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O trânsito automóvel privado é cada vez mais insustentável nas sociedades modernas. Causa enorme impacto no urbanismo. A mobilidade automóvel é a responsável por grande fatia de consumo de energia fóssil. Do ponto de vista da mobilidade, do urbanismo, da qualidade de vida, da humanização das cidades, o modelo automóvel está esgotado.
A cidade tem absoluta necessidade de se modificar para ganhar mais dimensão humana, mais qualidade ambiental, mais ordenamento do território, mais eficiência, mais economia e poupança de recursos.
A bicicleta nas suas formas tradicional ou eléctrica tem-se mostrado a melhor solução de mobilidade urbana. Estudos científicos aponta para a eficiência em pequenos percursos. A facilidade de uso, o baixo risco de acidentes, a versatilidade nos diversos espaços urbanos. Ainda os factores associados à saúde e a enorme vantagem do ponto de vista económico fazem da bicicleta o transporte ideal para todas as idades em meios urbano e até interurbano. Acresce que a mesma bicicleta pode ser usada de forma funcional, em lazer ou desportiva.
A partilha de vias de circulação com o trânsito automóvel não é problemática dentro do respeito do princípio da protecção do utilizador mais vulnerável. Princípio modernamente consagrado no código da estrada. Este princípio tem até a vantagem da moderação e acalmia das velocidades praticadas em meio urbano pelo trânsito automóvel.
As ciclovias são importantes para garantir o uso da bicicleta a cidadãos que não se sintam tão confortáveis, confiantes ou seguros na partilha das vias de circulação com o automóvel. Permitem possibilitar mais cidadãos a usar a bicicleta.
A condição para o uso das ciclovias em segurança e confiança é que sejam segregadas. Isto significa terem um canal próprio, bem delimitado, com separador e a um nível diferente da faixa de rodagem automóvel. Há níveis diferentes de ciclovias, mas quanto menos elementos protectores tiverem menos potenciais utilizadores captam para a utilização da bicicleta e mais ineficientes se tornam. Não se aumenta o número de utilizadores de bicicleta se não se lhes der adequadas condições de segurança.
Acresce ainda que as ciclovias resultam ainda em benefício dos automobilistas por lhes diminuir os riscos e aumentar a fluidez de trânsito.
As ciclovias serão assim entendidas como vantagem para o ordenamento do trânsito, para a segurança, para a fluidez do trânsito e para a mobilização de muitos mais cidadãos para a mudança de paradigma de mobilidade, para a cidade mais humana, para a melhor qualidade de vida, melhor saúde e melhor economia.
António Borges Regedor
Um dos problemas que se colocam às cidades é o da impermeabilização dos solos que provoca inundações e rupturas nos sistemas de escoamento de águas pluviais. Durante anos o modelo de casa com quintal cumpria essa função essencial dos solos urbanos, juntamente com parques e jardins.
A pressão urbanística foi ocupado os espaços de infiltração das águas pluviais que evitam inundações, sobrecarga dos sistemas de canalização e são necessários à reposição do lençol freático.
Os políticos e gestores urbanísticos foram cedendo a essa pressão e não têm cuidado de reservar entre núcleos de construção espaços de parques e jardins para cumprir entre outras a função de redução da impermeabilização do solo.
Mesmo nas urbanizações onde poderia haver espaços verdes, aparecem as chamadas pracetas completamente impermeabilizadas, o que constitui um dos maiores erros urbanos.
E este problema não se resolve com grandes parques urbanos de um lado e de outro núcleos urbanos completamente impermeabilizados, sem parques de médias dimensões, arborizados. A cidade precisa tanto de parques como de habitações. Todos temos vindo a perceber que as cidades sem arborização, sem parques, se tornam insuportáveis para viver.
António Borges Regedor
A presença do vírus SARS-CoV-2 e da doença Covid- 19 obrigou-nos a um período de confinamento e colocou-nos a necessidade de cuidados no relacionamento social. Os cuidados de afastamento deverão manter-se até pelo menos encontrar-se uma vacina que geralmente dura cerca de ano e meio até se tornar aplicável. Até lá temos de manter o afastamento social enquanto haverá necessidade de retomar a actividade económica, o trabalho, e as deslocações inerentes a essas actividades. Os transportes públicos são um risco acrescido e que deverá tanto quanto possível ser evitado. Deve reduzir-se a pressão sobre os transportes públicos. Não é pensável transferir as necessidade de transporte para o veículo privado e muito menos de um só passageiro. O momento é o ideal para mudar o paradigma de mobilidade e optar fortemente por um meio de transporte individual, de mobilidade suave, que não congestiona o trânsito, que se estaciona facilmente e ainda promove a saúde e forma física do cidadão. É obviamente a bicicleta.
A bicicleta já vinha a ser promovida como o transporte do futuro. As cidades tinham iniciado a sua adequação a este modo de transporte seguro, limpo e saudável. É agora, em contexto Covid-19, a oportunidade de reforçar as condições urbanas e interurbanas de promoção desta mobilidade com todas as vantagens que se lhe reconhece.
Nos países nórdicos são de há muito tempo, desde o primeiro choque petrolífero, as medidas de promoção da bicicleta. Com a realidade Covid-19 também países como a Espanha, França e Itália se adaptam.
O mesmo deve acontecer em Portugal com as vantagens económicas, de saúde e de sustentabilidade e planeamento urbano.
A MUBI- associação pela mobilidade urbana em bicicleta, afirma que “ A utilização da bicicleta durante a pandemia permite manter o distanciamento para evitar o risco de contágio e contribui para reduzir a poluição do ar, factor associado a taxas mais elevadas de mortalidade por COVID-19. Ajuda, ainda, a descongestionar os transportes públicos, deixando-os mais livres para quem efectivamente precisa deles. A utilização da bicicleta e o caminhar proporcionam actividade física, contribuem para o reforço do sistema imunitário e reduzem os risco de várias doenças, como diabetes e obesidade. A OMS recomenda, sempre que possível, o seu uso nas deslocações necessárias durante a pandemia.”
Entre outras medidas poderão e deverão ser criados aquilo que a MUBI designa de corredores de saúde. Ou seja, facho de algumas ruas ao trânsito motorizado ou supressão de vias de trânsito a favor da criação de ciclovias ou alargamento de passeios para maior distanciamento físico. Redução do limite de velocidade em algumas zonas do meio urbano para 30 km/h.
A superação desta dificuldade social, por via da resolução da pandemia, deve constituir oportunidade para mudar de mobilidade para a promoção da bicicleta, da saúde , do ambiente e das cidades mais sustentáveis, humanas e agradáveis.
António Borges Regedor
Nos últimos cem anos o carro mudou o paradigma de vida urbana. Associado ao petróleo criou um novo mundo assente no triângulo militar industrial. Carros, petróleo, armas. No século XIX mesmo a casa da cidade tinha galinheiro. No século XX trocou-o pela garagem. É agora visível, no século XXI que a vida na cidade e a sua forma de mobilidade se tornou um problema insuportável. O filme de terror podia ter o título de cercados por carros por todos os lados.
Ainda nasci a tempo de jogar a bola na rua, andar de triciclo em passeios de dois metros de largura. No passeio de uma rua a descer pude exercitar o equilíbrio necessário para andar de bicicleta. Nesse tempo, a rua era a ligação entre as duas faixas de casas. Hoje é uma barreira. A ligação foi mesmo restrita a uma faixa tracejada onde nem aí é seguro a travessia. As ruas tinam árvores que protegiam as casas dos ventos de inverno e amenizavam a temperatura no verão. Os começaram por estacionar entre as árvores, mas em pouco tempo roubaram-lhes o lugar. E a travessia da rua focou ainda mais blindada por fiadas de ferro e chapa. Os carros devoraram praças e jardins. Esconderam-se nas caves dos prédios e cercaram os quarteirões onde vivemos. Já dificilmente posso usar a bicicleta.
O caos na mobilidade, o custo da energia, a degradação da qualidade de vida, a falta de espaços de locomoção em segurança, a pegada ecológica e a evidente alteração climática resultado do modelo industrial e de mobilidade do paradigma actual, faz inevitavelmente querer mudar. Mudar para cidades mais humanizadas. Cidades com zonas pedonais, arborizadas, cicláveis. Com transporte público de qualidade, onde use o carro quando e onde necessário sem que ele seja a única forma de chegar onde quero. Carro que não polua, mas que sela alimentado a energia de fonte renovável e produzida por um aparelho de dimensão doméstica. Uma eólica ou fotovoltaico no telhado da casa que produza a energia que necessito. Sem facturas nem ivas nem outras complicações.
António Borges Regedor
Vendo como muitas das árvores são tratadas em meio urbano, alguém poderá questionar o porquê de plantar árvores nas cidades.
Na verdade, a saúde das cidades e dos seus habitantes depende da quantidade e saúde das árvores que tem plantadas.
Àrvores nas cidades, com boa saúde, são fundamentais para a saúde pública dos seus habitantes.
Desde logo a função mais visível das árvores. A sua função de sequestro de carbono. Num tempo em que cresce a preocupação com o aquecimento global e a necessidade de reduzir os gases com efeito de estufa, nomeadamente o carbono, as árvores cumprem essa tarefa.
Não apenas nas ruas e avenidas, mas também em parques e jardins. Aqui, são espaços de valor estético e ambiental. Espaços de permeabilização para reposição das águas no subsolo e em lençois freáticos. Espaços de diversidade da flora e de abrigo a variada fauna. Espaços de lazer e saúde pública. O exercício físico pode combater tanto problemas psicológicos como a depressão como problemas físicos como a obesidade entre muitos outros benefícios para a saúde.
As árvores filtram o ar, retêm agua da chuva, produzem oxigénio, reduzem gases de efeito estufa, e amenizam temperaturas. Reduzem as temperaturas no verão, tornando mais amenas as cidades.
Obviamente que têm de ser árvores saudáveis, crescidas, com ramagens e copas. Não alguns troncos que é habitual ver em cidades onde são mal tratadas. Onde em vez de podas de correcção, lhes fazem cortes de madeireiro. Árvores deformadas, atarracadas, sem copas, autenticos paus ao alto, sem estética nem préstimo. Essas são árvores mal tratadas que em muitos casos as leva á morte. E isso devia ser considerado crime contra a saúde pública.
António Borges Regedor
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