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Ainda a Europa se encontrava numa época obscura, já o Médio Oriente vivia grandes civilizações e produzia grande pensamento. A civilização Persa. A riqueza cultural, técnica, científica e civilizacional da Babilónia. A civilização Fenícia que nos legou a escrita. O trânsito civilizacional que passou do Oriente através do Médio Oriente como a escrita numérica indiana que é conhecida por árabe, a pólvora ou o papel e até mesmo a impressão tabular. No Médio Oriente desenvolvem-se as religiões monoteístas ou expandem-se por essa região como aconteceu com o islão.
O Cristianismo desloca-se do Médio Oriente para Ocidente pela Síria e Turquia. Nestes países foram construídas e existem ainda algumas das igrejas mais antigas da cristandade. Uma dessas igrejas é a de Santa Sofia em Istambul, que já foi Constantinopla e antes Bizâncio. Sabemos que os edifícios de culto devem geralmente a sua existência a locais desde sempre destinados a esse fim. E que ao longo do tempo foram servindo os vários cultos que se iam sucedendo. Como também se iam sobrepondo os edifícios destinados a esses mesmos cultos.
São diversos os casos de lugares de culto que serviram já diferentes religiões. Igrejas transformadas em Mesquitas. Como foi o caso de Santa Sofia. Mesquitas transformadas em Igrejas com aconteceu em Sevilha, ou no nosso caso, como bem conhecemos em Mértola.
A catedral de Hagia Sophia foi construída no século VI. Quando a região estava no domínio do Império Romano do Oriente. A cidade chamava-se Constantinopla e era Cristã. A catedral situa-se à entrada do estreito de Bósforo. Foi convertida em mesquita no século XV e transformada em museu em 1934 por decisão do fundador da Turquia secular, Mustafa Kemal Ataturk.
Na idade contemporânea as sociedades civilizadas tendem a considerar mais o património de compreensão histórica. Sejam escritos objectos ou edifícios. É nesse sentido que edifícios como os referidos, que serviram fins religiosos, valem não apenas pela sua funcionalidade, mas também e essencialmente pelo testemunho histórico e compreensão do diacronismo civilizacional. É essa a razão porque se recuperam edifícios que serviram a função de antigas sinagogas, mesquitas e igrejas. E se preservam como museus. E porque não se destroem, não se deturpam nem usam para novas funcionalidades.
Obviamente que há um limite de bom senso e de necessidade na determinação de imobilidade funcional de edifícios históricos. Não é útil nem sensato recusar novas funcionalidades. Não se pode tornar museu todos os edifícios que deixaram as suas funções iniciais, mas é importantes que alguns dos mais significativos sejam museus.
Conhecemos muitos edifícios que foram igrejas, mosteiros, castelos, palácios, armazéns, e que passaram a ser escolas , quartéis, hospitais, bibliotecas, hotéis. Outros devem ser preservados na sua original funcionalidade para compreensão do contexto histórico, social, económico. A História também precisa de exemplos. É o caso da Hagia Sophia construída no século VI, ainda não existia o islão. Com tantas mesquitas em Istambul, e até mais importantes como é o caso da Mesquita Azul, a antiga igreja merecia a preservação que o regime laico do fundador da Turquia moderna, Mustafa Kemal Ataturk, lhes quis facultar em 1934. Da mesma forma gostaria de ver a mesquita de Mértola no seu aspecto original, para melhor compreender e sentir toda a ambiência cultural que é a vila com mais representação dos vestígios da cultura islâmica em Portugal.
António Borges Regedor
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