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O principal alvo da PIDE foram os funcionários das carrinhas bibliotecas itinerantes.
A Pide, polícia política da ditadura salazarista, vigiou as bibliotecas itinerantes e perseguiu os seus funcionários propondo até despedimentos, influenciando dessa forma a gestão de uma entidade privada como a Fundação Calouste Gulbenkian.
Há casos em que as bibliotecas itinerantes são mal recebidas por ignorância instigada pelos habituais caciques locais. Mas na maior parte dos casos é com sucesso que desenvolvem a tarefa.
“A escolha e a gestão dos recursos humanos eram da responsabilidade da Fundação Calouste Gulbenkian. Inicialmente competia à FCG a seleção criteriosa dos colaboradores das Bibliotecas Itinerantes, que percorriam o país promovendo um projeto inovador, contrariando a inexistência de hábitos enraizados de leitura.” (Regedor, 2014, pag. 107).
“…foi sobre os então designados “encarregados de biblioteca” que se fixaram as maiores atenções quanto à vigilância e ao controlo ideológico exercidos pelo poder político, sendo chamada a intervir a polícia política em ligação com outras polícias com ela conectadas.” (Regedor, 2014, pag. 112).
O Regime contava já com vários instrumentos de controlo ideológico. Em 1933 a Direção Geral dos Serviços de Censura, e em 1935, a Direção dos Serviços de Censura. A ideologia era veiculada pelo Secretariado Nacional de Propaganda (SNP)criado em 1934, a que sucedeu o Secretariado Nacional de Informação (SNI), em 1945. A repressão ficava para a Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), criada em 1945. E é esta que vai perseguir e vigiar os trabalhadores das bibliotecas itinerantes.
Em 1960, a delegação da PIDE de Beja salienta em relatório o perigo que representava a atividade dos funcionários da Biblioteca Itinerante número 40. O motorista era considerado apoiante de Norton de Matos nas eleições de 1949, e o encarregado da biblioteca itinerante era descrito como oposicionista moderado, mas apoiante de Humberto Delgado, nas eleições de 1958. A PIDE pedia o afastamento de ambos (Melo, 2005).
“Outros tantos relatos de perseguições a funcionários da Fundação Calouste Gulbenkian dão conta da troca de informações, de relatórios e ofícios confidenciais da Guarda Nacional Republicana, do Gabinete do Ministro do Interior e da PIDE, para o próprio Presidente do Concelho de Ministros. A PIDE chega a forçar despedimentos, e a influenciar escolhas no recrutamento dos funcionários do serviço das Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian” (Regedor, 2014, pag. 114).
“No início de 1962, a PIDE pressiona no sentido de evitar a nomeação de Alberto da Conceição Margarido Martins para encarregado da biblioteca itinerante de Portalegre, nomeação essa considerada perigosa por ser um “indivíduo de ideias subversivas” (Melo, 2005).
Obviamente que o que preocupava o regime era o impacto positivo que as bibliotecas itinerantes causavam na pacatez popular e a inquietação nos caciques locais. E o relato de
Graça dos Santos, funcionária do serviço de bibliotecas da Gulbenkian, demonstra como este serviço agitava as populações. “Lembro, no entanto, a pequena festa popular que era a chegada da biblioteca; todo o movimento de pessoas à sua volta, sobretudo as crianças e os adolescentes” (Santos cit. in Melo, 2005)
Melo, Daniel (2005) – “As Bibliotecas da Fundação Gulbenkian e a leitura em Portugal (1957-1987)”, Análise Social, vol. XL (174), 2005,
Regedor, António Borges - Bibliotecas, informação, cidadania: políticas bibliotecárias em Portugal séculos XIX-XX. Tese de Doutoramento. Porto,2014.
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