isso que aconteceu até com os subsídios do estado para a compra de camiões TIR para privados.
Só nestes anos mais recentes se está a salvar o pouco que não foi destruído, e a recuperar o atraso, com um custo elevadíssimo por falta de investimento durante as três décadas passadas.
António Borges Regedor
A partir dos anos 80 há duas décadas a reduzir linhas de caminho de ferro. De 3592 Km de ferrovia existente em 1968 ficaram muitos hiatos na lógica de rede existente até então. Os comboios, os equipamentos, os carris foram retirados, mas os canais permaneceram. Felizmente nesses canais abandonados para a ferrovia foi encontrada uma alternativa à sua utilização e que impede tanto quanto possível a sua maior degradação. Há ainda troços abandonados e maltratados, mas em contrapartida há canais que foram alvo de uma atenção cuidada e hoje são excelentes canais de lazer, de promoção de saúda através da actividade física ao ar livre e igualmente promotores das economias locais pelo público consumidor que levam aos locais servidos pelas ecopistas.
Hoje os canais das linhas desactivadas nas décadas de 80 e primeira década deste século foram felizmente transformadas em ecopistas. Em alguns troços estão bem tratadas, com bom piso, silalização, limpeza. Dou o exemplo dos troços da linha do Corgo nas partes que dependem da Câmara de Vila Pouca de Aguiar, ou do troço da Póvoa a Famalicão no que respeita a estas duas autarquias que cuidaram bem da ecopista.
O lamentável encerramento de linhas que hoje modernizadas teriam a sua rentabilidade no transporte de passageiros, de carga e também muito de turismo. Sendo que o vector do turismo é fortemente beneficiado pelas magnificas paisagens e locais onde esses canais correm. Não será preciso muito para ter noção do enorme potencial turístico e lazer em canais como o do Douro, Corgo, Tua, Tâmega, Vouga, Minho, Póvoa. No caso do Vouga até permite fazer a triangulação Aveiro- Sernada-Espinho e no da Póvoa permite fazer Porto-Famalicão em comboio, daí até à Povoa em ecopista e finalizar com o Metro de regresso ao Porto.
Perderam-se ligações importante por caminho de ferro, mas ao contrário do que é costume a CP e autarquias souberam aproveitar estes espaços para ecovias minimizando assim o impacto dos encerramentos de linhas de caminho de ferro.
António Borges Regedor
. Livros que falam de livro...
. Dança
. Rebooting Public Librarie...