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Os avanços significativos dependem sempre de acções arrojadas. Neste campo o século XX é exemplar. Até aí as políticas do livro não existiam, e a política para as bibliotecas remetia sempre para terceiros, no caso as autarquias, que não tinham interesse, conhecimento, vontade ou recursos. Daí terem falhado sempre.
Como digo, o século XX teve o primeiro momento de ousadia. Foi protagonizado pela Fundação Calouste Gulbenkian que de forma corajosa, ousada, arrojada, enviou por todo o país carrinhas cheias de livros para emprestar sem restrições, sem medo, sem reserva. E não foi fácil vencer a iliteracia, a ignorância e o obscurantismo. Deixou semente, deu oportunidade a duas gerações terem contacto com o livro, com a leitura, a informação e o conhecimento. “Dois anos depois do início das emissões de televisão em Portugal, a 4 de Setembro de 1956, na Fundação Calouste Gulbenkian (doravante FCG), iniciava-se um novo serviço de educação” (Regedor, 2014 p.93)
Essa ousadia de 1956 abriu caminho e possibilitou, trinta e um anos depois, nova ousadia com sucesso. Foi o arrojado programa de Rede Nacional de Leitura Pública. “Para a execução deste objetivo de política de leitura pública, através da Rede de Bibliotecas Municipais, o modelo é o do estabelecimento de contratos-programa entre a administração central e as autarquias,” (Regedor, 2014 p. 155).
É a coragem que agora se verifica na dotação de meios para novo impulso na Leitura Pública, com financiamentos para modernização tecnológica, para digitalização, empréstimo de livros electrónicos, tradução e apoio ao mercado livreiro. É destas ousadias que necessitamos. E também voltar exigir qualificação específica para o exercício de funções nas bibliotecas. Requalificar, dignificar, reconhecer os profissionais de Ciência da Informação e Documentação. Exigir que nas bibliotecas trabalham exclusivamente técnicos qualificados em Ciência da Informação e Documentação. E tal como nos Museus os dirigentes das equipas de biblioteca sejam Directores de Bibliotecas. O país (como existe em países avançados), precisa da ousadia de ter uma Lei de Bibliotecas Públicas.
A Tese de Doutoramento de (Regedor, 2014) indica que “Os responsáveis políticos maioritariamente consideram vantajosa uma eventual lei de bibliotecas que incluía princípios normativos referentes ao orçamento, volume de fundos, recursos humanos, definição das competências do bibliotecário e perfil da figura do diretor da biblioteca. Do ponto de vista dos técnicos, a opinião maioritária defende a vantagem da existência de uma lei de bibliotecas que inclua normas sobre a institucionalização da figura do Diretor, mormente de este ser especialista em CID/BAD, orçamento, recursos humanos especializados, volume de fundos e renovação da coleção”. (Regedor, 2014 p. 231). Muitos passos foram dados. Passos seguros, decididos, reflectidos e corajosos. Muitos mais serão dados com igual ponderação e ousadia. As bibliotecas serão cada vez mais uma realidade assumida pelas populações. a leitura nas suas diversas formas será cada vez mais uma naturalidade nas diversas gerações.
António Borges Regedor
Nem só de pão vive o homem, e as bibliotecas precisam de investimento como de pão para a boca.
Felizmente, até 2025, as bibliotecas vão ter um financiamento que já não viam há muito tempo.
Para a modernização tecnológica de 239 bibliotecas públicas estão destinados seis milhões de euros. O número de bibliotecas corresponde ao número de municípios integrantes da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas. E é bom que se modernizem. A Rede Nacional de Biblioteca Públicas resultou do apoio da Administração Local às autarquias para construírem bibliotecas municipais e para isso apoiaram em cinquenta por cento do custo de edifício, mobiliário e equipamento, livros e outros suportes de informação. E sabemos, até pelos relatórios anuais que em muitos casos estes equipamentos pararam no tempo. Não tiveram investimento, e perderam qualidade até mesmo ao nível dos recursos humanos.
Há vinte e sete milhões para digitalização documental a distribuir pelos museus, bibliotecas e mil filmes da cinemateca.
A tradução de obras literárias para todas as línguas da União Europeia é iniciativa importante e para isso foi destinado 3,7 milhões de euros.
Também iniciativa muito importante no apoio ao mercado do livro é a fatia de 3,8 milhões destinados à transição digital das livrarias.
O que parece insuficiente é a verba de apenas novecentos mil euros com que se pretende criar uma plataforma de empréstimo de livros electrónicos em 300 bibliotecas públicas. Se o objectivo for conseguido ficaremos todos satisfeitos.
António Borges Regedor
O facto de me interessar por poesia, o de conhecer alguns poetas e o de durante alguns anos ter sido diseur numa tertúlia de poesia, chamou-me a atenção a entrevista que a revista “somos livros” faz ao médico e poeta João Luís Barreto Guimarães. Desde logo porque na primeira pergunta o poeta diz entender a poesia não como algo frágil, mas como resistência. Isso trouxe-me à memória a poesia como resistência no período da ditadura em Portugal. Recordo o meu círculo de inconformados com a ditadura, a falta de liberdade para coisas tão comezinhas como o de beber coca-cola, a perspectiva dos jovens da minha idade terem de fazer guerra colonial. E como um dos primeiros poemas nesse ambiente foi “o canto e as armas” de Manuel Alegre ou “a invenção do amor” de Daniel Filipe, ou os poemas das letras musicadas de Hendrix, Joan Baez, Bob Dylan, e Patxi Andion, e por aí adiante nos anos sessenta e setenta.
E o poeta refere a atenção que a poesia confere ao silêncio em contraponto ao tempo presente em que “toda a gente tem opinião sobre tudo”. É deste ponto de partida que me dou conta de como a poesia é síntese, essencial, depurada, palavra pensada, medida, reflectida. Assim como devia ser toda a nossa vida. Em teoria da informação tendemos a considerar boa informação a que é precisa, relevante e pertinente. Os tempos de hoje estão pejados do contrário do que é boa informação. Coisa que quase já só na poesia encontramos.
Diz também Barreto Guimarães que a poesia “dá imensa atenção” ao silêncio. E dou-me conta que a minha forma de ler poesia é a de vincar, notar, valorar, dar tempo aos silêncios do poema. Agora entendo, para além do ritmo, o valor das pausas na leitura, dos silêncios na poesia.
Não me espanta que o ICBAS na linha do seu fundador Nuno Grande, tenha decidido incluir no currículo de medicina uma cadeira de poesia. No frontão desta escola de medicina inovadora está a inscrição: “O médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe”.
Bibliografia de João Luís Barreto Guimarães: “Nómada”, “Mediterrâneo”, “O tempo avança por sílabas”, “Movimento”, “Aparte pelo todo”, “Luz última”, “Rés-do-chão”, “Este lado para cima”, “Você está aqui”.
Antóio Borges Regedor
Iniciei a leitura de “O elogio da dureza” de Rui de Azevedo Teixeira porque um escritor de que gosto e admiro o referiu como leitura recomendável. E assim é. O protagonista é um jovem que como muitos outros se vê envolvido na guerra colonial e na decisão de abandonar a faculdade. Os seus papeis de identidade dizem ser “filho ilegítimo de pai incógnito”. p.11 A arma de comando acompanha-o nas operações que realiza e que cada vez lhe faz menos sentido. Sendo um estudante de letras assalta-o “a pergunta de Ernst Junger sobre o que poderia a soceidade esperar de jovens que ainda não tinham conhecido o amor, mas já sabiam o que era a guerra.” p 43. O Jovem Paulo Lobo Ferreira em alguns momentos fazia registo do seu pensar escrito em diário. E seguia a sua vida no mato, na caserna ou na cidade. Com tiros, continências e a mulher com quem partilha o tempo que sobrava da guerra. A revolução acabou a guerra e o Paulo pode voltar aos estudos e ao ensino como sua nova ocupação de vida. Na véspera de um dos seus aniversários fica finalmente a saber quem era o seu pai.
O autor tem vários livros abordando a temática da guerra, sendo que um deles resulta da sua Tese de Doutoramento.
António Borges Regedor
Lembro alguns anos levar para férias uma pasta de livros cujos títulos, autores ou temas me suscitavam curiosidade. Ia lendo o que me agradava. Colocava alguns de lado. Era uma selecção de férias.
Hoje escolho para recomendação de leituras de verão, livros que garantidamente merecem ser lidos.
“Porto” de Ernesto Vaz Ribeiro. “Uma história da Leitura” de Alberto Manguel. “A guerra nos Balcãs” de Carlos Branco. “O segredo de Compostela” de Alberto Santos. “No café da juventude perdida” de Patrick Modiano (melhor romance de 2007). “Sobre a Leitura” de Marcel Proust. “Crónica do Rei-Poeta Al-Mu´Tamid” de Ana Cristina Silva. “Eva” de Arturo Péres-Reverte. “Os loucos da rua Mazur” de João Pinto Coelho. E de Carlos Vale Ferraz recomendo “A estrada dos silêncios”, “A última viúva em África”, “Nó cego”, “Queu fazer contigo, pá?”, “Angoche”. De poesia “Na tua ausência” de Daniela Fernandes. "Solto" de Ana Gabriela Nogueira. "Poesia Reunida" de Manuel resende. "366 poemas que falam de amor" antologia compilada por Vasco Graça Moura . De todos estes tenho notas em https://bibvirtual.blogs.sapo.pt
António Borges Regedor
A minha amiga Daniela Fernandes escreveu um livro com o título “ Na tua ausência”. É um livro em poesia. Muito pessoal. Para a tarefa de ilustração foi acompanhada por Sandra Abafa.
A Daniela tem formação base de geografia, mas fez pós-graduação em ciências documentais e é arquivista na Casa do Infante. Foi durante vários anos minha colega como docente do curso de ciências da informação e documentação na Universidade Fernando Pessoa. Teve um papel importante no processo de desmaterialização do arquivo da Câmara Municipal do Porto.
O livro é já de 2021 (Abril) das edições 100Título.
É um livro feito como coração e para melhor apresentar o livro escolhi o poema “ao teu olhar”
Mantenho num suspiro o meu pensamento,
Sei de cor as voltas que o teu coração dá.
Espero por ti, o tempo que for preciso.
Com o meu sorriso, ao teu olhar…
Um amigo ofereceu-me o “Burning The Books: a History on Knowledge Under Attack” de Richard Ovenden. Editado em Londres por John Murrray em 2020. O autor estudou na University of Durham e na University College London e foi bibliotecário. Começa com os acontecimentos do 10 de Maio de 1933 em Berlim. Vai às origens dos arquivos e posteriormente bibliotecas. Tem capítulos sobre as bibliotecas incendiadas e as bibliotecas medievais. O capítulo 10 é sobre Sarajevo. Dá grande importância aos arquivos e aborda o digital.
O outro que tenho em mãos é “O infinito num junco: A invenção do livro na Antiguidade e o nascer da sede de leitura” da Irene Vallejo. Editado pela Bertrand em 2020 traduzindo o original de 2019. É também uma história sobre os livros com anotações de histórias pessoais da autora e da sua relação com os livros. Tem recomendações de Mario Vargas Llosa, de Juan José Milás e de Alberto Menguel.
E ainda estou a reler do meu professor e amigo Henrique Barreto Nunes um conjunto de textos autografados que me ofereceu. Entre eles está o texto que o Henrique em co-autoria com o Joaquim Portilheiro e o Luís Cabral apresentaram ao 1º Congresso Nacional de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas em 1985 cujas actas foram editadas em 1986. Este texto que agora possuo com o autógrafo do Henrique tinha-o já citado na minha Tese de Doutoramento.
Como se sabe já quase só guardo livros autografados, sendo que os restantes os ofereço aos amigos pelo estima que deposito nos livros e naqueles a quem proponho a leitura.
António Borges Regedor
Em casa não tinha livros. Mas na casa da minha madrinha havia sempre “O Falcão” quer a publicação em série, quer a monográfica. Da série não me recordo. O modelo de contar histórias em fascículos não parece favorecer fixar enredos, lembrar heróis, ligar contextos e cenários. Já de “O Falcão” monográfico recordo as aventuras do “major Alvega” herói da propaganda inglesa contra os nazis. O major Alvega era um piloto da RAF que ganhava todas as batalhas aéreas em que participava. Mas havia também heróis do western tipo Texas Kid que faziam a apologia do europeu contra os índios. Os colonos atravessavas as pradarias a caminho das terras do oeste na busca de ouro ou apenas terra fértil. O General Custer e o 7º de cavalaria vingavam os ataques dos índios e empurravam-nos para reservas. Assim se faziam as histórias da minha infância. Antes tinha havido “O Mosquito”, mas já não sou desse tempo. Depois foi tempo de ler os livros de Enid Blyton. Os cinco e os sete. Mas também as biografias muito difundidas no final dos anos 60. David Crockett, Marie Curie, Robinson Crusoe e muitos outros em voga.
A primeira diversidade de livros chegou-me através da carrinha da biblioteca itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian. No primeiro momento foi o deslumbramento. E nenhum dos miúdos queria deixar de escolher e de ter livros da carrinha. Corriam para os livros como uma brincadeira. Como corriam para a bola ou rebuçados.
A literatura só chegou com as leituras escolares obrigatórias. Mas aí já não era literatura para a infância.
António Borges regedor
A partir deste ano de 2021, o dia 11 de Março passa a assinalar o Dia da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas. Decorrem 35 anos desde a data da publicação do Despacho 23/86 de 11 de Março da Secretaria de Estado da Cultura que determinou o grupo de trabalho para apresentar uma política de Rede de Bibliotecas Municipais. O despacho foi assinado por Maria Teresa Pinto Basto Gouveia. (Vulgarmente conhecida por Teresa Patrício Gouveia). Também exactamente um ano depois, a 11de Março de 1987 foi publicado o Decreto-Lei 111/87 de 11 de Março decreta uma política de Leitura Pública no quadro da Rede de Bibliotecas Municipais.
Iniciava assim a grande tarefa de construir pela primeira vez na História de Portugal uma política de Leitura Pública com a responsabilidade do Estado Central e participação das autarquias Locais. Tinha já sido tentado com o Liberalismo, com a República e amordaçada na ditadura. (Regedor, António Borges - http://hdl.handle.net/10284/4291 pag. 50 a 92).
Foi em Democracia que passou a haver uma política de Leitura Pública e se construiu uma Rede Nacional de Bibliotecas Públicas. Durante o tempo da ditadura, a única rede de leitura existente no país era privada e pertenceu à iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian.
A editora Relógio D´Água, editou recentemente 2020, “Sobre a Leitura” de Marcel Proust. O autor fala das suas leituras e refere muitos outros autores.
Na sua memória está presente o tempo dos seus pais pronunciarem “Vamos lá, fecha o livro, são horas de almoçar”, p. 9. Hoje a diferença estaria na palavra telemóvel e no livro que não se levava para a mesa. Proust ao serão “quando já não havia muito para ler antes de chegar ao fim. Então, correndo o risco de ser punido…assim que os meus pais se deitavam, tornava a acender a minha vela;” p. 18. Recorre a uma citação de Descartes no “Discurso do Método”: “a leitura de todos os bons livros é como que uma conversação com as pessoas mais bem-criadas dos séculos passados que foram seus autores”. P. 22. E nesta partilha de leituras e de autores, refere que “Schopenhauer não adianta nunca uma opinião sem a apoiar logo a seguir em várias citações” … “Lembro-me de uma página de “O Mundo como Vontade e como Representação” em que há talvez vinte citações seguidas”. P.34. Para logo a seguir dizer que “a leitura é uma amizade”. P. 36. Proust reconhece na leitura a construção do indivíduo, principalmente dos clássicos.
Proust, Marcel – Sobre a Leitura. Lisboa: Relógio D´Água, 2020
António Borges Regedor
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