. Clubes de Leitura em temp...
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Os clubes de leitura que conhecemos têm um formato presencial, que coloca os vários leitores a trocar opiniões, perspectivas e análises dos livros que vão lendo. Mas não é um formato único. Ao longo da história os clubes de leitura começaram por ser de leitura em voz alta, dado poucos saberem ler e os livros serem raros.
Nos finais do século XVIII com a maior disponibilização do livro impresso, e em razão do seu elevado custo, surgiram os gabinetes de leitura. Nem todos so burgueses se podiam dar ao luxo de ter livraria. Daí que o hábito de leitura da pequena e até média burguesia tivesse passado pelos gabinetes de leitura. Eram iniciativas comerciais. Aí eram emprestados livros a troco de um pagamento. E nessa linha várias associações operárias já nos finais do século XIX, também influenciadas pelas ideias liberais e republicanas também foram formados gabinetes de leitura direccionados aos operários e trabalhadores.
Só depois surgiram as bibliotecas populares que em Portugal são criadas já por legislação republicana.
A formação de Bibliotecas Públicas inicialmente com fundos eruditos, e com desenvolvimento incipiente por razões económicas e de analfabetismo generalizado na população portuguesa, resultou num conceito de leitura silenciosa. A biblioteca tinha normalmente um depósito de livros e uma sala onde se fazia a leitura. E obviamente, essa configuração espacial tinha necessidade de silêncio.
Vamos no entanto encontrar um caso curioso de leitura em voz alta e colectiva. Uma prática nas fábricas de charutos. Perante um trabalho repetitivo e monótono, os trabalhadores quotizavam-se para ouvir um “lector” a contar os romances de que mais gostavam. É aliás essa a razão porque muitos dos charutos têm nome de livros. É o caso de Romeu e Julieta, ou de Montecristo.
Actualmente, sujeitos aos cuidados de distanciamento. Com a redução ou mesmo supressão das reuniões presenciais parece estar criada a necessidade e possibilidade dos grupos passarem para as várias formas de comunicação on-line e redes sociais. É um desafio, mas será uma oportunidade para evoluir para nova forma de existência de clubes de leitores. Afinal, é só mais uma mudança ao longo da história. A interacção pode ser feita pelas ferramentas disponíveis e já usadas no ensino e reuniões. As redes sociais podem até servir para a impossibilidade de estarem todos ao mesmo tempo em directo. Nestas pode ser lançado o livro para leitura e o grupo passar a fazer as suas intervenções quando tiver oportunidade na plataforma escolhida. Desde há muito tempo há no facebook um grupo de citações de livros que foi lançado por um professor de Salamanca, tenho seguido um grupo que apresenta sugestões de livros. E nada impede que se formem grupos para ler e comentar um livro em moldes idênticos ao que se pratica nos grupos presenciais. A pandemia não acaba com a leitura e os clubes de leitores mais uma vez podem mudar mas não acabar.
António Borges Regedor
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