. Ramiro
. Fest
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Sei pouco de alfarrabistas. No contacto com esta actividade comercial detecto mais que um perfil de alfarrabista. Conheço alfarrabistas que deixam perceber conhecimento, método e especialização. Uns com especializações temáticas, outros fortes em primeiras edições, em arte ou literatura e outras áreas específicas. Mas também conheci alguns lugares de venda de livros que mais pareciam fracos adeleiros. Tenho a impressão da extinção de tais espécimes. Vejo ainda em feiras aparecer a venda de livros como se tremoços de tratasse. Mas também esse tipo de venda desaparecerá porque de livro antigo nada ou quase nada tem.
Mas vem isto a propósito de um agradável filme que vi na RTP que tem por título “Ramiro”. O protagonista é um alfarrabista, poeta, encarregado de educação, amigo dos livros e das pessoas. Um filme que gostei de ver. Se forem tocados pela curiosidade poderão aceder em Ramiro de 28 Ago 2022 - RTP Play - RTP
António Borges Regedor
Espinho vive esta semana o “Fest 2022 New Directors, New films Festival”. A cidade assume-se como cidade de cinema. Espinho na sua relação com o cinema tem o Cinanima, o mais antigo festival de cinema de animação. O FEST mais recente, impôs-se como um marco incontornável dos festivais de cinema. Tive a oportunidade de dizer ao Director do festival que mesmo em situação de pandemia tinham conseguido, com o festival em modelo “drive in”, ultrapassar os constrangimentos da situação. E Hoje mais fortes ainda têm a criatividade de, em pleno espaço público à beira mar, criar o “FESTival Village, um espaço de forte interacção com a população. O cinema ao ar livre como no principio foi o cinema na sua fase de divulgação, de novidade e ainda de muita simplicidade.
Espinho afirma-se com os seus festivais, uma referência importante no panorama do cinema.
Está de parabéns o Fest que decorre até ao dia 27 deste mês.
António Borges Regedor
Mais um excelente filme exibido pelo FEST- Cineclube Espinho. "En Guerre" é um filme de 2018 apesentado com exito no Festival de Cannes pelo realizador Stephane Brizé.
António Borges Regedor
Excelente iniciativa a de organizar actividades de cineclube em Espinho. A iniciativa é do FEST que conhecemos por ser um festival de cinema jovem, de novos directores. Mas não é apenas um festival que se realiza anualmente. É também esta iniciativa de Cineclube. Ontem dia 13 foi projectado na sala de espectáculos do Casino Solverde o filme “Drive my car” do realizador Ryusuke Hamaguchi. Um filme que conta já com 72 prémios. Um deles o Globo de Ouro em Cannes. Entretanto já tinha sido projectado “Milagre de Milão” de Vittorio di Sica. Dia 16 haverá uma sessão infantil.
“Em Guerra” é um filme de Stephane Brizé. O tema é o de uma luta laboral. O filme foi apresentado em Cannes no ano de 2018. Será exibido na próxima semana dia 20, também no auditório do Casino Solverde.
António Borges Regedor
CINANIMA. O terceiro festival de animação mais antigo do Mundo. Este ano (2021) conta já quarenta e cinco edições. E sempre a renovar-se. De 8 a 14 deste mês de Novembro. Filmes, exposições, música, workshops, masterclasses, instalações artísticas. A decorrer em diversos espaços da cidade: Centro Multimeios, auditório do Casino Solverde, Junta de Freguesia de Espinho, Biblioteca Municipal, Forum de Arte e Cultura, Piscina Solário Atlântico. E ainda outros espaços fora do Concelho como o jardim botânico do Porto e várias instituições de ensino superior em Matosinhos, Barcelos, Vila do Conde e Porto.
O CINANIMA deve ser entendido como um dos melhores veículos de promoção da imagem de Espinho. Uma imagem de que se gosta.
António Borges Regedor
O Cinanima teve em estreia o excelente filme Where is Anne Frank. A mensagem, se é que os filmes transportam alguma mensagem, é a de que a história de Anne Frank não se ficou pelos acontecimentos que bem conhecemos da guerra de 1939-1945. Anne Frank continua por aí a escrever o seu diário. Da fuga aos conflitos armados. Dos refugiados de todas as guerras. Dos escondidos das repressões de todo o tipo. Dos deslocados, desalojados. Dos confinados a campos de refugiados. Dos sofredores das migrações forçadas pela guerra e pela fome. Dos perseguidos pela política, pela religião, pelo racismo. Anne Frank continua aí, a escrever o seu diário, no meio dos sofredores.
António Borges Regedor
Decorre simultaneamente em Espinho, Porto e Lisboa o FEST- Festival Novos Realizadores | Novo Cinema.
Fazer um festival de cinema é difícil. Muito mais nas actuais condições de confinamento, de limitação de mobilidade, de medidas adicionais de cautela em saúde pública e da retracção dos apoios, colaborações e parcerias.
E pelo que se sabe, o FEST tinha um festival preparado, e que devido à pandemia teve que reformular em pouco tempo, resultando num festival diferente.
A competição internacional, que este ano integra 10 obras de cineastas emergentes , vai decorrer, em simultâneo, em Espinho (Auditório da Junta de Freguesia de Espinho e Cinema Drive-in), no Porto (Cinema Trindade e Casa Comum/ Reitoria da Universidade do Porto) e em Lisboa (Cinema Ideal).
E os organizadores, o Director Filipe Pereira e a sua excelente equipa, tiveram a coragem de o fazer. Não se intimidaram com as dificuldades e imprevistos e tudo resolveram de modo a cumprir o FEST.
E se todas as dificuldades apontadas eram já suficientes para enorme preocupação com a organização em um local, o FEST, é ainda mais audaz e realiza em simultâneo o festival em três cidades.
O FEST nasceu em Espinho, pequeno, ainda me lembro, mas isso nunca o limitou. Desde sempre teve a preocupação de ultrapassar a barreira física do local onde nasceu para ganhar espaço mais amplo nacional e internacional. E sempre promoveu o Festival fora de Espinho, também me lembro porque assisti a algumas apresentações do FEST no Porto.
Do ponto de vista do programa é de uma cuidada escolha. Bons filmes, bons realizadores. Boas surpresas. Pessoalmente é nos festivais de cinema, com as ante-estreias ou ciclos ou trabalhos a competição que tenho visto dos melhores filmes que me recordo. E Espinho, terra de vários géneros de festivais de cinema tem-me dado essa oportunidade.
O que escrevo é resultado da observação da sessão de abertura, de uma sessão em sala e da experiência do drive-in.
Uma inovação e excelente forma de pensar o futuro de espectáculos em risco de pandemia é o drive-in. E esta inovação do FEST, devia servir para obtenção de conhecimento e competência para realizações futuras. A segurança sanitária é assegurada pelo distanciamento social. O modo de reservar o bilhete por contacto on-line com confirmação da reserva. É garantido o conforto. É possível a qualidade do visionamento do filme ou do espectáculo pelo posicionamento ordenado das viaturas de modo a que todas têm linha de visão. O som é fornecido pela sintonização de uma frequência no próprio carro. E tudo isto será ainda mais importante quando o tempo atmosférico não for tão favorável a espectáculos ao ar livre sem conforto.
E no caso concreto do drive-in do FEST, o controlo de entradas, a localização, a mobilidade das viaturas na entrada e saída tem sido feita de forma célere e eficaz e evoluindo com a experiência.
O FEST é um exemplo a seguir e arrisco a dizer que se formou uma equipa competente na organização deste tipo de evento. Parabéns a quem tem estado no terreno. O próprio director do festival afirma que “o sucesso se deve já ao grande número de colaboradores que dão corpo ao conjunto de tarefas necessárias à concretização do festival.”
O FEST tem enorme potencial de crescimento. É merecedor da nossa atenção e da nossa presença.
António Borges Regedor
Bons livros dão bons filmes. Talvez não tenham sido feitos filmes de todos os bons livros. Nos últimos tempos o livro não tem que ser uma excepcional obra literária, mas é seguramente um best-seller que passado ao cinema ganha ainda maior dimensão.
Há uma questão que se coloca a quem leu o livro e depois viu o filme. A diferença. Diferença da leitura. Cada leitor lê de modo diferente. Depois de escrito cada leitor faz um livro diferente. Normal que o filme seja também produto de uma leitura diferente e naturalmente um livro diferente. Outra diferença é o da extensão. Obviamente uma narração de noventa minutos não poderá ser tão extensa, ter tanta informação, tantos pormenores como a leitura por trinta , sessenta ou noventa dias. Tenho esse exemplo com o “Nome da Rosa” de Umberto Eco. O livro contem muito mais informação da idade média, nomeadamente na diversidade de correntes monásticas e no disputado terreiro da correcção teológica e filosófica. Aqui reside o elemento estruturante do livro e do filme consequentemente. As mortes são provocadas por perspectivas teológicas diferentes na apreciação das expressões filosóficas. No caso, o Riso em Aristóteles, que trata o tema no seu volume II da “Poética”. O filme pode não dar visibilidade a esta questão, mas é a grande questão que no livro é a causa das mortes. Por isso ler um livro é bem diferente de ver um filme. Independentemente da abstrair do facto de mediação que o filme constitui em relação à ideia original.
Reconheço no entanto que ver um filme que resulte de adaptação é uma possibilidade interessante no contexto da enorme oferta de lazer para além da leitura. Que o cinema, e agora na visualização de cinema em casa, constitui um meio que na classificação de Marshall McLuhan e mais quente, o que significa de menor esforço para o consumidor dessa plataforma de fornecimento de lazer. E há imensa escolha em formato filme e série. Desde os clássicos, até aos best-seller tipo “guerra dos tronos”.
Os bons livros continuarão a dar bons filmes e não será isso que nos privará da nostalgia da leitura em papel, do cheiro a tinta fresca, do tacto das fibras vegetais compactadas mecanicamente à espessura de oitenta gramas o metro quadrado.
António Borges regedor
Almodóvar e cinema em tempo de dor.
É tempo de pandemia, de confinamento, de trabalho em isolamento e principalmente de trabalho presente, activo, difícil, perigoso, extenuante, silencioso, dos agentes de saúde e protecção civil.
Paradoxalmente o tempo que não se pode ter, dá tempo para o lazer. Lazer do cinema como companhia ao isolamento. Não o cinema espaço físico social de grandes ou pequenas salas de ecrãs gigantes . O cinema do confinamento, dos pequenos ecrãs pessoais que as tecnologias consentem.
E neste momento a oportunidade de ver um filme recente. Filme de 2019 de Almodóvar com o título : “Dor e Glória”.
“Que quieres? – Vivir” é uma das falas do filme. Um filme que aborda a ruína da glória que a dor droga provoca. Um filme de afectos, de sentimentos. A criança que ensina o adulto a escrever, amigos que se ajudam, namorados que se reencontram. Mas também de sofrimento. A pobreza familiar, o recurso à caridade, o sofrimento da doença, a dependência da droga.
“Las noches que coincidem con várias dolores, essas noches creo en Dios e las rezo, nos dias em que se lo padezco en un tipo de dolor soy ateu.”
Como sempre Almodóvar dá-nos grandes filmes. Este, com Banderas e Penélope, é mais um dos seus excelentes filmes a não perder.
António Borges Regedor
Muitos ainda ficam chocados quando, de forma cada vez mais evidente, fornadas de jornalistas escrevem jornais (não fazem jornalismo) de veiculação de interesses económicos e políticos. É evidente que o jornalismo é difusor dos poderes que o influenciam.
Não é de agora. É da sua génese. O primeiro periódico, o “Gazeta em que se relatam as novas todas, que houve nesta corte, e que vieram de várias partes no mês de Novembro de 1641.”, saía sob a vigilância da Inquisição, O Santo Ofício criado em 1515. E saiu porque que foram concedidas “todas as licenças necessárias e privilégio Real”. Assim se dizia na época.
Um século depois da publicação da Gazeta e por influência das correntes iluministas, e acção do próprio Marquês de Pombal, algumas acções foram sendo tomadas para enfraquecer a Inquisição. Uma delas foi a criação em 1769 da Real Mesa Censória. Quis o destino que a colecção de livros da Mesa Censória viessem mais tarde a integrar, a Real Biblioteca Publica, e que mais tarde deu lugar à Biblioteca Nacional.
Apesar disso, a Inquisição perdurou até 1821 por acção da revolução Liberal. Nesse ano as Cortes Constituintes discutiram a liberdade de imprensa. Aquilo que os Iluministas iniciaram, os Liberais conseguiram. A anulação do controlo ideológico, científico e literário que a igreja teimava em exercer sobre o pensamento, a ciência e a política. O anticlericalismo dos liberais ajudou a liberdade de imprensa.
Claro que também o Liberalismo marcou as suas balizas de influência ideológica. Ficavam proibidos os abusos contra a Igreja, o Estado e os Bons Costumes.
Este novo enquadramento de liberdade de imprensa levou a que em pouco mais de três décadas, surgissem jornais que viveram a editar duas centenas de anos. O “Jornal do Comércio” em 1853, O “Comércio do Porto” em 1854, O “Diário de Notícias” em 1864, O “Primeiro de Janeiro” em 1869, o “Século” em 1881 e o” Jornal de Notícias” em 1888. E daí sempre a crescer, de tal modo que em 1910 havia 543 publicações periódicas. Tinha-se percebido que os jornais eram bons veículos para formar opinião. E havia jornais para todas as correntes de opinião política. Os Jornais tomavam partido, mas afirmavam-no abertamente.
O século XX abre novas formas de comunicação. Logo no início, em 1918 surge o cinema. A novidade não ficava alheia à anterior forma de comunicar. As sessões de cinema começavam com a projecção de magazine informativo. O que foi muito bem aproveitado politicamente pelos poderes como instrumento ideológico e de propaganda. O tempo era propício. Final da primeira guerra, grandes confrontos ideológicos saídos da vitória bolchevique, inflexão da grande influência anarquista para cada vez maior organização dos partidos comunistas e gestação dos movimentos fascistas de vários matizes. Preparação para guerra seguinte.
Logo a seguir em 1924 começam as primeiras emissões de rádio. E rapidamente este meio de comunicação conquista a maioria do público. Torna-se o elemento de propaganda preferencial. É com a rádio que se difunde a propaganda de Hitler, Mussolini. É pela rádio que ficaram registados os mais carismáticos discursos de Salazar. Esses discursos são feitos sob o controlo da ditadura já que a censura foi instaurada com o golpe de estado de 1926 e durou até à Revolução de Abril de 1974. Em Portugal, ao Rádio Clube Português é de 1931, a Emissora Nacional de 1935 e a Rádio Renascença de 1936.
Segue-se na evolução comunicacional a Televisão, com a RTP a iniciar as transmissões em 1957. O último dos meios de comunicação do paradigma de informação de um para todos, e a que McLuhan (1) designava de meio de comunicação frio. A imagem passou a estar em casa de todos e a propaganda também. A televisão moldou as gerações da segunda metade do século XX. Alterou modelos de comportamento, hábitos de consumo, modos de relacionamento, ideologias. Só foi superada pela internet.
Um novo paradigma de comunicação surge com as comunicações em linha, em tempo real, com a capacidade de escrever de um para todos, mas essencialmente de todos a escreverem para todos. O tempo de estar em rede, comunicar em rede e construir pensamento em rede. Com tudo de bom e de mau que isso representa.
Deixou de haver na comunicação, a responsabilidade do profissional, o compromisso ético, o objectivo de narrar a verdade verificada. O burburinho próprio do adro, invadiu todo o quotidiano. No caos comunicacional, faz-se sentir a necessidade de construir um novo cosmos comunicacional.
(1) Marshall McLuhan. Os meios de comunicação: como extensões do homem. Editora Cultrix; 1974.
António Borges Regedor
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