. Banalização do tema ciênc...
. Escrever um artigo de inv...
. Artigo 11º e 13º e a inte...
. Governo Bolsonaro muda ed...
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
A ciência é desencadeada por necessidade de resposta a interrogações e inquietações. Procura dar respostas a problemas, a questões e a factos. E como actividade social está sujeita a esse condicionamento.
O esforço dos cientistas na obtenção da independência tutelar, liberdade intelectual, suspensão do juízo ou abstenção política, religiosa ou outra qualquer interferência no método científico foi sempre balizado pelo poder político, religioso e pressão social e económica. Desde sempre a ciência vive em tensão com a sociedade.
Desde a antiguidade as soberanias rodeavam-se dos pensadores e usufruíam do seu conhecimento, prestígio e do mesmo modo exerciam o seu controlo de forma mais ou menos evidente. Apesar disso o pensamento filosófico e científico sempre procurou conquistar margem de independência, liberdade de investigar, escolha dos objectos de estudo e disso sofreu consequências. Ao longo da história registamos imensos momentos de evidente tensão dos diversos poderes contra o pensamento e a ciência.
Sócrates viu-se forçado a suicidar-se por ser considerado socialmente nocivo nos seus ensinamentos, observações e apreciações sociais.
Hepatia de Alexandria foi barbaramente assassinada por fazer investigação independente do cristianismo em matérias de filosofia, matemática, astronomia entre outros temas em que era fluente.
A investigação e o conhecimento dos órgãos internos do corpo humano foi proibida, pelas várias religiões, durante muito tempo. Facto que atrasou o desenvolvimento do conhecimento científico na medicina.
Ainda no século VI Boécio, que era helenista e tradutor da obra de Aristóteles para latim acabou morto por ordem do Imperador Teodorico.
Abelardo (1079-1142) foi dos maiores lógicos medievais. Tem uma lindíssima história de amor com Heloísa. Tal como os Goleardos viveu sempre em conflito com o poder. Teve de queimar um seu livro, e mesmo assim continuou a ser perseguido, condenado e morreu a caminho de Roma para recorrer da sentença.
Roger Bacon (1214-1294) que se destaca no estudo da natureza através do método empírico, e precursor do método científico moderno foi também condenado pelo poder religioso
Desiderius Erasmus (1466-1536) conhecido por Erasmo de Roterdão teve todas as suas obras colocadas no index.
Nicolau Copérnico (1473-1543) autor da teoria heliocêntrica assumiu um pensamento contrário ao vigente até aí.
Giordano Bruno 1548 foi condenado à morte por ideias de heliocentrismo que partilhava com Copérnico. Bem como a do pluralismo cósmico, ou a possibilidade de outros planetas criarem vida neles próprios. Ou o do universo infinito. Mais uma vez o poder a dar-se mal com a ciência.
Da sorte da morte por opinião, livrou-se Galileu Galilei (1564-1642) que teve de negar a teoria do heliocentrismo perante o poder religioso.
Johannes Kepler (1571-1630) autor das Leis de Kepler, leis da mecânica celeste, foi também perseguido pelo pelos católicos da contrarreforma.
O próprio Descartes (1596-1650) o “pai” do racionalismo, teve muito cuidado e construiu o seu método de dúvida para a construção do conhecimento. não deixou de engendrar uma forma de colocar Deus no seu raciocínio. Ao saber da condenação de Galileu, Descartes abandonou a ideia de publicar o “Traité du Monde”.
Todos estes casos mais conhecidos e muitos outros são evidência do caminho da ciência com inúmeros obstáculos de convivência com as soberanias, as religiões, a cultura popular com os seus usos, costumes e superstições.
O caldo cultural é em alguns momentos favorável ao avanço científico e isso aconteceu em alguns momentos da história e concretamente nos séculos XVII e XVIII. Estes foram momentos de grandes avanços científicos.
O movimento das Luzes pretende explicar as leis do universo pela razão. É uma forma diferente de explicar o mundo daquela que até aí era ditada pela fé e pela imposição da força.
Os pensadores, os filósofos, os cientistas encontraram nas academias o instrumento de partilha e validação do conhecimento que construíam. As Academias foram o suporte da ciência contra os poderes de que os cientistas se queriam afastar e que os subjugava. Formaram-se nessa altura a “Academia dei Lincei” em 1603 na cidade de Roma. Galileu pertenceu a esta academia. Em 1660 foi fundada a Royal Society em Londres. Isaac Newton chegou a ser seu presidente. A ela também estiveram ligados Fleming, Darwin e Einstein. Logo em 1666 funda-se a Academia de Ciências em Paris. Pouco depois, em 1700, a Academia Real de Berlim. Alguns anos após, a 1724, Academia de Ciências de S. Petersburgo. A 1779 é fundada a Academia de Ciências de Lisboa.
A partir das Academias, os cientistas apresentavam aos seus pares os seus inventos, observações e experiências. A legitimação e validação da produção científica passou para o interior da comunidade. Ganharam maior independência, autonomia e decisão. Ainda é um tempo em que a ciência se fazia de forma muito solitária. Cada um nas suas investigações e com apresentações presenciais aos pares na Academia. O crescimento da actividade científica no século XIX foi evoluindo para a criação de laboratórios universitários ou ligados a indústrias. A ligação aos interesses industriais afasta-a das amarras dos poderes civis e religiosos. Mas o crescimento da ciência e os grandes projectos necessitam de grandes recursos financeiros. A ciência quanto mais complexa mais necessita da partilha de conhecimentos diversos e do trabalho em equipa. E só os Estados ou grandes grupos industriais estão em condições de fornecer os meios necessários. Os grandes projectos do século XX nos Estados Unidos, nomeadamente “Los Alamos” mudam o paradigma da produção científica.
A Big Science, expressão de Weinberg (1915-2006) e está ligada aos grandes projectos do tipo “Projecto Manhattan” que produziu a bomba atómica. À profissionalização dos cientistas e ao crescimento exponencial da produção científica. Neste contexto de abundância de publicações científicas o tema da Big Science vem a ser retomado por Solla Price no livro “Little Science, Big Science, editado em Nova York pela Columbia University Press.
Enquadrados em grandes projectos, contratados por grandes centros de investigação, profissionalizados, quase proletarizados, a relação da ciência com o poder volta a ser de dependência. Em certa medida a ciência do século XX foi capturada pelo grande poder político e industrial.
O crescimento da comunidade científica e a necessidade de comunicar aos pares a produção científica para a validar e legitimar encontra na publicação a forma de dar a conhecer e colocar à critica dos pares as inovações científica.
A legitimação da ciência mantém-se destro da comunidade científica. Mas a ameaça de tensão revela-se no tipo de trabalhos de investigação que são financiados ou não.
Outro foco de tensão começou com a adopção do modelo neoliberal de produção científica. A comunicação dos trabalhos científicos passou das revistas institucionais para a publicação por grandes grupos editoriais que publicam na perspectiva do lucro empresarial. A tensão da publicação científica vem sendo resolvida através dos repositórios científicos. Os repositórios públicos e institucionais garantem o de livre acesso às publicações e também aos dados para partilha.
Foi a partilha colaborativa de resultados de investigação e de dados que permitiu tão rapidamente obter as vacinas para o covid. Mas a tensão da ciência com a sociedade e concretamente com o modelo liberal de negócio faz-se pelo conflito que é o patenteamento privado de uma investigação aberta e paga essencialmente pelos fundos públicos.
Hoje o interesse egoísta do lucro de umas poucas empresas que vivem à custa da desgraça alheia, e protegidas pelos políticos que capturaram para os seus interesses, impedem a libertação das patentes para produzir vacinas que protegendo os países do 3º mundo, estariam também a proteger oso países desenvolvidos dos contágios.
António Borges regedor
Com a banalização da comunicação em redes sociais, também os assuntos de ciência se banalizam.
Na verdade, é bom que as temáticas científicas sejam compreendidas pelo maior número de pessoas. No entanto não se verificam condições a essa boa compreensão.
A Ciência é uma prática social com determinadas condicionantes. Determina genérica e especificamente a resposta ao seu “Objecto” de estudo. Isto é importante porque se trata de fazer uma pergunta. Não uma resposta ao contrário do senso comum que facilmente dá respostas e tem opinião para tudo. A Ciência estabelece um “Método” de pesquisa, escrita e apresentação dos resultados e conclusão. O senso comum afirma sem provar nada e sem critério. O cientista é uma pessoa treinada para ser objectiva. Ao contrário o senso comum faz afirmações pessoais. O cientista é treinado para que as suas opiniões, as suas crenças, a sua religião, o seu gosto, o seu preconceito, a sua condição pessoal ou social, a sua cor, o seu género ou o seu estatuto, as suas opções políticas ou filosóficas não interfiram no seu estudo. Ao contrário, o normal é que a opinião que não é científica seja determinada pelo clubismo, pela religião, pelo costume ou preconceito. E sendo esta forma a que mais se verifica nas redes sociais, temos já o que se torna perigoso misturar ciência e opinião. Pior ainda é a discussão, nas redes sociais, de temas em que só a afirmação científica é útil. Nestes temas o melhor resultado virá das perguntas a fazer, que das opiniões a dar. O que deveríamos fazer nas redes socias seria o de perguntar para saber o que a ciência responde.
António Borges Regedor
Portugal nunca se tornou famoso pelo elevado índice de cultura, de alfabetização ou leitura. Tirando o momento histórico excepcional de actividade científica ligada à construção naval, navegação, astronomia, cartografia no período dos descobrimentos, o resto da história é cinzenta. Está no entanto pontilhada de casos singulares de excepcionalidade. Alguns deles como será o caso de D. Dinis o primeiro monarca a possuir uma biblioteca privada. Pedro Julião Rebolo que foi o Papa João XXI, mais dado à ciência que ao Papado. Luíz Vaz de Camões tanto dado às armas e aos amores como à cultura humanista. O iluminista Marquês de Pombal, que passa a considerar a Universidade de Coimbra uma instituição ‘pública’ numa linha de secularização do ensino. Frei Manuel do Cenáculo Villas Boas (1724-1814) que criou a Real Biblioteca Pública de onde deriva todo o edifício do sistema bibliotecário português. Egas Moniz, médico, Prémio Nobel. Saramago também Nobel entre outros. Vários pontos de luz numa realidade de base inculta, iletrada, dominada pelo ambiente religioso retrógrado, conservador da contra-reforma e cujo argumento para uma guerra civil foi a disputa entre liberalismo a absolutismo.
Em alguns momentos há luzes que se acendem na escuridão.
António Borges Regedor
Locomotiva, a máquina a vapor que é produto da revolução industrial, mas ao mesmo tempo produtora dessa mesma revolução que a produziu. Era assim como uma pescadinha de rabo na boca. Os comboios, à época, eram composições formadas por uma significativa diversidade de carruagens. Locomotiva, vagão do carvão, vagão cisterna da água, carruagem do correio, carruagens de passageiros e no fim as carruagens de mercadorias.
As carruagens de passageiros eram estratificadas em três classes de conforto ou falta dele. Cada categoria de carruagem de passageiros tinha o preço a que cada classe social podia aceder. Os burgueses industriais ou comerciante enriqueciam. Os nobres empobreciam e em breve iriam falir e só ficar com os títulos, a arrogância e a frustração. Os servidores públicos, profissionais liberais, intelectuais de alguma posse ou rendimento, estavam no meio da escala social, e por isso a sua necessidade de afirmação política. Finalmente a arraia miúda, os pés descalços, a tropa fandanga, serviçais, criados e jornaleiros.
Cada um seguia na carruagem da vida e na que lhe correspondia no caminho de ferro.
No fim do comboio seguem as carruagens de mercadorias. Vão carregadas com matérias primas ou produtos acabados. São pedaços suados das minas, da agricultura, das oficinas e fabriquetas. Há carruagens para animais vivos, mais mortos que vivos pela viagem, a caminho do matadouro.
É a locomotiva da vida, da revolução industrial. A locomotiva que passou a levar as notícias mais depressa, as ideias mais longe, e também puxou revoluções. A locomotiva que tirou gente do campo e os levou à cidade. A máquina do comboio mágico que engolia camponeses num lado e vomitava proletários noutro lugar. A locomotiva que no fim de cada linha iniciava nova era.
O comboio que produziu a burguesia e que atirou a aristocracia para o tombo de história; Que deu luz à ciência e à técnica e ofuscou o clero; A locomotiva que puxou o comboio da história com novas ideias sociais e políticas. O comboio do liberalismo com nova economia e nova organização social. A locomotiva liberal que cilindrou o clero com a mais radical política anti-clerical na história de Portugal. O comboio que expulsou as ordens religiosas, lhes expropriou os bens, edifícios, igrejas, bibliotecas. A locomotiva da reforma administrativa que retirou ao clero as freguesias e os registos de nascimentos e óbitos. A máquina a vapor que encurtou distâncias; levou as gentes mais longe; rasgou caminhos; abriu horizontes. O comboio mudou o tempo, alterou a paisagem, queimou etapas. A máquina a vapor mudou o pensamento, a ciência, a filosofia, a pintura, a literatura. A locomotiva fez revoluções, escreveu História.
António Borges Regedor
Locomotiva a máquina a vapor que é produto da revolução industrial, mas ao mesmo tempo produtora dessa mesma revolução que a produziu. Assim como uma pescadinha de rabo na boca, tal como a composição formada pelas diversas componentes dos comboios da época. Locomotiva, vagão do carvão, vagão cisterna da água, carruagem do correio, carruagens de passageiros estratificadas em três classes de conforto ou falta dele e de preço a que cada um podia aceder, assim como na vida real, na sociedade da época. Os ricos, burgueses industriais ou comerciante, que os nobres em breve iriam falir e só ficar com os títulos, a arrogância e a frustração. Os servidores públicos, profissionais liberais, intelectuais de alguma posse ou rendimento. E finalmente a arraia miúda, os pés descalços, a tropa fandanga, serviçais, criados e jornaleiros. Cada um na carruagem da vida e a que o caminho de ferro lhe fazia corresponder. No final, as carruagens de mercadorias. Matérias primas ou produtos acabados. Coisas das minas, da agricultura ou das oficinas e logo de seguida das fábricas cada vez maiores. Animais vivos, mais mortos que vivos pela viagem a caminho do matadouro.
Eis a locomotiva da vida, da revolução industrial, a que passou a levar as notícias mais depressa. Mas também as ideias mais longe, e as revoluções, A locomotiva que tirou gente do campo e os levou à cidade. A locomotiva que puxava todo este comboio mágico que engolia camponeses num lado e vomitava proletários noutro lugar desconhecido, tormentoso e sem retorno. O fim da linha, mas início de nova era.
A locomotiva que produziu a burguesia, que atirou para o caixote da história a aristocracia. Que qualificou o conhecimento da ciência e da técnica e desqualificou o clero. Que ganhou novas ideias sociais e políticas e inventou o liberalismo para organizar a sua vida, a sua economia, a sua política, a sua sociedade. Não conheço bem os outros países, mas no caso concreto de Portugal, foi a ideologia mais radicalmente anti-clerical que da história do País. Expulsou as ordens religiosas, expropriou-lhes todos os bens, edifícios, mosteiros, conventos, igrejas, bibliotecas. Retirou-lhes o poder dos registos demográficos, ficou-lhes com as freguesias.
A locomotiva encurtou distâncias, levou as gentes mais longe, rasgou caminhos, abriu horizontes. Mudou o tempo, alterou paisagem, queimou etapas. Mudou o pensamento, a ciência, a filosofia, a pintura, a literatura. Fez revoluções, escreveu HistóriaInvestigação é isto. Essencialmente método.
Todo o trabalho começa com um abstract. Que se traduz por Resumo, e não, como alguns erradamente colocam em, sumário. Sumário é a descrição das partes e capítulos que constituem o trabalho indicando os títulos dessas partes. E claro que vem logo no início do trabalho, para que se saiba em que paginas começa. Já os índices, que são documentos secundários, são colocados no final do texto. Ainda do ponto de vista formal, logo a seguir ao sumário deve figurar o glossário, colocando a sigla ou acrónimo e entre parêntesis a sua tradução por extenso.
Mas vamos ao importante na elaboração de um artigo de investigação.
O Abstact ou resumo começa por colocar o problema, indica a metodologia, apresenta as principais descobertas e a conclusão principal.
O corpo do trabalho, propriamente dito, tem uma introdução. Estabelece o território de investigação. Delimita a sua centralidade, faz generalizações dos diversos tópicos, e refere pontos já estudados em anteriores investigações. Estabelece o seu território de investigação, indicando lacunas, questionando o já dado como adquirido e continuando e estendendo a linha de investigação. Revê a literatura. Indica a metodologia do processo de recolha, tratamento e análise dos dados. Apresenta resultados.
A discussão dos resultados implica uma introdução que os apresente, discuta os reivindique. A avaliação dos resultados implica analisar, dar explicações, referir a literatura que os suporta e as implicações que promovem. A conclusão tem de referir igualmente as limitações à investigação efectuada, bem como perspectivas de desenvolvimento do estudo e recomendações.
Há lugar finalmente à conclusão.
A terminar é dada indicação das referências bibliográficas.
Do ponto de vista formal antes das referências é colocado o índice ou índices se os houver.
António Regedor
Em Julho do ano passado abordei este assunto aqui no meu blogue bibvirtual https://bibvirtual.blogs.sapo.pt/
O comité do Parlamento Europeu para os Assuntos Europeus aprovou alterações à legislação dos direitos do autor. A intenção é que a legislação venha a obrigar a que empresas como a Google ou a Microsoft sejam obrigadas a instalar filtros para prevenir que os utilizadores consigam usar material que está protegido pelos direitos de autor.
O pretexto de se querer regular os direitos de autor num espaço publico como é a internet, o que pretende é efectivamente que as grandes empresas coloquem filtros de conteúdos que vai permitir o controlo e a censura do que se publica.
A internet é hoje o espaço público, livre, onde está colocada muita informação geral, boa ou má, com mais ou menos ruído, mas também muita da informação científica, bibliográfica, histórica, e muita outra a que os cientistas, investigadores, académicos, estudantes, estudiosos recorrem livremente.
A incidência da directiva é obviamente a internet que actualmente é o meio que nos permite a maior informação possível. Permite aceder às mais diversas fontes de informação, estabelecer contactos pessoais e profissionais, aceder a música, imagens e outros grafismos. Trabalhar em linha e muita outra coisa.
O que a Comissão Europeia propões é permitir que as grandes empresas controlem o que fazemos na internet. Controlar o nosso acesso à diversidade de informação por razões mercantilistas é inaceitável.
Mesmo com o argumento do mau uso ou da sonegação dos direitos de autor, não é a internet a causa disso. Mau uso e abuso de direitos acontecem em todo o espaço público, não apenas na internet.
Esta preocupação foi agora objecto de comunicado da Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas (BAD).
A BAD refere-se ao artigo 11º que taxa as hiperligações de jornais digitais. E o artigo 13º que se refere à partilha de conteúdos, e à consequente instalação de filtros pelas grandes empresas de servidores.
Quanto a mim, este assunto é muitíssimo grave. Desde logo é uma matéria muito sensível para a investigação, produção científica e académica. Parece apresentar incompatibilidade com a citação e referência bibliográfica. Há que possibilitar a citação e o acesso ao conteúdo referindo a fonte e indicando o link para posterior confronto ou pesquisa complementar. A partilha de conteúdos é também uma outra barreira à investigação e trabalho científico e académico.
Numa altura em que a linha de orientação da ciência é a de colocar em acesso aberto quer os resultados de investigação, quer os próprios dados, esta medidas de limitação do espaço aberto da internet são um profundo retrocesso que só pode ser explicado pela ganância de montar mais um negócio cavalgando a internet como espaço público gratuito e universal.
António Regedor
Hoje é dia de passar pela biblioteca e voltar a ler “O Nome da Rosa” de Humberto Ecco.
Faz hoje três anos que morreu Humberto Ecco. Volta-me à memória o livro de enorme riqueza informativa sobre a idade média, a vida monástica, as várias correntes do clero regular, as suas diversas visões do mundo e interpretação das escrituras e a sua relação com os textos filosóficos da tradição Helenística. No final da Idade Média em que a ciência ainda oprimida se tenta libertar do pensamento religioso e afirmar o raciocínio lógico. Não se trata do simplismo entre o bem e o mal, mas entre logos e mito, razão e fé, ciência e religião, teologismo e humanismo. Tempo de lembrar o Ecco e voltar a lê-lo.
António Regedor
O Blog da jornalista Renata Cafardo, no jornal O Estado de S.Paulo, informa nesta sexta-feira (9) que o Ministério da Educação (MEC) do governo Jair Bolsonaro (PSL) alterou o edital para aquisição de livros didáticos que serão entregues em 2020.
Entre as modificações promovidas pela equipe do ministro Ricardo Vélez-Rodriguez – que foi indicado por Olavo de Carvalho – está a que abre espaço para conteúdos que não sejam baseados em pesquisas – as referências bibliográficas -, já que não há necessidade de citação da origem do conteúdo.
Nem me vou pronunciar sobre outros aspectos propostas nesta alteração do actual governo brasileiro. Apenas isto é suficiente para abalar a credibilidade científica do ensino no Brasil.
Não indicar a referência bibliográfica é não indicar a fonte, a origem do conhecimento. É não respeitar a autoria, o trabalho científico. É facilitar a fraude, a cópia, a desonestidade. É não apresentar argumentos com a devida autoridade de pares. É poder dizer qualquer baboseira, asneira ou falsidade. É o descrédito do trabalho dos investigadores e cientistas honestos brasileiros. Ninguém mais, na comunidade científica irá acreditar, nem creditar os alunos brasileiros. É criar uma nova geração de alunos e investigadores sem princípios, sem métodos fiáveis de investigação, sem hábitos de respeito pelas fontes e autorias. O fim numa geração da credibilidade científica do Brasil. Tenho pena. Cada povo tem o destino que merece.
António Regedor
. Livros que falam de livro...
. Dança
. Rebooting Public Librarie...