
Quando em 868 o conde Galego Vímara Perez faz a presúria do Porto, este era um ermo. Assim tinha ficado depois da invasão muçulmana que a destruiu e do posterior ataque em 750 por Afonso I das Astúrias. Nestas condições ninguém aí quereria viver. E assim ficou por pouco mais de um século.
Até aí a passagem do rio era feita por barco. E mesmo depois do crescimento da cidade e da sua expansão pela encosta em direcção ao rio na Idade Média, o barco continuava a ser o instrumento de travessia do Douro.
Só em 1806 se construiu uma travessia assente em barcas. Tinha um mecanismo de abrir a meio para deixar passar a navegação, que voltava a fechar. É esta a ponte das barcas que não suportou o peso dos habitantes em fuga das tropas de Napoleão que invadiram Portugal.
Para a substituir foi construída em 1841 uma ponte pênsil. Os pilares em granito de 18 metros de altura. O tabuleiro de 6 metros de largura estendia-se por 170 metros suportada por quatro cabos de fio de ferro em cada lado. Assim se atravessou o rio por 45 anos.
Foi substituída pela ponte Luiz I em 1886. Uma ponte em aço com um vão de 172 metros, 395 de comprimento e 62 de altura. A largura é de oito metros. O tabuleiro inferior está suspenso do tabuleiro superior.
Logo no ano seguinte a ponte Maria Pia, construída em ferro, para travessia do comboio. O vão tem 160 metros, 354 de comprimento e da mesma altura da de Luiz I. Construída pela casa “Eiffel & Cie”.
Assim se atravessou o Douro até 1963 com a inauguração da Ponte da Arrábida. O arrojado Engenheiro Edgar Cardoso construiu-a com um arco em betão de 270 metros de vão. Tem 72 metros de altura e 26 metros de largura.
Pelo caminho da história das travessias do Douro, ficou uma nunca construída. Era da autoria do Militar e Engenheiro Carlos Amarante. Em 1802 propôs uma ponte em alveraria de um só arco e que ligaria o fim da rua do Sol nas Fontainhas ao Mosteiro da Serra do Pilar.
A partir dos anos 90 deu-se uma sucessão de construções de pontes em betão. A de S. João em 1991 ainda da autoria de Edgar Cardoso para uso do caminho de ferro. A do Freixo em 1995 e a do Infante em 2003 para uso do automóvel. Esta a que tem maior vão (280 metros) e maior altura (72 metros).
Mas é a ponte da Arrábida que actualmente se pode escalar. A subida faz-se do lado do Porto, na base do arco do lado esquerdo. O arco no início, tem grande inclinação. Quase que cai a pique. Na realidade, a ponte tem dois arcos paralelos ligados por uma estrutura cruzada em x também de betão. Os arcos são ocos. A beleza e robustez da simplicidade. A ascensão é facilitada pela construção recente de uma escada. E há também a segurança de uma linha de vida ao longo da subida. Se a ponte já é de grande beleza e impacto vista de baixo, o impacto de a conhecer pelo seu interior, de se sentir nela e parte dela, é extraordinário. Subi-la e estar com os pés no arco e a cabeça no tabuleiro é fantástico. Beber um Porto aí é magnífico. Beber a satisfação da subida, beber a paisagem da cidade ribeirinha do Porto, beber a extensão do horizonte para além da Foz do Douro, e claro, beber o vinho do Porto que o rio encaminhava desde as vinhas até ao estágio nos armazéns, e daqui para o Mundo.