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A luta contra o nuclear em Portugal começou há quarenta anos . Foi em 1978. Em Ferrel. Caldas da Raínha.
No entanto a opção nuclear tinha começado muitos anos antes, no rescaldo da guerra, em meados do século XX. No final da primeira metade do século XX passou a haver grande procura de urânio. Estados Unidos da América e Inglaterra eram os maiores compradores. Para as bombas nucleares, era necessário cindir Urânio em centrais nucleares. O resultado era a produção em larga escala de Plutónio necessário às bombas. Iniciou-se o paradigma da produção de electricidade pela nuclear.
Facilitava a Portugal ter minas de urânio e em 1947 ser o terceiro produtor mundial.
Em 1952 o Instituto de Alta Cultura (IAC) iniciou os estudos de energia nuclear em Portugal. Seguiu-se-lhe a Junta de Energia Nuclear (JEN) criada pelo Decreto-Lei n.º 39580, de 29 de março de 1954 e que ficou na dependência directa da Presidência do Conselho, ou seja, do ditador Salazar. Tal seria a importância que se lhe dava, por razões de estratégia militar , claro. Daí que na sua direcção viesse a estar o General Kaúlza de Arriaga e para um dos departamentos um Coronel.
Com um plano de construção aprovado em 1955, entrou em funcionamento no ano de 1961 o Laboratório de Física e Engenharia Nucleares.
Em 1971 um estudo previa que em 1978/1978 fosse instalado um primeiros grupo nuclear de 400MW ou de 600MW, seguindo-se um novo grupo de 2 em 2 anos ou de 3 em 3 anos.” (Redol, 2017). Um dos locais de instalação de grupos nucleares era O Guadiana. O primeiro grupo previa ser instalado em Ferrel.
No entanto a contestação à nuclear já tinha começado e era protagonizada por ambientalistas e mesmo por técnicos nucleares, “com base na perigosidade das radiações nucleares durante todo o ciclo do combustível, na possibilidade de fuga de produtos radioactivos para os meios líquidos (rios e mares) e o meio aéreo, nos problemas do armazenamento dos resíduos radioactivos e do desmantelamento dos grupos em fim de vida, agravada pela ocorrência de situações concretas, de casos de encobrimento de problemas graves verificados, de utilização abusiva de trabalhadores nas centrais e nas diferentes instalações do ciclo de combustível.” (Redol, 2017) Esta contestação já se fez sentir em 1975 no Encontro Nacional de Política Energética, realizada no Porto. Acresce ainda que o investimento é tão grande que o país ficaria na mão das entidades financiadores. Ficaria ainda dependente do fornecimento do combustível que só poucos países podem enriquecer, e ainda a “incapacidade das estruturas nacionais para licenciar, gerir e fiscalizar a construção e o funcionamento dos grupos nucleares.” (Redol, 2017). Além disso, a indústria nacional não estava em condições de contribuir para este programa.
O inevitável aconteceu. Em 1978 realizou-se nas Caldas da Rainha e em Ferrel, com Forum de discussão entre técnicos, ecologistas e população. Actividades lúdicas para as crianças, feira-mercado. Marcha ao local indicado para a construção da central nuclear, e aí plantação simbólica de batatas, piquenic e animação.
A construção ficou definitivamente afastada com a publicação nesse mesmo ano do Livro Branco Sobre a Energia Nuclear, a pedido do Governo, em que se concluía não haver vantagem da nuclear.
A Junta de Energia Nuclear (JEN) acabou por ser extinta em 1979, no ano do Acidente da Central Nuclear Three Mile Island nos Estados Unidos.
Em 1981, Portugal volta a mobilizar-se contra a nuclear. Agora é conta a construção em Sayago. Uma central projectada em 1973 que tinha iniciado as obras. Portugal, que tinha rejeitado a nuclear, via-se agora com uma central na sua fronteira norte, a escassos kilómetros de Miranda do Douro e a utilizar a água do rio Douro. “Percebemos o impacto que isso poderia causar nas populações. O impacto que teria no Rio, na economia, na imagem da região duriense e vinhateira”. (Regedor, 2017) A mobilização levou o protesto a Miranda do Douro onde se realizou um festival contra a central. A população não reconhecia qualquer vantagem em ter na vizinhança uma central nuclear. “ A cobertura mediática e nomeadamente com as imagens de televisão, o meio de maior impacto à época, ampliaram para todo o país o sucesso do protesto.a opinião pública nacional e o impacto internacional foi conseguido. A expressão da populações ficou expressa. O governo fez o seu trabalho respaldado na opinião e mobilização dos cidadãos. A central nuclear de Sayago não se construiu.” (Regedor, 2017). Parou definitivamente em 1984 ano em que o Plano Energético Nacional (PEN 84) e a Moratória Nuclear em Espanha afastaram de vez essa construção.
Em 1986 deu-se o desastre de Chernobil, e em 2011 o de Fukushima, dando razão aos técnicos nucleares e aos ecologistas.
A nuclear está definitivamente enterrada. As energias renováveis são o futuro.
Redol, António Mota 2017. Uma auto(alter)biografia nuclear. In Eloy, António 2017. Almaraz e outras coisas más. Caldas da Rainha: Cooperativa Editorial Caldense. P.43-54
Regedor, António José 2017. Sayago na luta contra o Nuclear. In Eloy, António 2017. Almaraz e outras coisas más. Caldas da Rainha: Cooperativa Editorial Caldense. P. 40-43
António Regedor
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