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Mais alguns livros que me parecem apropriados para a leitura de Verão. Refiro “Os Loucos da Rua Mazur” de João Pinto Coelho. Um Português apesar de ter nascido em Londres. O livro mereceu o prémio “Leya” de 2017. “No café da juventude perdida” de Patrick Modiano. Magnifica história desenrolada no Quartier Latin em Paris. “O Balneário” de Farnoosh Moshiri. Da autoria de uma Iraniana formada nos Estados Unidos da América. Um livro de uma protagonista em clima fundamentalista religioso. “La Libreria” de Penelope Fitzgerald. Tenho-o em Castelhano, mas existe em português. É a história da insistência de uma mulher em manter uma livraria aberta.
António Borges Regedor
Presumo estar certo ao considerar José Saramago um escritor essencialmente de alegorias. É o que acontece em “ a Caverna” que acabei de ler recentemente apesar da primeira edição ser já do ano 2000. Utilizando a alegoria da caverna, de Platão, vemos como José Saramago trata os centros comerciais como a caverna onde tudo é ilusão de felicidade, abundância. O que na realidade é como na caverna de Platão, uma ilusão, uma falsa imagem dada aos que aí dentro se movem.
Em Platão o homem libertava-se da ilusão que vivia na caverna saindo para a luz, a verdade, as ideias. Em “A Caverna” de Saramago verifica-se a saída do mundo real, para a entrada no mundo onírico, fantasioso da caverna. Um mundo que elimina a vida natural, destrói emprego e competências, anula pessoas e torna dependentes os que enreda na malha desse novo mundo.
António Borges Regedor
O mercado do livro de ficção é dominado pelos títulos estrangeiros, maioritariamente americanos. É a sua grande capacidade de produzir e de impor a venda de direitos por efeito da quantidade que faz baixar o custo.
Os escaparates das livrarias inundam os potenciais leitores de autores fabricados para consumo light. Apresentados em lombada, (menor visibilidade) ficam muitos dos autores portugueses de grande qualidade. Já falamos no texto (2) de Carlos Vale Ferraz e de Ana Cristina Silva.
E além de muitos outros, quero referir Alberto Santos. Deste autor comecei por ler “A Escrava de Córdova”. Um livro de 2008. O que me agradou imenso pelo meu gosto do Al-Andaluz. E posteriormente “O Segredo de Compostela”. Muito bom pela reposição da hipótese maiss provável das sepulturas que dão origem à Catedral de Santiago serem do cristão Prisciliano e não obviamente das inverosímeis fantasias da jangada ou barca de pedra de Tiago discípulo. E porque conheço lugares relacionados com o tempo e espaço cultural da época, como o Castro de Wamba e a forte presença do culto Helenístico-Alexandrino a Serapis que tem um dos seus santuários em Panóias, Vila real. Também à época a forte disputa cristã entre a corrente arianista e a romana que imbrincada no poder pode considerar heresia o arianismo e com isso condenar o Bispo Prisciliano.
Como se vê são romances históricos com inúmeras referências histórico-culturais que tornam estes livros bem melhores que os cor de rosa que as máquins de propaganda nos impingem.
António Borges Regedor
Agosto é tempo de leitura. Na esplanada à beira mar, até mesmo na areia. Também no jardim da casa ou à beira-rio. À tarde na sombra ou à noite rejeitando os programas de televisão para totós.
Um dos meus autores portugueses de preferência é Carlos Vale Ferraz. O pseudónimo do escritor. Foi militar, e daí a facilidade com que trata, romanceando os temas dos conflitos armados e nomeadamente a África e não só. “A Estrada dos Silêncios” remete para as invasões francesas e a narrativa decorre no pós revolução democrática de 25 de Abril de 74. “A Última Viúva tem o cenário na África colonial portuguesa e a realidade incapaz de bem distinguir quer as fronteiras quer os informadores da polícia política. “Nó Cego” é a narrativa mais exclusivamente militar do autor. Remete para uma das maiores movimentações de tropas na guerra colonial e cujo resultado é bem expresso no título do romance. “Que fazer contigo, pá” é outro livro onde revemos várias figuras do pós- 25 de Abril. “Angoche” evoca a nunca esclarecida perda de um navio que fazia cabotagem em Moçambique.
Ainda uma autora portuguesa da minha preferência é Ana Cristina Silva. O primeiro livro que li dela foi “A Segunda Morte de Anna Karénina”. Seguiu-se por razão do meu interesse por assuntos de filosofia, história, sociologia, ciência e literatura no período do Al-andaluz, a “Crónica do Rei-Poeta Al-Mutamid”. O protagonista nasceu em Beja, foi Rei da Taifa de Sevilha, acabou desterrado e morreu em Marrocos. Tenho agora para ler, “Salvação” apesar de ser já de 2018.
António Borges Regedor
Iniciamos Agosto e o tempo da leitura dos livros de verão
Muito do que lemos, e normalmente do melhor que lemos, são recomendações de amigos.
O que posso fazer para o melhor resultado possível na escolha de leitura agradável e proveitosa, é apontar alguns livros que tive a sorte de poder ler esta ano.
Arturo Pérez-Reverte tem um livro editado em Agosto do ano passado que tem muito a ver como se foi fazendo a reconquista cristã na Península. A romanceada história de el Cid e o seu papel na reconquista muito parecida com a história e vida de Geraldo Geraldes no caso português. Pérez-Reverte tem romances tão diversos como “A Rainha do Sul”, uma história de traficantes de droga. “O Tango da Velha Guarda” história sobre a origem do tango. “O Pintor de Batalhas”, um homem que pinta a parede da casa na falésia onde vive e de onde vê o mar. “Homens Bons” que conta a viagem de uns académicos iluministas que se deslocam a Paris para comprar a ‘enciclopedie’. Ou “Eva” o romance entre agentes secretos de lados diferentes na Guerra Civil Espanhola.
María Dueñas a autora de “O tempo entre costuras”, uma fabulosa história de uma costureira que supera a desventura do casamento com o trabalho de costura e a espionagem para os ingleses. Em “Sira” vai retomar algumas personagens do “o tempo entre costuras” e novamente a actividade de espionagem. Já em “As Filhas do Capitão” o romance faz emergir as vivências dos imigrantes espanhóis em Nova Yorque do início do século XX.
António Borges Regedor
Gonzalo Torrrente Ballester, homem do século XX (1910-1999). Professor formado em História na Universidade de Santiago de Compostela e escritor reconhecido e distinguido que de regresso dos Estados Unidos onde ensinou Literatura, fixou residência em Salamanca. Tem uma estátua em que aparecec sentado a uma mesa dentro do café Novelty na Plaza Mayor de Salamanca. (onde tirei a fotografia).
"Dafne e Fantasias" é uma ficção suportada em memórias de infância, algo de autobiográfico. A memória e a imaginação de mãos dadas neste livro. Foi editado pela Difel em 2004. A primeira edição em castelhano é de 1982.
António Borges Regedor
O principal alvo da PIDE foram os funcionários das carrinhas bibliotecas itinerantes.
A Pide, polícia política da ditadura salazarista, vigiou as bibliotecas itinerantes e perseguiu os seus funcionários propondo até despedimentos, influenciando dessa forma a gestão de uma entidade privada como a Fundação Calouste Gulbenkian.
Há casos em que as bibliotecas itinerantes são mal recebidas por ignorância instigada pelos habituais caciques locais. Mas na maior parte dos casos é com sucesso que desenvolvem a tarefa.
“A escolha e a gestão dos recursos humanos eram da responsabilidade da Fundação Calouste Gulbenkian. Inicialmente competia à FCG a seleção criteriosa dos colaboradores das Bibliotecas Itinerantes, que percorriam o país promovendo um projeto inovador, contrariando a inexistência de hábitos enraizados de leitura.” (Regedor, 2014, pag. 107).
“…foi sobre os então designados “encarregados de biblioteca” que se fixaram as maiores atenções quanto à vigilância e ao controlo ideológico exercidos pelo poder político, sendo chamada a intervir a polícia política em ligação com outras polícias com ela conectadas.” (Regedor, 2014, pag. 112).
O Regime contava já com vários instrumentos de controlo ideológico. Em 1933 a Direção Geral dos Serviços de Censura, e em 1935, a Direção dos Serviços de Censura. A ideologia era veiculada pelo Secretariado Nacional de Propaganda (SNP)criado em 1934, a que sucedeu o Secretariado Nacional de Informação (SNI), em 1945. A repressão ficava para a Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), criada em 1945. E é esta que vai perseguir e vigiar os trabalhadores das bibliotecas itinerantes.
Em 1960, a delegação da PIDE de Beja salienta em relatório o perigo que representava a atividade dos funcionários da Biblioteca Itinerante número 40. O motorista era considerado apoiante de Norton de Matos nas eleições de 1949, e o encarregado da biblioteca itinerante era descrito como oposicionista moderado, mas apoiante de Humberto Delgado, nas eleições de 1958. A PIDE pedia o afastamento de ambos (Melo, 2005).
“Outros tantos relatos de perseguições a funcionários da Fundação Calouste Gulbenkian dão conta da troca de informações, de relatórios e ofícios confidenciais da Guarda Nacional Republicana, do Gabinete do Ministro do Interior e da PIDE, para o próprio Presidente do Concelho de Ministros. A PIDE chega a forçar despedimentos, e a influenciar escolhas no recrutamento dos funcionários do serviço das Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian” (Regedor, 2014, pag. 114).
“No início de 1962, a PIDE pressiona no sentido de evitar a nomeação de Alberto da Conceição Margarido Martins para encarregado da biblioteca itinerante de Portalegre, nomeação essa considerada perigosa por ser um “indivíduo de ideias subversivas” (Melo, 2005).
Obviamente que o que preocupava o regime era o impacto positivo que as bibliotecas itinerantes causavam na pacatez popular e a inquietação nos caciques locais. E o relato de
Graça dos Santos, funcionária do serviço de bibliotecas da Gulbenkian, demonstra como este serviço agitava as populações. “Lembro, no entanto, a pequena festa popular que era a chegada da biblioteca; todo o movimento de pessoas à sua volta, sobretudo as crianças e os adolescentes” (Santos cit. in Melo, 2005)
Melo, Daniel (2005) – “As Bibliotecas da Fundação Gulbenkian e a leitura em Portugal (1957-1987)”, Análise Social, vol. XL (174), 2005,
Regedor, António Borges - Bibliotecas, informação, cidadania: políticas bibliotecárias em Portugal séculos XIX-XX. Tese de Doutoramento. Porto,2014.
A relação do poder central durante o Estado Novo com a Fundação Calouste Gulbenkian, na criação de Bibliotecas Itinerantes, não aparentou ser conflituosa. Mas só na aparência, porque na realidade a polícia política teve sempre a acção das Bibliotecas Itinerantes sob vigilância.
“Na ausência de um plano de criação de bibliotecas de modo a constituir uma Rede de Leitura Pública por iniciativa do Estado, foi a Fundação Calouste Gulbenkian que, por sua livre iniciativa e vontade, definiu as prioridades estatutárias da rede que criou.” (Regedor, 2014 pag. 112).
“O regime político do Estado Novo foi muito restritivo, e ideologicamente orientador quanto à atividade bibliotecária, havendo produzido um índice dos livros recolhidos e disponíveis nas bibliotecas.” (Regedor, 2014 pag. 111).
“Na ausência de um plano de criação de bibliotecas de modo a constituir uma Rede de Leitura Pública por iniciativa do Estado, foi a Fundação Calouste Gulbenkian que, por sua livre iniciativa e vontade, definiu as prioridades estatutárias da rede que criou.” …
… Não obstante, o regime autoritário do Estado Novo não descura a vigilância sobre a iniciativa pioneira e arrojada da Fundação Calouste Gulbenkian, mormente no arranque do serviço de leitura de Bibliotecas Itinerantes. (Regedor, 2014 pag. 112).
“Compreende-se assim o aumento da vigilância e desconfiança dos serviços de censura do Estado Novo sobre as Bibliotecas Itinerantes da rede Gulbenkian. Foram múltiplas as perseguições e pressões exercidas sobre a direcção da Fundação Calouste Gulbenkian, para condicionar a atividade de divulgação do livro dos “encarregados das bibliotecas”, incluindo o seu despedimento.” (Regedor, 2014 pag. 114).
Regedor, António Borges - Bibliotecas, Informação, Cidadania. Políticas Bibliotecárias em Portugal. Séculos XIX-XX. Porto: Tese Doutoramento, 2014
http://hdl.handle.net/10284/4291
Vallejo, Irene - O infinito num junco. Lisboa: Bertrand, 2020
Leituras de verão 1
Há cinco mil anos, os livros eram tabuinhas de argila. Placas de forma rectangular com cerca de vinte centímetros de comprimento. A escrita era feita com um estilete em forma de cunha. O sol secava esse suporte de escrita e os incêndios ao contrário de destruir foram a possibilidade dessas bibliotecas terem chegado até nós em chacote.
O livro é uma longa história do Livro ao longo da antiguidade clássica. Onde se convoca Plutarco, Alexandre, Aristóteles e Ptolomeu. Referências a Serápis, e claro a Hipathia e ao incêndio de Alexandria e obviamente ao que teria, ao certo, acontecido à biblioteca.
Uma parte do livro abordando o mundo Helénico e a outra, que finaliza, aborda o mundo romano. O novo formato de livro, as bibliotecas, a cultura.
António Borges Regedor
Em final de Agosto e princípio de Setembro, mais uma feira do livro no Porto e em Lisboa.
A do Porto é de hoje, 27 de Agosto a 12 de Setembro nos jardins do Palácio de Cristal.
Recordo-me de feiras em Abril com dias de chuva que perturbavam imenso. Este tempo torna agradável o usufruto do exterior e nomeadamente de espaços agradáveis, arborizados, com diversos tipos de apoio e complementares. Os Jardins do Palácio permitem a visita à feira, mas também os passeios e o contemplar das belas imagens do Porto para o rio e para a foz, no enfiamento do rio com imagem da ponte da Arrábida do cabedelo, Afurada, baía de S. Paio e foz do Douro. Há também no palácio espaços lúdicos para a infância. Havia em tempos onde almoçar. E há a ligação ao jardim romântico da Quinta da Macieirinha para explorar. E especialmente a Biblioteca de leitura pública Almeida Garrett e galeria de Arte. Não faltam boas razões para ir ao Palácio de Cristal e visitar a Feira do Livro.
A abertura é aos fins de semana e domingo às 11 horas e à semana às 12h30. O encerramento à semana e domingo é às 21h30 e às 5ª, 6ª e sábado encerra mais tarde, pelas 11horas.
Há novidades, mas também a oportunidade de comprar na oferta com desconto dos “livros do dia”. Pode ser que esteja também por aí a oportunidade de encontrar mais barato um livro que interesse. Mas não se fica por aí o interesse da feira. Há um aspecto que actualmente considero importante para mim. É a oportunidade do contacto com o autor, do seu autógrafo e da relação de privilégio que com ele estabeleço nessa individualização do livro.
A minha biblioteca, para além das edições de estudo e referência, é hoje cada vez mais uma biblioteca de autógrafos. É com esses que fico. Muitos dos outros ofereço.
António Borges Regedor
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