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16 de Dez de 2022
XVI Encontro da Licenciatura em Ciências e Tecnologias da Documentação e Informação (CTDI)
Instituto Politécnico do Porto.
O tema do encontro é: Acessibilidade e segurança para o sucesso das organizações.
Mais uma vez integro a Comissão Científica a par de tantos colegas e amigos. Fui dos organizadores do primeiro encontro e é com grande satisfação que vejo o curso de CTDI a continuar a realizar importantes jornadas científicas nesta área de conhecimento.
Será via zoom. Link de acesso ao site do Encontro: https://encctdi.pt/
Pequeno aparelho que produzia luz eléctrica que alimentava os faróis com que se equipavam as bicicletas para circularem de noite. Tão simples.
António Borges Regedor
A Revolução já tinha sido no início do século, também já longe ia guerra civil e o cerco do Porto. Aproximando-se o final de século a cidade abre-se para o divertimento e a cultura burguesa que o liberalismo legou.
Várias famílias da burguesia portuense sentem a necessidade de construir os seus espaços de produção cultural e a construção do Real Teatro de São João é um deles. É construído em 1794 em homenagem ao Príncipe D. João, futuro Rei D. João VI. O Arquitecto foi Vicente Mazzoneschi que o desenha numa configuração em ferradura idêntica aos teatro italianos e ao Teatro de S. Carlos em Lisboa. O Porto do final do século XIX precisava de lugares onde desse espaço à sua vivência liberal. A este teatro deslocava-se de espinho Manuel Laranjeira. Ia aí assistir à Ópera, ver amigos, socializar. Bem perto do Teatro e ainda na Praça da Batalha o Café Águia de Ouro era também mais um dos pontos de encontro, de tertúlias e confidências políticas, particulares e artísticas como refere Júlio Dinis em “Uma Família Inglesa”.
Esse teatro 1908 foi completamente destruído por um incêndio. A reconstrução iniciou-se em 1911 com um projecto do Arquitecto Marques da Silva. O mesmo Arquitecto da Estação de S. Bento, Monumento aos Heróis das Guerras Peninsulares, na Rotunda da Boavista no Porto, do Liceu Rodrigues de Freitas, da Casa de Serralves, entre outros.
A inauguração só se realizou em 1920. Foi adquirido pelo Estado em 1992 e sofre obras de restauro entre 1993 e 1995. Hoje é uma das belíssimas salas de teatro da cidade do Porto.
Antóno Borges Regedor
Como aconteceu com outras descobertas, também foi na China que o papel foi fabricado pela primeira vez. A data terá sido cerca do ano 105. No século V estava generalizado na China. Em Caxemira no século VI.
Na Batalha de Samarcanda em 751 os Árabes aprisionaram fabricantes de papel chineses de quem aprenderam a fazer papel. Nesta cidade havia excelentes culturas de cânhamo e linho utilizadas no fabrico de papel.
Daí em diante o papel expande-se pelo mundo de influência islâmica.
Bagdad em 793. Percorre o Norte de África: Egipto 900. Fez por volta de 1100. Passa para a Espanha do Al Andaluz: Jativa, Espanha em 1150. entra na europa também por Itália: Fabiano, Itália cerca de 1270. Troyes, França em 1348. Nuremberga, Alemanha em 1390. Portugal em 1411. Portugal já usava papel imortado antes de iniciar o seu fabrico. Foi no Reinado de D. Dinis que este ordenou em 1305 aos tabeliães que passassem a escrever em folhas de papel, substituindo assim o pergaminho mais caro. E daí que a folha de papel mais antiga na Torre do Tombo seja de inquirições da era de 1326, que corresponde ao ano de 1288. E sabemos que Gonçalo Lourenço Gomide que era o escrivão da puridade (uma espécie de secretário particular) de D. João I recebeu o privilégio de fazer papel em moinhos no Rio Lís, perto de Leiria em 1141. Só depois a Inglaterra produziu papel em 1494. E finalmente a produção de papel atravessou o Atlântico para Filadélfia em 1690.
Em Portugal o crescimento da indústria artesanal de papel deu-se nos séculos XVII e XVIII e evolui no Reinado de D. João V para industria manufactureira. Registam-se como lugares de fabrico de papel a Lousâ em 1716 e já no século XIX Vizela. Acrescento que em Terras de Santa Maria o fabrico de papel tem já trezentos anos de existência. Aí se encontra um expressivo e cuidado Museu do Fabrico de papel.
O Professor Adriano Moreira que conheci, com quem conversei e com quem participei num colóquio, era um académico, um pensador, uma pessoa afável e cativante.
António Borges Regedor
Amarante
Atravessamos Amarante a caminho das Terras de Basto. Claro que Amarante exige pela sua monumentalidade uma paragem. E ela ocorre inevitavelmente na Ponte de Pedra e no Mosteiro de S. Gonçalo. Logo ali ao lado, o Museu de Amadeu de Sousa Cardoso fica para outra visita.
Desde logo, a Ponte de S. Gonçalo impõe-se pela construção em um arcos de pedra que suportam o tabuleiro também em pedra com 50 metros de comprimento. E a singularidade do tabuleiro ter varandins semicirculares que encimam os robustos pilares centrais. A que hoje em dia atravessamos é do século XVIII. A anterior era medieval e fortificada.
Mosteiro
O tabuleiro da ponte tem enfiamento num dos cunhais do Mosteiro de S. Gonçalo. Em 1540 Frei Jerónimo de Padilha toma a iniciativa de fundar, no local onde havia uma ermida do século XIII, o mosteiro masculino da Ordem dos Pregadores (Dominicanos). A primeira pedra foi lançada em 1543 e é o cardeal D. Henrique que em 1544 fez a doação da Igreja ao Convento. AS obras prolongam-se pelos reinados de D. João III a Filipe I.
Curiosamente ganha relevo a porta e uma fachada lateral da igreja. Esta assume a fachada principal e onde há uma varanda de quatro dos Reis em cujos reinados se desenrolaram os trabalhos de edificação da Igreja. D. João III 1521-1557, D. Sebastião 1557-1578, D. Henrique 1578-1580, (há ainda D. António 1580-1580 que não figura no grupo de representados), D. Filipe I 1581-1598.
Entramos pela porta do fundo da nave central. O espanto recai primeiro no escadório do altar mor. Em contraste e de grande beleza estática o novo altar conforme às orientações do vaticano II. Este altar é um bloco de pedra que é acompanhado no mesmo estilo de um banco de pedra sem costa (mocho). A imagem destes dois altares remete-nos para momentos importantes da histórias da igreja católica romana.
O altar elevado, onde se acede subindo uma escadaria palaciana, reservada ao sacerdote. Ao intermediário entre o criador e as criaturas. A tornar ainda mais pequenos os já de si pequenos, obedientes e submissos ao peso de uma igreja que capitalizou o poder imperial acumulado com o poder espiritual exclusivo por perseguição a qualquer outra manifestação religiosa.
E mais perto do povo que é igreja, o altar pós-Vaticano II. O que se aproxima, que se nivela por igual, irmana e confraterniza. O que se torna simples e por isso um igual entre os simples.
O púlpito é também um bloco de pedra elevado a dois degraus, em contraste com o púlpito da contra-reforma ali ao lado. É ainda de referir o órgão de tubos e o túmulo do Beato Gonçalo de Amarante.
Satisfeito o espírito-de-curiosidade da visita à igreja do Mosteiro, também a satisfação do corpo para retempero das forças físicas se impõe. E bem ali ao lado numa casa que sempre foi de repasto, pelo menos na minha memória de cerca de sessenta anos, confiando que a casa terá muitos mais, é agora denominada Café-Bar S. Gonçalo.
Para refeição escolhemos a “francesinha de cogumelos” que se revelou excelente. Boa pela novidade e pela iguaria.
Mosteiro de S. Miguel de Refojos
Mais a Norte um outro Mosteiro. O de S. Miguel de Refojos. Este Beneditino. Visitável é a Igreja e a Sacristia. A data de construção é incerta. É possível que no lugar tenha existido anteriormente pelo século VII uma capela de eremitas. No entanto o primeiro documento que refere este Mosteiro é do Concilio de Coyanza em 1015. A Carta de Couto de D. Afonso Henriques é datada de 1131. Há ainda notícia de Gueda Mendes, nobre próximo de D. Afonso Henriques ter encomendado um cálice de prata dourada em 1152. Já no século XVI, Frei Diogo de Murça, Comendatário e Reformador do Mosteiro foi nomeado em 1543 Reitor da Universidade de Coimbra. A Botica do Mosteiro é tida como impulsionadora de boticas nos Mosteiros Beneditinos portugueses. O Mosteiro tem a singularidade em Portugal por ter um zimbório. A Igreja do Mosteiro que actualmente conhecemos é construída de raiz no século XVIII em estilo barroco. A Igreja tem características muito peculiares. A fachada tem duas torres, mas só uma é sineira. O lugar de dois relógios, mas só um é verdadeiro. E no interior dos dois órgãos de tubos, um é falso ou mudo feito em madeira pintada. É realmente interessante este jogo de simetria ou falsa simetria. O cadeiral é de 1770 e o altar dourado de 1783. O edifício deixou de ser Mosteiro em 1834 na sequência da Revolução Liberal de 1820 que expulsou as Ordens Religiosas. Hoje está ocupado pela Câmara Municipal e por um colégio particular. A Sacristia que pretende ser Museu de Arte Sacra está muito longe de conseguir essa dignidade. E actualmente um espaço praticamente vazio, onde são apresentadas apenas três imagens. E não me parece ser muito difícil dotá-lo de paramentos, alfaias litúrgicas e outros elementos divulgadores da arte e até, porque não, da respectiva vida monástica. E é pena que não chegue a ser Museu, como pretende.
TERRAS DE BASTO
Foi unidade judicial medieval que compreendia, no século XIII, Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto , Mondim de Basto e algum território que hoje pertence a Amarante, Felgueiras, Ribeira de Pena e Vieira do Minho. Evoluiu ainda no mesmo século para três julgados. Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto e Amarante.
Cabeceiras de Basto é obviamente dominada pelo imponente edifício que foi Mosteiro Beneditino de S. Miguel de Refojos. O elemento água é muito importante em núcleos urbanos de montanha. As praias fluviais são equipamentos que não podem deixar de merecer a atenção nestes espaços. Teoricamente Cabeceiras de Basto tem três espaços que vocaciona para essa utilização. Infelizmente em Cavez onde a paisagem e as condições de terreno são favoráveis a represa que supostamente serviria para banhos está vazia e com aspecto de abandono. Uma praia fluvial em Ponte da Ranha foi investimento da Iberdrola a empresa proprietária das barragens hidroeléctricas do Tâmega. Pequena, pouco arborizada. O lugar é bonito, mas exigia mais ousadia no investimento. Fica-se pelo marketing da empresa.
O Poço do Frade
Fácil é perceber que o local indica água. E se o frade o escolheu, alguma virtude lhe encontrou. Não é poço, mas no tempo dos frades beneditinos de S. Miguel de Refojos podia bem ser a poça onde estes se banhavam nos cálidos dias destas terras onde o clima é tão duto no inverno como no verão. O poço do frade resulta de um meandro do rio ladeado por arvoredo que lhe dá frescura, sombra, cor e abrigo à fauna que lha dá diversos sons que são contraponto ao da água corrente. O lugar é a melhor praia que este Concelho tem e com a vantagem de ficar dentro da vila. Uma represa de enrocamento aproveita bem o meandro do rio. Arborizado como necessário ao bem estar nos dias de intenso calor de Verão. O rio permite num troço de quase 500 metros a prática de canoagem. Tem uma entrada em degraus facilitadora da entrada e saída para a zona de banhos. O fundo é regular em areão numa grande extensão, o que lhe confere excelente característica para a natação e banhos estivais. O espaço comporta ainda zona de areal que é usada para campo de voleibol. Há um bar de apoio onde se podem fazer refeições ligeiras. Há mesas na esplanada do bar e em zona de sombra do parque. Há ainda a possibilidade de alugar espreguiçadeiras. O ambiente é agradavelmente calmo combinando pacificamente com a diversidade de actividades, confortavelmente respeitoso no convívio dos grupos que notoriamente se reconhecem de outros gregarismos , suficientemente reservado no seio dos vários grupos. Enfim, bom ambiente onde se pode conversar, ler, jogar à bola, nadar, remar. O possível frade que dá nome ao lugar sabia escolher.
Centro Ambiental em Cabeceiras de Basto
Mas não é só paisagem que atrai a atenção de Cabeceiras de Basto, um Concelho do Interior Norte charneira entre o Minho verde e húmido e a terra fria do Barroso. Uma boa expressão da riqueza faunística da região pode ser apercebida num centro ambiental que é como um museu vido das espécies animais deste habitat. Num parque cercado, há delimitações para diversas espécies como veados, javalis, muflões, corços, perdizes, codornizes entre outras. É muito interessante ver o comportamento das várias espécies, ainda que estando em cativeiro e isso seja condicionante da observação e do próprio comportamento. Fica no entanto a imagem a poucos metros e a observação a pormenores dos animais em cativeiro que de outra forma seria muito difícil observar. Corços e veados que se afastam quando observados. O mesmo já não acontece tanto com os muflões que agem como habitualmente os carneiros. Em todo o caso todos eles já algo indiferentes à presença humana. Naturalmente resultado do seu confinamento e dependência alimentar. Curioso o comportamento dos javalis que em natureza são esquivos, fugidios ou agressivos quando ameaçados. Aqui mostram-se claramente dependentes e aproximam-se a troco de arremesso de algumas bolotas. Um comportamento já claramente próximo do animal doméstico. Muito interessante a oportunidade de observação deste espaço em Cabeceiras de Basto.
Ecopista do Tâmega
A Ecopista do Tâmega resulta do canal ferroviário da linha do Tâmega desde Arco de Baúlhe a Amarante. Arco de Baúlhe fica perto de Cabeceiras de Basto e pertence ao Concelho. Mas a linha ficou-se por aí até ao seu encerramento em 1990. Esta ecopista está integrada na Rede Europeia de Vias Verdes.
A Linha do Tâmega era ainda maior. Ligava a estação de Livração da Linha do Norte no Concelho de Marco de Canavezes a Cabeceiras de Basto na extensão de 51,733 Km.
De Arco de Baúlhe são 39, 102 kilómetros a percorrer até Amarante.
Seria desejável que de Amarante continuasse até à estação de Livração na Linha do Douro. Dessa forma o acesso a esta ecopista poderia fazer-se usando o comboio. Seria bom para a actividade comercial da CP, não era necessário chegar de automóvel até à ecopista, promovia a descarbonização, contribuía para o ambiente e permitia fazer dias ou fins de semana comutando a bicicleta com o comboio como transporte público.
No caso de iniciar o percurso na estação de Arco de Baúlhe, todo esse espaço da estação constitui um núcleo de Museu Ferroviário.
A pista esta renovada há relativamente pouco tempo. Tem bom piso, não exige muito esforço e a paisagem é muito agradável. É excelente ver as estações reabilitadas. Será ainda melhor quando forem pontos de apoio, descanso, de refeições a até de alojamento. Percorridos pouco mais de 11 kilómetros a pista atravessa grandes vales que são vencidos por altas pontes. A de Caniço e a de Matamá que é uma das maiores pontes em granito que serve o caminho de ferro. Tem 47 metros de altura com uma extensão de 194 metros. Aí sentimos a grandeza da Serra, sentimo-nos no alto. Com majestosas paisagem sobre os vales. Grandes horizontes. A beleza da natureza que combina as zonas florestadas nos altos e pontos agrícolas nas veigas mais cerca das linhas de água. Chegados a Celorico de Basto é de aproveitar o descanso, alguma visita ainda que rápida à Vila. Perto da Estação há onde almoçar, um parque urbano e na continuidade uma praia fluvial que merece ser aproveitada. Continuando vamos atravessar ainda mais três grandes pontes agora já em paisagem de grandes vales, cada vez mais composta terrenos agrícolas para o milho, prados e vinhedos do característico vinho verde desta região. Até atingir a estação de Gatão são 17 Km depois de Cabeceiras de Basto. E há boas razões para parar em Gatão. Desde logo a estação de caminho de ferro recuperada. A Igreja Românica dos séculos XIII – XIV com renovação a acrescentos já no século XX. Caso da Galilé e da Torre Sineira. Ao lado o cemitério onde foi sepultado Teixeira de Pascoaes (1877-1952). O icónico túnel ferroviário de Gatão. E ainda e finalmente a Tasca da Estação. Local obrigatório de paragem e de refeição. De gente simpática que confecciona excelentes pratos por encomenda e que nunca devem ser pedidos com menos de três quatro dias de antecedência. Um vinho fabuloso. Um ambiente doméstico em casa rústica de mesas de madeira e mochos para sentar. Decorada com louceiros e taças de fruta, pratos e calendários nas paredes, garrafas e Zé-Povinho a encimar armários, flores, bandeiras, medidas e canecas empregos nas paredes, casa acolhedora.
Núcleo do Museu Ferroviário de Arco de Baúlhe
A Linha de Caminho de Ferro do Tâmega começava na estação de Livração-Marco de Canavezes na Linha do Douro. Seguia para Amarante, Celorico de Basto e ia até Arco de Baúlhe onde tinha a última estação. Isto já no concelho de Cabeceiras de Basto. Esta estação terminal de Arco de Baúlhe é hoje na sua totalidade um núcleo museológico dos caminhos de ferro portugueses. Foi inaugurada a 15 de Janeiro de 1949 e a linha foi encerrada a 1 de Janeiro de 1990. Foram quarenta e um anos de passageiros, mercadorias, correios, vida vivida de maquinistas, bagageiros, chefes de estação, água a correr para alimentar as caldeiras e carvão, muito carvão para dar vida a essa forma de ligar o território de Basto ao Rio Douro através de montes e vales, rasgando encostas e galgando rios.
A 8 de Janeiro de 2000, foi assinado um protocolo entre a Rede Ferroviária Nacional – REFER, E.P. e a Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto para a gestão e dinamização da Secção Museológica.
O conjunto inclui a Estação revestida com painéis azulejares, executados em 1940 por A. Lopes na Fábrica de Cerâmica Sant’Anna localizada em Lisboa. É um edifício de rés-do-chão e primeiro andar. A fachada ostenta no cimo e ao centro um belíssimo painel de azulejos com um escudo da nação e a inscrição: “Caminhos de Ferro do Estado”. A linha permanece no seu lugar de sempre. Para a travessia de uma plataforma a outra ainda lá estão as passadeiras constituídas por travessas de madeira. Pelo meio o balastro evidencia a passagem do tempo. As agulhas para os desvios de linhas e a plataforma giratória usada para inverter o sentido da marcha da locomotiva são outro motivo de memória. Ainda lá está a grua de abastecimento de água para as caldeiras das locomotivas e o torre depósito de água. O depósito de carvão consiste numa enorme caixa rectangular em paredes de granito. Na linha está uma composição constituída pelo furgão DEfv 506, uma carruagem fechada construída em 1908 pela «Dyle & Bacalan», em Lovaina na Bélgica. Destinava-se ao transporte de correio e despachos, que seguia acoplado a comboios de passageiros. O vagão EAKLMO 5937023 de caixa aberta para transporte de mercadorias foi construído entre 1909 e 1911 nas Oficinas do Barreiro. Há ainda o vagão-cisterna UHK 7012002 com a capacidade de 10 000 litros construído em 1926 pela empresa Van der Zypen & Charlier na Alemanha. A locomotiva MD 407 / N.º 8916, construída em 1908 na empresa «Henschel & Sohn» (Kassel, Alemanha), está numa cocheira onde também repousa a automotora a gasolina ME 5 construída em 1948, nas oficinas gerais da CP, em Santa Apolónia, Lisboa. Possui motor Chevrolet, a gasolina. O aspecto é o de uma habitual camioneta de passageiros em tudo idêntica às que víamos nas estradas. É ainda visitável a carruagem CEyf 453 construída em 1908 na empresa «La Métallurgique, Nivelles», na Bélgica. Destinava-se aos viajantes que seguiam em 3.ª classe. Uma carruagem de passageiros com entrada por uma plataforma com varandim e porta que dava para o interior da carruagem. Do varandim havia uma porta de grade que permitia a passagem entre carruagens. A plataforma com varandim tinha ainda duas portas que podiam fechar em andamento dando maior segurança. Os bancos em madeira da carruagem correspondiam às condições de viagem em 3ª classe que existia no tempo de Portugal salazarento. Um vagão de mercadorias com serviço “correio” que consistia num espaço com vários cacifos para separação dos destinos das cartas e um banco onde o empregado dos correios se sentava para cumprir essa tarefa enquanto o comboio circulava. Numa outra (garagem) cocheira segundo a designação da época, estão estacionadas mais duas carruagens, mobiladas e em excelente estado de conservação. Uma delas é a carruagem-salão SEfv 4001 (MD 1) construída em 1905, na empresa «Ateliers Germain», em Monceau sur Sambre, na Bélgica. Foi usada pela primeira vez na linha do Corgo pela Rainha D. Amélia de Orleães, em Junho de 1907, na sua visita às Termas de Pedras Salgadas. E a carruagem-salão SEyf 201 / N.º 1801 (CN 2) construída em 1906, na empresa Carl Weyer & C.ª, em Dusseldorf, na Alemanha, foi tal como a anterior usada pelo Rei D. Carlos na mesma viagem às Pedras Salgadas em 1907.
Ainda no edifício da Estação são conservadas peças, mobiliário, equipamento, utensílios e documentos. Há um exemplar de telefone de comunicação entre estações que era absolutamente necessário porque só podia haver um comboio na linha e o cruzamento só se podia fazer nas estações. Caixas dos bilhetes previamente impressos para os vários destinos e que eram vendidos em estação. Cacifos para despachos de mercadorias, já que cumulativamente ao transporte de passageiros seguiam no comboio carruagens de mercadorias e também correio como já foi referido. Bandeiras de sinalização que podiam ser verdes, amarelas ou vermelhas. Malas usadas pelos revisores. Exemplos de embalagens, caixas e malas de mercadorias despachadas. Há ainda balanças, obliteradoras, continentes para jornais e documentos. Cornetas para avisos sonoros, alicates de revisores fazem parte do acervo. Mapas horários, avisos e tantos outros pormenores que davam vida própria às estações de caminho de ferro de outros tempos que a memória não pode perder.
Celorico de Basto
Dista cerca de 20 kilómetros de Amarante. Coisa que se faz em cerca de 20 minutos em estrada de montanha ou pode ser feito em menos de duas horas numa pedalada de passeio pela ecopista da antiga linha do Tâmega.
Celorico de Basto apresenta-se como uma vila bem agradável. Desde logo por se tratar de uma localidade com vários parques e jardins de camélias e uma prática muito peculiar de as tratar e podar. E é isso que podemos observar no jardim do Prado. Celorico de Basto é característico por podar de forma singular as camélias que existem abundantemente pela cidade em jardins particulares e parques públicos.
A vila é servida por várias noras e levadas que constituíam o sistema de força motriz a muitos moinhos. Todo esse percurso dos moinhos é hoje um belíssimo parque público que se estende pelo centro da vila até uma praia fluvial ampla, agradável onde não falta uma zona de areal junto à água.
Em destaque e de grande visibilidade existe o Centro Documental Marcelo Rebelo de Sousa, Biblioteca e Auditório. Os edifícios bem integrados no sítio, criam várias formas e relacionam-se de várias maneiras com o terreno, os seus declives e construções pré-existentes aos blocos que constituem o Centro de Documentação, a Biblioteca Pública e o Auditório. Mas o complexo não impressiona apenas do ponto de vista físico. Do ponto de vista documental para além do acervo habitual de uma biblioteca de leitura pública, há toda a documentação que Marcelo Rebelo de Sousa deposita nesse centro de documentação.
António Borges Regedor
Diogo Freitas do Amaral escreveu uma biografia de Afonso Henriques. Confesso que a base do meu conhecimento sobre o primeiro Rei de Portugal vem essencialmente da bibliografia de José Mattoso. A minha análise crítica leva-me a rejeitar as fantasias de Alexandre Herculano e a curiosidade levou-me a conhecer a perspectiva de Freitas do Amaral.
É interessante que nesta biografia está presenta a verificação dos factos pela lupa do jurista. Assim é em assuntos como a determinação do encontro de Zamora (1143) foi um acto de vassalagem do rei Português ao seu primo também Afonso. E Freitas do Amaral afirma que de jure é sem dúvida vassalagem. Como já o tinha sido em Tuy em 1137. E apesar de Freitas do Amaral condescender em descrever os mitos que em boa parte constituíram o ensino da história de Portugal no período da ditadura fascista, avisa do que se trata e delimita no texto. Assim fez quando à hipotética batalha de Ourique de que não se conhece o lugar onde decorreu e do pouco que se sabe, Freitas do Amaral tem o cuidado de colocar ponderadas dúvidas quanto ás fantasias de heroicidade e valentia que a tradição construiu ao longo dos tempos e com que monárquicos por ignorância, falta de rigor científico, má intenção ou construção ideológica teimam em mentir.
É um pequeno livro de duas centenas de páginas que merece a nossa leitura.
António Borges Regedor
A triste sina das colónias portuguesas
A Revolução industrial criou novas necessidades em energia, matérias-primas e minérios aos países que se iam industrializando.
Foi isso que os fez olhar a África mesmo àqueles que não tinham aí tradição de presença.
Mesmo Portugal não tinha presença na ocupação do território africano. Apenas colonizava feitorias costeiras e pequenos territórios à volta delas. A ocupação do território era uma fantasia e o direito histórico da ocupação do território pouco ou nada consistente.
Para os finais do século XIX há muitos conflitos entre zonas de influência de cada país industrializado em África, o que se compreende pela necessidade de assegurar os territórios com as matérias-primas necessárias a cada um desses países.
Em 1870 Portugal sente a necessidade de alargamento para o interior dos territórios que colonizava. E essa tarefa vai ser realizada pela Sociedade de Geografia de Lisboa no intuito de travar o expansionismo Britânico do Cairo ao Cabo. E desenvolveu as acções recorrendo a subscrição pública destinada a estabelecer estações civilizadores nas colónias. Daí a a pretensão do mapa côr-de-rosa. O que fica deste episódio da subscrição pública é o fraco empenho da monarquia portuguesa na questão colonial. Também não será de admirar, já que se trata de uma casta política essencialmente terratenente que também não se empenha na industrialização. E é o baixo nível de industrialização que não a leva a monarquia portuguesa a olhar o interesse estratégico das colónias.
É em 1887 pouco antes da Conferência de Berlim convocada para dividir a África pelas potências industriais europeias que Portugal desenvolve as poucas iniciativas de expedição pelo interior das colónias, protagonizadas por Hermenegildo Capelo, Roberto Ivens e Serpa Pinto. E por aqui se ficam.
Obviamente que em 1884/1885 na Conferência de Berlim não é reconhecido o critério do direito histórico. Fica determinada a livre circulação dos rios. No caso de Portugal refere-se ao Congo, Zambeze, Rovuma. E Portugal perde a foz do Rio Congo, ficando apenas com Cabinda.
Ainda no ano de 1885 no ano da conferência Portugal negociou com a França e a Alemanha a delimitação das fronteiras dos territórios portugueses. Assinou com a frança em 1886 onde ainda apensou o mapa cor-de-rosa. Com a Alemanha foi em 1887 e também aí colocou o mapa cor-de-rosa. Também essas negociações explicam as fronteiras traçadas a linha recta com o Congo e com a Namíbia e também com a Zâmbia. De nada adiantou para os ingleses o mapa côr-de-rosa. Prevaleceu a vontade do mais forte. As fronteiras das colónias portuguesas eram resultado dessas negociações e da partilha colonial da África e não da herança deixada pelos feitos heróicos dos portugueses como dizia a propaganda salazarista no tempo da ditadura.
A data de 5 de Outubro, da Proclamação da República Portuguesa, incomoda muitos monárquicos, especialmente os Miguelistas. Estes animam actualmente a propaganda contra a República. E para sobrepor e tentar ocultar a data da proclamação da República revivem uma suposta data para a independência de Portugal.
O Pacto, ou paz de Zamora é um acto que afirma a vassalagem do Rei Afonso Henriques ao Imperador Afonso VII de Leão. Este reconhece Afonso como um entre outros reis seus súbditos, similar aos Reis de Navarra ou Aragão. E concedeu a Afonso a tenência do senhorio de Astorga, o que fez de Afonso um seu vassalo. Por esse senhorio Afonso devia acorrer às necessidades de Afonso VII caso este o chamasse. Basta esta prova dos factos para ver quão forçada e fraudulenta é a tentativa destes autores falsearem a História por razões de gosto ideológico e falta de honestidade científica. Nota: a independência de Portugal é posterior, mas isso é outro assunto que nada tem a ver com o 5 de Outubro data da Implantação da República Portuguesa.
Seria melhor à causa monárquica afirmar outras datas para a independência de Portugal. E digo outras datas , porque a independência de Portugal é um processo, e não algo ao estilo do “estado novo” que se resolvia com uma data e um herói.
Afonso Henriques tal como a sua mãe, nunca se remeteu à condição de Conde e vassalo do seu primo o Imperador Afonso VII. Aliás, Afonso Henriques sempre se intitulou Príncipe e neto do Imperador Afonso VI. As suas pretensões são a da independência. E coincidem com as dos Senhores no norte do Condado Portucalense e com as da Igreja de Braga principalmente.
Começa logo por não comparecer em 1135 à coroação do seu primo Afonso VII como Imperador de Leão a que pertencem os Reinos de Aragão, de Navarra e o Condado Portucalense naturalmente. A seguir faz incursões na Galiza e derrotado é obrigado em 1137 a assinar à Paz de Tui. São testemunhas o Arcebispo de Braga D. Paio Mendes, o Bispo do Porto D. João Peculiar, e os Bispo de Segóvia, Tui e Ourense.
Em 1139 ou 1140, os Historiadores divergem na data em que passa a assinar como Rex. Isto depois da tradição dizer que foi na Batalha de Ourique que foi aclamado de Rei pelos soldados. E aqui não há nada de certezas. Não há certeza do local onde decorreu a batalha. Segundo palavras de Freitas do Amaral (2000), a primeira vitória de Afonso Henriques terá sido entre algumas centenas de combatentes de cada lado, e não terá sido muito demorada já que três dias depois estaria de volta a Coimbra. São as crónicas posteriores que fantasiam este episódio.
Em 1141 o torneio ou justas de Valdevez ditam uma trégua até à paz de Zamora em 1143. E aqui os monárquicos portugueses escolhem, infelizmente, um acto de vassalagem para comemorar a independência de Portugal. Do encontro não há nenhum documento que altere a vassalagem de Afonso Henriques desde as tréguas de Tui. Em apenas duas cartas se refere um “colóquio” do Imperador com o Rei de Portugal e com a presença do Cardeal Guido enviado de Roma. O reconhecimento de Afonso Henriques como Rei faz-se no contexto de vassalagem ao Imperador tal como acontece com o Rei de Navarra ou de Aragão. Reforça ainda a vassalagem o facto de Afonso VII ter concedido a tenência de Astorga-Zamora ao Rei Afonso Henriques. Este acto de vassalagem obrigaria o Rei Português a acorrer em auxílio de Afonso VII a pedido deste. Para Afonso VII este pacto de Zamora aumenta-lhe o prestígio. Sempre é mais um Rei que tem como seu vassalo. E tanto assim é que Afonso Henriques logo em Dezembro desse mesmo ano, e em violação do acordado, escreve ao Papa a pedir a “liberdade romana” que o colocaria sob autoridade do Papa e dessa forma isento de outros poderes civis. No caso concreto liberto da “dependência feudal do Imperador de Leão” (Freitas do Amaral: 2000). Se Afonso Henriques se sentisse independente, não precisava pedir nada a ninguém. Fraca data escolhem os monárquicos para tentar afirmar a independência de Portugal e dessa forma tapar a proclamação da República portuguesa. Pois é isso que tentam os que restam do Miguelismo português.
Mas pior para Afonso Henriques, já que na carta de resposta do Papa, este não o trata por Rei, mas apenas por Duque. E também não chama a Portugal reino, mas apenas “terra”. A humilhação feita pelo Papa Lúcio II a Afonso Henriques não podia ser maior. Lembro-me que estas coisas não se aprendiam na cartilha única da quarta classe do tempo do salazar. Os miguelistas portugueses andam pelo mesmo trilho. Se estes quisessem uma data significativa escolheriam talvez o ano de 1156 em Afonso VII divide propriedades no Rio Minho afirmando acordo de Afonso Rei de Portugal. E aqui sim. O Afonso VII decide de um acto com o consentimento de Afonso Henriques, colocando-se assim em pé de igualdade na tomada de decisão. Afonso Henriques é de facto Rei de Portugal. Passa a ser de “jure” quando recebe do Papa a “bula Manifestis probatum”. Era o ano de 1179 e tinha o Rei Português 35 anos de idade.
Bibliografia:
Amaral, Diogo Freitas (2000) – D. Afonso Henriques. Biografia. Bertrand Editora.
Mattoso, José (2006) – D. Afonso Henriques. Mem Martins: Circulo de Leitores.
Mattoso, José (2015) – Identificação de um País. Lisboa: Temas e Debates.
António Borges Regedor
5 de Outubro de 1910
Proclamação da República Portuguesa
Os indivíduos deixam de ser súbditos para serem cidadãos. Deixam de ser vassalos para serem livres. Esta é a questão filosófica essencial à diferença entre Monarquia ou República. De resto há muitas diferenças entre as Monarquias, como o mesmo acontece em Repúblicas. Umas e outras podem ser mais democráticas ou mais totalitárias, revestindo-se de formas diversas. Gostaria de limitar ao essencial a diferença filosófica que é a da dignidade ontológica. Ser súbdito ou ser livre. Filosoficamente prefiro ser livre. E esta é a minha declaração de interesses.
Hoje comemora-se a República. Esta forma de ser livre, igual e fraterno.
António Borges Regedor
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