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A ciência é desencadeada por necessidade de resposta a interrogações e inquietações. Procura dar respostas a problemas, a questões e a factos. E como actividade social está sujeita a esse condicionamento.
O esforço dos cientistas na obtenção da independência tutelar, liberdade intelectual, suspensão do juízo ou abstenção política, religiosa ou outra qualquer interferência no método científico foi sempre balizado pelo poder político, religioso e pressão social e económica. Desde sempre a ciência vive em tensão com a sociedade.
Desde a antiguidade as soberanias rodeavam-se dos pensadores e usufruíam do seu conhecimento, prestígio e do mesmo modo exerciam o seu controlo de forma mais ou menos evidente. Apesar disso o pensamento filosófico e científico sempre procurou conquistar margem de independência, liberdade de investigar, escolha dos objectos de estudo e disso sofreu consequências. Ao longo da história registamos imensos momentos de evidente tensão dos diversos poderes contra o pensamento e a ciência.
Sócrates viu-se forçado a suicidar-se por ser considerado socialmente nocivo nos seus ensinamentos, observações e apreciações sociais.
Hepatia de Alexandria foi barbaramente assassinada por fazer investigação independente do cristianismo em matérias de filosofia, matemática, astronomia entre outros temas em que era fluente.
A investigação e o conhecimento dos órgãos internos do corpo humano foi proibida, pelas várias religiões, durante muito tempo. Facto que atrasou o desenvolvimento do conhecimento científico na medicina.
Ainda no século VI Boécio, que era helenista e tradutor da obra de Aristóteles para latim acabou morto por ordem do Imperador Teodorico.
Abelardo (1079-1142) foi dos maiores lógicos medievais. Tem uma lindíssima história de amor com Heloísa. Tal como os Goleardos viveu sempre em conflito com o poder. Teve de queimar um seu livro, e mesmo assim continuou a ser perseguido, condenado e morreu a caminho de Roma para recorrer da sentença.
Roger Bacon (1214-1294) que se destaca no estudo da natureza através do método empírico, e precursor do método científico moderno foi também condenado pelo poder religioso
Desiderius Erasmus (1466-1536) conhecido por Erasmo de Roterdão teve todas as suas obras colocadas no index.
Nicolau Copérnico (1473-1543) autor da teoria heliocêntrica assumiu um pensamento contrário ao vigente até aí.
Giordano Bruno 1548 foi condenado à morte por ideias de heliocentrismo que partilhava com Copérnico. Bem como a do pluralismo cósmico, ou a possibilidade de outros planetas criarem vida neles próprios. Ou o do universo infinito. Mais uma vez o poder a dar-se mal com a ciência.
Da sorte da morte por opinião, livrou-se Galileu Galilei (1564-1642) que teve de negar a teoria do heliocentrismo perante o poder religioso.
Johannes Kepler (1571-1630) autor das Leis de Kepler, leis da mecânica celeste, foi também perseguido pelo pelos católicos da contrarreforma.
O próprio Descartes (1596-1650) o “pai” do racionalismo, teve muito cuidado e construiu o seu método de dúvida para a construção do conhecimento. não deixou de engendrar uma forma de colocar Deus no seu raciocínio. Ao saber da condenação de Galileu, Descartes abandonou a ideia de publicar o “Traité du Monde”.
Todos estes casos mais conhecidos e muitos outros são evidência do caminho da ciência com inúmeros obstáculos de convivência com as soberanias, as religiões, a cultura popular com os seus usos, costumes e superstições.
O caldo cultural é em alguns momentos favorável ao avanço científico e isso aconteceu em alguns momentos da história e concretamente nos séculos XVII e XVIII. Estes foram momentos de grandes avanços científicos.
O movimento das Luzes pretende explicar as leis do universo pela razão. É uma forma diferente de explicar o mundo daquela que até aí era ditada pela fé e pela imposição da força.
Os pensadores, os filósofos, os cientistas encontraram nas academias o instrumento de partilha e validação do conhecimento que construíam. As Academias foram o suporte da ciência contra os poderes de que os cientistas se queriam afastar e que os subjugava. Formaram-se nessa altura a “Academia dei Lincei” em 1603 na cidade de Roma. Galileu pertenceu a esta academia. Em 1660 foi fundada a Royal Society em Londres. Isaac Newton chegou a ser seu presidente. A ela também estiveram ligados Fleming, Darwin e Einstein. Logo em 1666 funda-se a Academia de Ciências em Paris. Pouco depois, em 1700, a Academia Real de Berlim. Alguns anos após, a 1724, Academia de Ciências de S. Petersburgo. A 1779 é fundada a Academia de Ciências de Lisboa.
A partir das Academias, os cientistas apresentavam aos seus pares os seus inventos, observações e experiências. A legitimação e validação da produção científica passou para o interior da comunidade. Ganharam maior independência, autonomia e decisão. Ainda é um tempo em que a ciência se fazia de forma muito solitária. Cada um nas suas investigações e com apresentações presenciais aos pares na Academia. O crescimento da actividade científica no século XIX foi evoluindo para a criação de laboratórios universitários ou ligados a indústrias. A ligação aos interesses industriais afasta-a das amarras dos poderes civis e religiosos. Mas o crescimento da ciência e os grandes projectos necessitam de grandes recursos financeiros. A ciência quanto mais complexa mais necessita da partilha de conhecimentos diversos e do trabalho em equipa. E só os Estados ou grandes grupos industriais estão em condições de fornecer os meios necessários. Os grandes projectos do século XX nos Estados Unidos, nomeadamente “Los Alamos” mudam o paradigma da produção científica.
A Big Science, expressão de Weinberg (1915-2006) e está ligada aos grandes projectos do tipo “Projecto Manhattan” que produziu a bomba atómica. À profissionalização dos cientistas e ao crescimento exponencial da produção científica. Neste contexto de abundância de publicações científicas o tema da Big Science vem a ser retomado por Solla Price no livro “Little Science, Big Science, editado em Nova York pela Columbia University Press.
Enquadrados em grandes projectos, contratados por grandes centros de investigação, profissionalizados, quase proletarizados, a relação da ciência com o poder volta a ser de dependência. Em certa medida a ciência do século XX foi capturada pelo grande poder político e industrial.
O crescimento da comunidade científica e a necessidade de comunicar aos pares a produção científica para a validar e legitimar encontra na publicação a forma de dar a conhecer e colocar à critica dos pares as inovações científica.
A legitimação da ciência mantém-se destro da comunidade científica. Mas a ameaça de tensão revela-se no tipo de trabalhos de investigação que são financiados ou não.
Outro foco de tensão começou com a adopção do modelo neoliberal de produção científica. A comunicação dos trabalhos científicos passou das revistas institucionais para a publicação por grandes grupos editoriais que publicam na perspectiva do lucro empresarial. A tensão da publicação científica vem sendo resolvida através dos repositórios científicos. Os repositórios públicos e institucionais garantem o de livre acesso às publicações e também aos dados para partilha.
Foi a partilha colaborativa de resultados de investigação e de dados que permitiu tão rapidamente obter as vacinas para o covid. Mas a tensão da ciência com a sociedade e concretamente com o modelo liberal de negócio faz-se pelo conflito que é o patenteamento privado de uma investigação aberta e paga essencialmente pelos fundos públicos.
Hoje o interesse egoísta do lucro de umas poucas empresas que vivem à custa da desgraça alheia, e protegidas pelos políticos que capturaram para os seus interesses, impedem a libertação das patentes para produzir vacinas que protegendo os países do 3º mundo, estariam também a proteger oso países desenvolvidos dos contágios.
António Borges regedor
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