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Portugal nunca se tornou famoso pelo elevado índice de cultura, de alfabetização ou leitura. Tirando o momento histórico excepcional de actividade científica ligada à construção naval, navegação, astronomia, cartografia no período dos descobrimentos, o resto da história é cinzenta. Está no entanto pontilhada de casos singulares de excepcionalidade. Alguns deles como será o caso de D. Dinis o primeiro monarca a possuir uma biblioteca privada. Pedro Julião Rebolo que foi o Papa João XXI, mais dado à ciência que ao Papado. Luíz Vaz de Camões tanto dado às armas e aos amores como à cultura humanista. O iluminista Marquês de Pombal, que passa a considerar a Universidade de Coimbra uma instituição ‘pública’ numa linha de secularização do ensino. Frei Manuel do Cenáculo Villas Boas (1724-1814) que criou a Real Biblioteca Pública de onde deriva todo o edifício do sistema bibliotecário português. Egas Moniz, médico, Prémio Nobel. Saramago também Nobel entre outros. Vários pontos de luz numa realidade de base inculta, iletrada, dominada pelo ambiente religioso retrógrado, conservador da contra-reforma e cujo argumento para uma guerra civil foi a disputa entre liberalismo a absolutismo.
Em alguns momentos há luzes que se acendem na escuridão.
António Borges Regedor
A Ponte da Misarela é conhecida pela ponte do diabo. E bem assim lhe podem chamar. E por várias razões. Por razões naturais. Localiza-se num profundo vale estreito, entre duas montanhas, e por onde se chega por carreiros serpenteados nas encostas de um e outro lado. É aqui bem perto que o rio Rabagão se une ao Cávado. E é aqui onde dois maciços rochosos, estreitam o rio que cai de uma fenda e o lança em caldeiras onde as pedras rolam até se polirem e formarem bolas graníticas, brinquedos de gigantes mitológicos ou do diabo, quem sabe. Dois rochedos que se elevam de um e outro lado do rio, são os contrafortes onde a ponte granítica encaixa e se comprime de robustez. Essa ponte medieval que foi reabilitada já no século XIX. Na sua vida foi palco de várias contendas, geralmente as motivadas pela independência e pela liberdade. Em Maio de 1809, durante as invasões francesas, neste lugar da freguesia de Ferral, juntaram-se oitocentos barrosões que ousaram travar caminho aos exércitos de Napoleão. Gente da terra, sem treino militar, mas calejada na rudeza da serra, conhecedora de todos os caminhos, atalhos e veredas onde emboscar, surpreender, golpear. No local, a placa indicativa do feito, afirma que sangrou o exército de Napoleão. E assim terá sido. Com as tropas em carreiros de pé posto, de largura nunca superior a suportar dois homens armados e equipados. Carregados da bestialidade da guerra. Na ponte onde há só lugar a passar uma carroça de cada vez. Fácil terá sido aos paisanos, tisnados do sol e esgueirando-se pelo arvoredo, fazer sangrar a tropa do imperador. Os lugares são muitos de onde com mosquete, ou só à pedrada se podia atingir a tropa fardada. As invasões fracassaram, o país manteve a independência. Mais tarde na luta fracticida entre liberais e absolutistas, a ponte voltou a receber os actores de mais um drama nacional. Desde 1870 que a nação estava dividida. Desta feita foram os liberais que vacilaram diante dos absolutistas comandados pelo General Silveira a caminho de espanha onde se refugiou. Quis o fado nacional que neste mesmo lugar a contenda entre os Constitucionais, Liberais do General Antas, derrotassem os cartistas absolutistas do Marechal Saldanha, do Duque da Terceira e do Barão de Leiria.
Do ponto de vista antropológico o local está ligado ao culto da maternidade. A mulher com dificuldade em ter filhos . As mulheres com dificuldades de maternidade, deveriam acompanhadas por mais dois homens aguardar o primeiro passante na ponte que lhes baptizaria a criança ainda na barriga. Os nascidos rapazes chamar-se-iam Gervásios e as raparigas, Senhorinhas.
António Regedor
No Parque Nacional da Peneda-Gerês, já do lado do Concelho de Montalegre, há uma ponte que se impõem pela altura a que se encontra em relação ao rio. A visão que se tem dela é a de algo que aparenta estar a ser comprimida pelas margens do rio e aimultâneamente suportando a massa rochosa das duas encostas. Chama-se Ponte da Misarela. Está construída sobre o Rio Rabagão à distância de um kilómetro da sua foz que é o Cávado.
É uma ponte de estilo românico, portanto construída na Idade Média. Sua reconstrução deu-se no século XIX. Sendo certo que em 1809 foi atravessada pelas tropas de Napoleão comamdadas por Soult. Numa placa colocad no local, há registo de enfrentamento com elementos da população.
Volta a ser palco de contenda em 1837 durante a guerra civil que opôs liberais a absolutistas.
A ponte é mais conhecida por motivo da lenda que a ela se liga e que respeita ao culto da maternidade. As mulheres com dificuldades de maternidade, deveriam acompanhadas por mais dois homens aguardar o primeiro passante na ponte que lhes baptizaria a criança ainda na barriga. Os nascidos rapazes chamar-se-iam Gervásios e as raparigas, Senhorinhas.
A ponte está classificada como Imóvel de Interesse Público desde de 30 de novembro de 1993.
António Regedor
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