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O Iluminismo, expressão científica da visão do mundo, corrigiu o modelo obscurantista. O Liberalismo, expressão da burguesia ascendente, alterou o modelo terra-tenente da aristocracia rentista. O Republicanismo, expressão da liberdade, igualdade e fraternidade mudou o estatuto de súbdito para o de cidadão. No pós segunda guerra as democracias, expressão do bem estar social, do estado previdência e intervenção do estado nos sectores estratégicos corrigiram o liberalismo. No final do século vinte o neoliberalismo destruiu a social democracia herdeira do período de paz. É agora perante uma pandemia que percebermos que é fundamental o sector estratégico da economia estar na mão do Estado (que somos nós todos), que é fundamental a saúde, o ensino, a defesa, segurança e comunicações e transportes serem do estado. Ou seja, serem de nós todos.
Porque claramente vemos a mentira dos liberais que queriam menos estado. Banqueiros, Industriais, Concessionárias de serviços públicos como auto-estradas por exemplo, com lucros privados por deterem serviços públicos, reclamam hoje pelo estado. Para esses vampiros liberais o estado é hoje o que fizeram dele: mínimo, pobre, sem poder de os ajudar. É caso para dizer a frase de que os liberais tanto gostam: É o mercado seus estúpidos.
António Borges Regedor
Vivemos mais uma época de pandemia. Parece ter começado na China. Um vírus identificado como COVID19. (SARS-CoV-2(COVID-19)
Nos primeiros meses deste ano de 2020 foram atingidos mais intensamente a China, Coreia do Sul, Irão e Itália. A Itália tem sido o maior foco de infecção na Europa, esta é agora um dos principais focos no mundo. Até Março 2020, Portugal tinha-se mantido afastado da pandemia. A partir deste mês Portugal tem tido uma progressão infecciosa na mesma linha da Europa. São já milhares de infectados na Europa e mais grave a morte de mais de uma centena de pessoas num só dia em Itália. Portugal, tem o seu primeiro falecimento hoje dia 16 de Março 2020, ao 14º dia de registo do vírus no país. Um cidadão com mais de 80 anos e outras patologias. É este o perfil dos mais vulneráveis a este vírus. São neste dia 331 infectados, dos quais 139 internados e 3 recuperados. Os números contrastam significativamente com os italianos, por exemplo, só num dia 345 mortos.
Portugal tem dois meses de atraso na evolução da infecção, mas apresenta a mesma linha de evolução. Está no comportamento cívico dos portugueses reduzir tanto quanto possível a curva ascendente que inevitavelmente acontecerá. Aprendendo com os outros e tomar medidas preventivas, essencialmente de isolamento social e cuidados de higiene.
Não havendo conhecimento científico nem meios para tratar este vírus, podemos agir para reduzir os seus efeitos. É isso que temos que tentar.
Para já estamos em condições de ter alguns ensinamentos políticos.
Os que gritaram por menos Estado, querem agora mais Estado, mais recursos, mais funcionários públicos (médicos, enfermeiros, polícias, militares)
Querem agora mais recursos na saúde, mais equipamento na saúde, mais hospitais.
Os que quiseram privatizar hospitais, querem-nos agora públicos.
Os que criminosamente quiseram acabar com o Laboratório Militar, querem agora que este forneça tudo que está em falta.
Os que se opuseram ao Serviço Militar Obrigatório (SMO) como parte da participação cívica, e que frequentemente se opõe à existência de forças armadas, agora reclamam pela presença dos militares em todas as áreas, desde a cedência dos hospitais à ordem pública.
Os que se opuseram ao Serviço Nacional de Saúde , agora tudo exigem dele.
Felizmente a maioria dos Portugueses entendem ser necessário um Estado interveniente, o Serviço Nacional de Saúde, os serviços públicos com recursos, equipamentos, competências, as Forças Armadas, os Hospitais Militares e Laboratórios.
Que esses tais não ousem voltar a menosprezar o Estado Social, forte, actuante, competente.
António Regedor
O fim do Império Romano, no século IV, ditou o enfraquecimento da Europa no seu todo. Deixou de haver uma administração igual para todos os territórios, deixou de haver uma Lei geral, uma política comum de impostos. As estradas foram abandonadas, os edifícios públicos deixaram de ter manutenção, os hábitos de higiene foram abandonados, a limpeza pública ruiu, a saúde colapsou. A educação abandonada, a cultura definhou.
Politicamente os senhores locais apoderaram-se do que puderam, subjugaram o mais fracos e pobres, fizeram leis que lhes convinham, cobraram impostos que queriam.
Não tardou muito a sentirem-se os efeitos. No século VI surgem as pestes na Europa e duraram até ao século VIII. No Império do Oriente tal não aconteceu de imediato. A Constantinopla acorreram os sectores cultos da sociedade, e que mantiveram os padrões de vida da tradição Helénica e continuada na cultura Romana.
O enfraquecimento da Europa, pelo desmantelar da administração Romana, pelo modelo feudal, e pela peste, com a consequente redução da população, desmantelamento da produção, estado geral de fome e doença, fez da Europa um espaço nulo, politico, económico, cultural e socialmente.
Ao enfraquecimento da Europa no século VI, corresponde a expansão do Islamismo no mesmo século e seguinte. Obviamente as duas coisas estão ligadas.
A Europa só recupera no século IX e X. E isso corresponde ao crescimento das cidades, ao desenvolvimento do comércio, aumento da produção. Aparecem novas moedas, entre elas o Florim de grande aceitação. E, claro, a pressão sobre o Islão que leva à reconquista cristã do Al Andaluz, das rotas do Oriente e retorno ao domínio do Mediterrâneo.
Neste contexto de progresso surgem no século XIV as confrarias e as corporações e entre elas as Universidades. Daí é um salto até ao Renascimento e à Ilustração.
É bom reflectir sobre o enfraquecimento do Estado e o surgimento dos pequenos poderes locais que produzem os novos pequenos feudais sem nobreza alguma. Quando me falam da tradição portuguesa do municipalismo é do estado de feudalização que me querem falar.
A data condiz perfeitamente com o tema do Serão da Bonjóia.
O tema é: " Estado, Ética, Governação - ideias e valores em mudança"
A conferencista é a Professora Catedrática Prof. Doutora Judite de Freitas.
A sessão, claro está, é na Quinta da Bonjóia - Rua de Bonjóia, 185. Campanhã
Dia 25 de Abril,( 5ª feira) pelas 21h15. Con entrada grátis
Este livro traça a evolução das estruturas políticas e sociais desde o Portugal medieval até aos alvores da Época Moderna, procurando explicar as raízes da formação política do Estado moderno, examinando os seus principais aspectos: a irradiação da Corte régia, a criação e a consolidação das instituições centrais, as lutas dinásticas, a emergência do poder local, a expansão territorial e o desenvolvimento da cultura política. Com base nos estudos mais actualizados procede-se a uma análise crítica da correlação de forças estabelecida entre o poder régio e a sociedade política de forma a comprovar que uma boa parte dos fenómenos relacionados com o aparecimento do Estado e a ideia política associada têm origem na Idade Média tardia.
Nota biográfica:
Judite A. Gonçalves de Freitas é professora catedrática na Universidade Fernando Pessoa. Licenciada em História (1987), Mestre em História Medieval (1991), Doutorada (1999) e Agregada (2007) em História pelo Departamento de História e de Estudos Políticos e Internacionais da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. É membro do grupo de Estudos Medievais e do Renascimento do Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade (CEPESE-FCT) da Universidade do Porto. As principais áreas de incidência da sua actividade de investigação têm sido a História do Estado, as instituições centrais, as sociedades políticas e o poder régio, tendo publicado dois livros no âmbito destas temáticas: A Burocracia do «Eloquente» (1433-1438): os textos, as normas, as gentes (1996) e «Teemos por bem e mandamos». A Burocracia Régia e os seus oficiais em meados de Quatrocentos (1439-1460), 2 vols (2001), e ainda D. Branca de Vilhena: património e redes sociais de uma nobre senhora no século XV (2008). Tem publicado trabalhos sobre Chancelaria e Diplomática régias e divulgou no estrangeiro os principais balanços que efectuou sobre historiografia medieval portuguesa.
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