
O Livro em papel tem, ao longo do tempo, vindo a perder valor patrimonial. Vários factores contribuem para que isso aconteça. Entre eles o facto de, o livro hoje, ser um bem generalizado e de baixo custo. O livro digital veio decisivamente retirar espaço ocupado pelo livro em papel. E hoje uma boa parte da leitura, mesmo a de livros, é feita em digital. As casas deixaram de ter espaços dedicados aos livros em papel. Acabaram as divisões das casas que serviam de bibliotecas. Já não se fazem os armários com prateleiras para guardar os livros nas salas e quartos. O próprio valor simbólico dos livros acantonou-os aos sótãos e garagens. E mesmo destes espaços, eles tendem a ser banidos. Passou a ser frequente vender a alfarrabistas, já com excesso de livro em papel, e que por isso mesmo, mais o desvalorizam. Mais fácil tem sido entregar a bibliotecas que também já sofrem em gerir estas colecções por desactualizadas, não organizadas, desequilibradas e por vezes em desadequados níveis de conservação. Tudo a tender à sua ainda maior desvalorização.
E assim sendo, porque o seu valor patrimonial é já nulo, resta o seu valor informativo, cultural ou lúdico. A sua reutilização começa a passar por colocar os livros de modo a que qualquer pessoas lhes possa livremente pegar e deles usufruir sem qualquer restrição. Nesse sentido surgiu o BookCrossing que consiste em deixar um livro num local público para que outros o encontrem e leiam. E deste movimento passou a ver-se cabines telefónicas, caixas de correio, estantes em parques públicos e paragens de autocarros com livros disponívies para pegar e para deixar os que já não queremos, mas que poderão interessar a outros. As próprias bibliotecas públicas passaram a ter estantes em espaços próprios para colocar esses livros fora de colecção e que podem ser usados livremente e sem qualquer controlo.
Nesta linha de evolução chegamos à constituição de bibliotecas constituídas apenas com estes livros livres, em que se pousa um e se leva outro. Sem qualquer registo. São as” bibliotecas livres” ou de livros livres.
António Borges Regedor