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No local onde hoje é o Mosteiro de Leça do Balio deve ter havido no século I uma ocupação romana e igualmente um templo romano. Findo o Império Romano a ocupação sueva e visigoda não deixou registos.
No século X é edificado um pequeno Mosteiro no contexto da reconquista. Em 1003 há uma doação a D. Unisco Mendes, padroeira do Mosteiro, e é beneficiário também a seu marido D. Tructesindo Osores. O Mosteiro manteve-se na família passando para os filhos do casal em 1021.
Só em 1094 foi transmitido à Sé de Coimbra por D. Urraca I de Leão e Castela e seu marido D. Raimundo de Borgonha, Conde da Galiza.
É ainda em 1180 que D. Gualdim Paes promove obras com renovação da igreja do mosteiro dedicado a Santa Maria.
Foi D. Afonso Henriques que doou o Couto de Leça à Ordem dos Hospitalários que estabeleceu a Casa Capitular da Ordem no antigo Mosteiro. Posteriormente foi sede de diversos Bailiados que eram funcionários judiciais privados por nomeação e representação do Rei.
Como se compreende pelo período que se vive de reconquista e por ser capítulo dos Hospitalários, o Mosteiro recebe ampliações que lhe dão um carácter militar, o que ainda hoje é observável e marca a nossa impressão visual. É um belo exemplo da arquitectura religiosa fortificada. Resulta hoje numa conjugação de estilo românico com estilo gótico, fruto dos trabalhos de renovação dos edifícios monacais e do claustro, por iniciativa do Prior da Ordem, D. Frei estevão Vasques que se iniciaram em 1330 e se prolongaram até 1336. A Igreja possui ameias e contrafortes e tem na fachada uma varanda também com ameias e matacães. A planta é de três naves. A torre de 28 metros de altura possui também ameias, matacães e seteiras de clara expressão militar.
Aqui se casaram em 1372 D. Fernando I de Portugal e D. Leonor Teles de Meneses e cujos contornos refiro em Casamento de Fernando I de Portugal com Leonor Teles de Menezes - BIBVIRTUAL (sapo.pt) .
Nessa altura o prior do Mosteiro era Álvaro Gonçalves Pereira, pai de Nuno Álvares Pereira. que no contexto da crise de 1383-1385 passou pelo Mosteiro.
Com a extinção das ordens religiosas em 1834 em resultado da revolução liberal e da guerra civil que se lhe seguiu, o Mosteiro foi integrado em 1385 no Concelho de Bouças, actualmente designado Matosinhos.
Na década de 1939 sofre obras de intervenção sob orientação dos Monumentos Nacionais, e novamente em 1996 mais obras de beneficiação por Mecenato da fábrica vizinha Unicer.
António Borges Regedor
Casamento de Fernando I de Portugal com Leonor Teles
Chama à atenção a peça escultórica em frente ao Mosteiro que quando observada de costas se vê o homem a abraçar a mulher. “Um casamento real, assim com abraço, só podia ser por amor”. E sim, a estátua marca o casamento do Rei D. Fernando (1367-1383) com D. Leonor Teles de Menezes.
Fernando Rei de Portugal era filho de D. Pedro I e de Constança Manuel. Era ainda bisneto de D. Sancho IV de Castela. Essa condição levou-o em alguns momentos e ousar disputar o trono de Castela, sem que tenha tido consequência.
O Rei apaixona-se por Leonor Teles de Menezes que já era casada e segundo o cronista Fernão Lopes era “louçana e aposta e de bom corpo (…), com suas fremosas feições e graça”. Leonor era sobrinha do Conde de Barcelos, João Afonso Telo de Meneses pessoa de grande influência no reino. Por parte do seu pai Martim Afonso Telo de Meneses descendia do Rei Fruela II das Astúrias e Leão. E por parte de Aldonça Anes de Vasconcelos, sua mãe, descendia de Teresa Sanches, filha bastarda do Rei D. Sancho I de Portugal.
Leonor Teles era casada com João Lourenço da Cunha que era filho de Inês de Castro e de D. Pedro I. Deste casamento teve o filho Álvaro da Cunha.
O Rei D. Fernando de cognome “O formoso” era tido como “amador de mulheres e chegador a elas” no dizer do cronista Fernão Lopes. Também numa biografia de João Macdonal é dito que D. Fernando tinha uma obsessão com a caça a fidalgas, lebres e pombos.
A louca paixão do Rei por D. Leonor implicou a anulação do primeiro casamento com João Lourenço da Cunha. A vontade do Rei em se casar com Leonor levou a contestações em Lisboa. Entre outros argumentos que desaconselhavam o rei da sua pretensão, dizia-se que Leonor Teles e João Lourenço da Cunha formavam um casal feliz.
Esse clima de contestação e o mal estar que produziu a vontade do rei, deve ter sido motivo suficiente para D. Fernando se afastar da Corte que o contestava, e decidir pelo casamento no Mosteiro de Leça do Balio a 15 de Maio de 1372. Nessa altura o prior do Mosteiro de Leça do Balio da Ordem do Hospital era Álvaro Gonçalves Pereira, pai de Nuno Álvares Pereira. Nove meses depois nasce em Fevereiro de 1373 a Infanta Beatriz.
Leonor Teles teve o cognome de “aleivosa”. Terá concebido um plano para casar o Infante D. João (1346-1400), (filho de D. Pedro I e de Inês de Castro), com a sua filha Beatriz. O infante D. João tinha casado com a sua irmã Maria Teles de Meneses, que teria de ser afastada no plano traçado por Leonor Teles. Para isso insinuou que sua irmã seria adúltera. O Infante João matou a mulher, foi acusado de homicídio, preso e exilado. Estava assim afastado um rival do trono. Em 1382 Leonor Teles mandou prender outro cunhado, desta vez D. João, mestre de Avis e que viria a ser o Rei João I de Portugal. Foi solto por influência do Conde de Cambridge tio de Filipa de Lencastre com quem João viria a casar.
Leonor Teles, após a morte do marido Rei D. Fernando em 22 de Outubro de 1383, assumiu a regência do Reino e passou a viver com João Fernandes Andeiro, o que viria a ser defenestrado, e que era já assinalado como amante da rainha ainda D. Fernando era vivo.
No contexto da crise de 1383-1385 e da morte do Conde Andeiro, e como Lisboa apoiasse D. João Mestre de Avis, a rainha e regente refugiou-se primeiro em Alenquer e depois em Santarém que a apoiavam. Acabou por abdicar a favor de João I Rei de Castela e da sua filha Beatriz casada como rei de Castela. Este internou-a no Mosteiro de Tordesilhas onde se pensa que tenha morrido em 1386, ou a acreditar no cronista castelhano López de Ayala terá vivido até 1390 ou mesmo 1406.
Um episódio da História de Portugal que contém todos os ingredientes para fazer uma série ou filme de época.
António Borges Regedor
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