. Do Porto ao Pinhão a pens...
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Aguardava o último comboio do dia e o que faria ligação na estação central. Linha única ao longo do percurso. Só dupla nas estações para cruzamento dos comboios. Ainda o sol ia quente e o melhor que se podia encontrar era a sombra de pequenas árvores, e elas também com sede. O tempo ia passando para além da hora de tabela do comboio, e o tempo aumentava o estranho da situação. Demasiado tempo era já motivo para descartar o atraso e colocar outra hipótese. Perguntando o motivo do significativo atraso, a resposta foi a de que a locomotiva teria avariado mas que a composição já teria saído com atraso que eventualmente poderia ser recuperado em parte. Foi recobrada a paciência para continuar a espera, até que surgiu ao longe o comboio ansiosamente desejado. Era uma composição com duas locomotivas. A que efectivamente locomovia, e a outra que por avaria e sem capacidade própria se deixava arrastar. Não que não quisesse, mas por não poder. Para além destas, vinham as duas carruagens de passageiros. Uma bizarra composição de duas locomotivas para duas carruagens. Já dentro do comboio e com grande atraso, sem outras composições para cruzar, sem mais ninguém que aquele único comboio naquela única linha, foi então ver do que era capaz aquela locomotiva. O arrancar era penoso, o ganhar velocidade era lento, mas quando lançada na sua força máxima era vê-la cortar o vento que entrava quente pelas janelas abertas, o som ritmado, rápido, do deslizar nos carris, o chiar da fricção das rodas nos carris ao fazer as curvas, sem abrandar, a querer voar galgando distância, a comer tempo engolindo o ar e a sentir realmente o que é um cavalo de ferro.
António Borges Regedor
Da estação de São Bento se diz das mais bonitas. E assim é a obra do Arquitecto Marques da Silva. Da mesma forma não ficamos indiferentes aos painéis de azulejos da autoria de Jorge Colaço datados de 1905/1906. Um evocativo do que ficou conhecido por Torneio dos Arcos de Valdevez em 1140. Um facto importante no restabelecimento da paz entre Afonso I de Portugal e Afonso VII de Leão e Castela. O jovem rei português tinha invadido a Galiza e em resposta Afonso VII invade pelo Soajo e encontra as posições de Afonso Henriques acampado e cortando o passo na Portela de Vez. Após algumas escaramuças e vendo que maiores prejuízos haveria no confronto, os contendores decidiram a contenda em torneio. Na Idade Média a arte da guerra envolvia muitos participantes. Cavaleiros que os senhores locais se obrigavam a armar, muitos camponeses feitos soldados de tempos a tempos para efectuar escaramuças, rapinas, cercos mais ou menos demorados e alguns combates. Curiosamente e ao contrário do que vulgarmente se supõe, não se morria muito. E esta disputa em Arcos de Valdevez é um exemplo disso. Com a mediação do Arcebispo de Braga João Peculiar foi retomada a paz.
Um outro painel evoca a entrada de D. João I, em 1387 no Porto, para o casamento com D. Filipa de Lencastre. A noiva já o esperava desde Novembro do ano anterior, vinda directamente de Inglaterra, de acordo com o estabelecido com o Tratado de Windsor que combinou o casamento. D. Filipa de Lencastre ficou alojada no Paço Episcopal aguardando o Rei, seu noivo que entrou no Porto e se alojou no convento de S. Francisco. O casamento foi celebrado na Sé Catedral a dois de Fevereiro de 1387.
A conquista de Ceuta em 1415 está também representada nos azulejos da estação de S. Bento. O facto é de enorme significado para a cidade e para o país. Foi nos estaleiros de Miragaia que se construiu cerca de metade da armada que conquistou Ceuta. À época Miragaia era um praia de extenso areal onde se instalavam estaleiros navais. Dá também origem à denominação de tripeiros pelo facto do Porto ter abastecido de carne a armada e sobrarem as vísceras não utilizáveis na viagem, mas que o povo não deixou de consumir.
Para final fica a referência do painel que resulta de um mito e mistificação da história de portugal. É o mito de Egas Moniz. Mito criado pelo trovador João Soares Coelho que tentando para si projecção social se dizia descendente por via bastardo de Egas Moniz. Vivendo já no século XIII João Soares Coelho procurando glorificar o seu possível tetravô glorificava-se a si próprio.
Na verdade, documentos da época referem que Afonso Henriques cedeu ás exigências de Afonso VII. Não há certeza do cerco a Guimarães. E o aio de Afonso Henriques deverá ter sido Ermígio Moniz de Ribadouro, irmão mais velho de Egas Moniz, que nos documentos assina em primeiro lugar e que foi o primeiro conselheiro de Afonso Henriques e desempenhou funções políticas como membro mais importante da corte.
António Borges Regedor
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