. A economia e a defesa da ...
. Água
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É cada vez mais evidente o avanço do mar. Para quem vive no litoral como em Espinho, constitui enorme preocupação o recuo da costa, a diminuição da praia, a limitação do recurso que produz boa parte da economia local. Está em risco a economia, o social, o espaço natural e edificado. São razões para se estar preocupado com o modo como se processa a ocupação do solo, como se preservam os espaços naturais, como se defendem os cordões dunares. Como tomar medidas que minimizem os efeitos que as alterações climáticas estão a provocar.
A ocupação do solo deve ser uma preocupação do Urbanismo. De onde se deve evitar construir, por onde devem passar os arruamentos, onde se deve recuar na ocupação urbana.
Dos espaços naturais, como recuperá-los, preservá-los e defendê-los das diversas agressões e pressões. Eles constituem uma reserva e defesa contra as alterações climáticas.
Do litoral e essencialmente dos cordões dunares, a sua defesa e reposição natural é absolutamente crucial no amortecimento do impacto do avanço do mar. São as dunas a principal, a melhor e mais segura barreira ao mar. É necessário recuar nos equipamentos e construções que ocupam a duna secundária e entram pela duna primária mesmo à linha de praia. As dunas primárias e secundárias têm de ser recuperadas e reforçadas. Por si só têm alguma capacidade de recuperação, mas é necessário não impedir a sua formação e movimento. Sim, as dunas movimentam-se. Por isso não devem ter barreiras fixas que as impeçam. Por outro lado é importante que se coloquem estruturas que facilitem e acelerem a sua formação, regeneração e manutenção. Para defesa das dunas são tomadas medidas como o condicionamento de acesso e o controlo do pisoteio; a erradicação de espécies invasoras; a plantação de espécies características deste meio; a instalação de estruturas físicas. Quanto a estas últimas, são conhecidas as paliçadas, que são caixas de estacas com intervalos entre si, que fazendo resistência ao vento provocam a precipitação das areias que as vão enchendo, à medida que as paliçadas podem ir sendo elevadas.
Com dupla funcionalidade são colocados passadiços. Já os conhecemos e é agradável passear por eles. Tornou-se até uma prática suadável e de atracção turística. Para além deste factor lúdico, os passadiços disciplinam o pisoteio e são eles próprios elementos de retenção de areias. Quando vemos acumulação de areia no passadiço, é porque ele está a cumprir bem um dos seus objectivos. Está a ajudar à formação de duna. Neste caso a melhor solução será recolocá-lo mais a nascente, dando espaço à duna para se movimentar, ou elevá-lo possibilitando continuar a sua função. Retirar a areia acumulada é o que não deve ser feito.
O controlo da vegetação é essencial ao bom funcionamento das dunas. As espécies mais comuns são o feno das areias (Elymos farctus) nas dunas embrionárias, o estorno (Ammophila arenaria) na duna primária e outras plantas mais lenhosas tipo matagal denominado por sabina-das-praia (Osyrio quadripartitae-juniperum turbinatae).
É necessário retirar as plantas que sendo invasoras, destroem toda a flora adequada ao sistema dunar. As invasoras mais frequentes são os chorões (Carpobrotus edulis) e as acácias (Acacia spp.). Esta tarefa tem vindo a ser feita por grupos de ambientalistas, o que permite melhorar as condições de desenvolvimento das espécies adequadas. É uma preciosa ajuda para a formação e bom funcionamento das dunas que as acções de retirada das invasoras se faça regularmente.
A preservação do meio ambiente, a sua sustentabilidade para o desenvolvimento local, o uso destes espaços como recurso natural e potenciador da economia, só é possível com todas estas acções concertadas.
António Borges Regedor
É recorrente falar-se da água, da poluição, da sua escassez como água potável. Até mesmo de conflitos pela água e sua qualidade.
Aparentemente, parece haver muita água no planeta. E, na realidade, cerca de 97% do planeta é água. E, no entanto, cerca de 2% está em estado sólido, essencialmente nos pólos, e apenas 0,7 a 0,8 são rios e lagos. E, sendo essencialmente daqui que obtemos a água para consumo, e sabendo como são tão mal tratados os rios e os lagos, percebemos o enorme risco de qualidade e escassez de água potável, absolutamente necessária à vida e ao consumo humano.
O corpo humano, que é constituído, entre 60% a 80%, de água e que nos indivíduos adultos é cerca de 65%. Significativamente, o cérebro é constituído por cerca de 75% de água.
Mas não é apenas a água para consumo doméstico que deve ser alvo da nossa atenção. Algumas espécies de algas produzem muito mais oxigénio do que o que necessitam. E assim, a maior superfície do globo, é simultaneamente a maior produtora de oxigénio do globo. O que também é significativo para as alterações climáticas. O Oceano é o meio onde se realiza o maior sequestro de carbono. O que é relevante na redução do CO2. Assim, reduz um gás de efeito de estufa e reduz os efeitos de aquecimento global da temperatura média do planeta e o que isso representa nas alterações climáticas que já sentimos, e mesmo na capacidade de sobrevivência da espécie humana.
Parecendo que se trata apenas de um assunto da macro escala, em que a intervenção humana pode parecer diminuta, é uma questão muito mais da acção pessoal do que aparenta. É essencialmente ao nível dos pequenos actos pessoais e dos habitats mais próximos da nossa escala humana que se podem produzir as grandes diferenças, com vista à preservação da qualidade da água.
Dando um pequeno exemplo, como o das ribeiras que alimentam a lagoa de Paramos, percebemos as grandes implicações da poluição por mais pequena que pareça. A água contaminada nos rios e lagos deixa de poder ser captada para consumo doméstico. Mesmo para uso sanitário, vários tipos de poluentes não permitem o seu uso. Quando usada na agricultura, os terrenos e as colheitas vão ser contaminados por vários tipos de poluentes orgânicos, químicos, nalguns casos, por metais pesados que se acumulam no nosso organismo. Temos agora a notícia mais recente da contaminação por glifosatos, na agricultura, pelo seu uso indevido. Há mesmo autarquias, como a de Espinho, que não têm política expressa para o seu não uso.
Mas não só. Os estuários e lagoas são meios que funcionam como maternidade de muitas espécies de peixes. Uma ribeira que debite para uma lagoa, como a de Paramos, por exemplo, coloca esse meio impróprio para a sua função de gestação e protecção de espécies piscícolas, nos seus primeiros tempos de vida, e daí a redução de peixe na costa. Mas também a redução das espécies de aves aquáticas que em muitos casos são limitadoras de pragas. Por exemplo, as cegonhas que limitam as pragas de lagostim de água doce que destrói os arrozais. São pequenos exemplos de como no ambiente tudo actua em cadeia. E a alteração em um dos pontos provoca alterações prejudiciais e pode levar à ruptura total do ambiente e das condições de vida.
Não são casos menores estes exemplos que se dão. É no cuidado que colocamos nestes pequenos pormenores de protecção do ambiente que preservamos a nossa qualidade de vida e asseguramos um planeta habitável. A começar pela água, como bem escasso, mas de que o nosso organismo depende e que o constitui a cerca de 75%.
António Regedor
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