. A linha do Vouga voltou a...
. Mosteiro de São Salvador ...
. ...
. IFLA e Lei de Bibliotecas...
. Manifesto 2022 para as Bi...
. Boavista
. O Porto ainda a meio do s...
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Tinha ouvido falar do “leitor”, presumo que, na pós-graduação em Ciências Documentais. O “Lector” é o indivíduo que lê enquanto os operários fabricam os famosos charutos cubanos. Achei a ideia interessante. Quando fui a Cuba obviamente visitei a Partagás em Havana. Posteriormente fui a Pinar del Rio onde se fabricam os charutos com denominação de “havanos”. A visita ás fábrica tinha, para além de ver como se fabricam os charutos, o especial interesse em ouvir o “leitor”. Logo na Partagás tive essa oportunidade. A Fábrica está instalada num edifício antigo, junto ao Capitólio, e foi fundada em meados do século XIX. Uma típica industria manufactureira. Comecei a visita pelo local onde se faz a escolha e selecção dos vários tipos de folha com que se faz o tabaco e separação em vários lotes seleccionados para as várias funções que ocuparão na charuto. As folhas para a parte mais interior do charuto. As folhas que envolvem esse núcleo, e finalmente o tipo de folha que é usado para capa. das folhas. Trabalho maioritariamente feito por mulheres. A zona onde se enrolam os charutos é um grande espaço amplo e onde maioritariamente homens estão sentados lado a lado em frente a pequenas bancas individuais de madeira. Uma imagem parecida com a das oficinas de ourivesaria. Impressiona a agilidade, rapidez e exactidão com que os charutos são enrolados. Já depois de prontos há ainda dois tipos de controlo de qualidade. Um mecânico e outro humano executado por alguns homens cuja função é provar alguns charutos dos lotes que vão sendo produzidos. E a um canto do enorme salão que é a oficina, elevado por um estrado e sentado numa cadeira, lá está o leitor em frente ao microfone. A ler as notícias, comunicados, romances. Sem ter mudado muito desde o tempo em que esta maneira de ler ganhou forma. Espantei-me, deliciei-me e senti-me feliz por passar por essa experiência.
Quem melhor explica a origem do “leitor” é Alberto Manguel (1): “Não sabia nessa altura que a arte da leitura em voz alta tinha uma história longa e itinerante e que, há mais de um século, na colónia espanhola de Cuba, se estabelecera como instituição dentro dos limites rígidos da economia cubana.
O fabrico de charutos era uma das principais indústrias de Cuba desde o século XVII, mas em 1850 o clima económico alterou-se. A saturação d mercado americano, a subida da taxa de desemprego e a epidemia de cólera de 1855 convenceram muitos trabalhadores de que era necessária a criação de um sindicato para o melhoramento das suas condições . Em 1857, fundou-se uma Sociedade de Ajuda Mútua dos Trabalhadores Honestos e Tarefeiros para o benefício dos trabalhadores da indústria tabaqueira de raça branca; foi criada uma Sociedade de Ajuda Mútua semelhante a esta para os trabalhadores negros livres em 1858.”... “Em 1865, Saturnino Martínez, operário da indústria de charutos e poeta lembrou-se de publicar um jornal para os trabalhadores da indústria” ... “Com o apoio de vários intelectuais cubanos, Martínez publicou o primeiros número de La Aurora em 22 de Outubro desse ano.” ... “ não tardou a aperceber-se, o analfabetismo era o empecilho óbvio à popularidade de La Aurora” ... “Martínez lembrou-se da ideia de um leitor público. “ ... “avistou-se com os trabalhadores da fábrica El Fígaro e, após obter a permissão do proprietário, convenceu-os da utilidade da iniciativa. Um dos trabalhadores foi escolhido como leitor, o lector oficial, e os restantes pagavam-lhe do seu próprio bolso. ” ... “ A 7 de Janeiro de 1866 iniciava-se a leitura na fábrica El Fígaro. Outras fábricas acabaram por seguir o exemplo de El Fígaro.” Alberto Manguel continua a contar-nos esta maravilhosa história do leitor. A actividade foi considerada subversiva pouco tempo depois de iniciada. A 14 Maio de 1866 governo proibiu “distrair os trabalhadores” e ameaçava com julgamento os proprietários das fábricas. Apesar da proibição continuaram a realizar-se por algum tempo sessões de leitura clandestinas. “Em 1870 tinham praticamente desaparecido” .
A Guerra da Independência dos Dez Anos é iniciada por Céspedes, um proprietário agrícola cubano em 10 de Outubro 1868. Isso leva a muita emigração para os Estados Unidos onde a prática do “leitor” foi restaurada ainda em 1869.
“O material para estas leituras, escolhido previamente pelos trabalhadores (que à semelhança da época do Le Fígaro, pagavam ao lector do seu próprio bolso), ia desde panfletos políticos e livros de História até romances e colectâneas de poesia, tanto modernos como clássicos. Tinham os seus favoritos: O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, por exemplo, tornou-se uma escolha tão popular que um grupo de trabalhadores escreveu ao autor, pouco antes da morte deste, em 1870, pedindo-lhe autorização para dar o nome do herói dos eu romance a um dos charutos. Dumas consentiu.” Uma das características desta manifestação de interesse pela informação e gosto pelo romance era que o leitor “interpretasse as personagens, imitando-lhes as vozes, como um actor.”
Assim era a actividade de “lector”. Actividade que ainda hoje se mantém. Tão longe de 1866.
(1) Manguel, Alberto – Uma História da Leitura. Lisboa: Editorial Presença, 1999. pag 122 a 125
António Borges Regedor
Os clubes de leitura que conhecemos têm um formato presencial, que coloca os vários leitores a trocar opiniões, perspectivas e análises dos livros que vão lendo. Mas não é um formato único. Ao longo da história os clubes de leitura começaram por ser de leitura em voz alta, dado poucos saberem ler e os livros serem raros.
Nos finais do século XVIII com a maior disponibilização do livro impresso, e em razão do seu elevado custo, surgiram os gabinetes de leitura. Nem todos so burgueses se podiam dar ao luxo de ter livraria. Daí que o hábito de leitura da pequena e até média burguesia tivesse passado pelos gabinetes de leitura. Eram iniciativas comerciais. Aí eram emprestados livros a troco de um pagamento. E nessa linha várias associações operárias já nos finais do século XIX, também influenciadas pelas ideias liberais e republicanas também foram formados gabinetes de leitura direccionados aos operários e trabalhadores.
Só depois surgiram as bibliotecas populares que em Portugal são criadas já por legislação republicana.
A formação de Bibliotecas Públicas inicialmente com fundos eruditos, e com desenvolvimento incipiente por razões económicas e de analfabetismo generalizado na população portuguesa, resultou num conceito de leitura silenciosa. A biblioteca tinha normalmente um depósito de livros e uma sala onde se fazia a leitura. E obviamente, essa configuração espacial tinha necessidade de silêncio.
Vamos no entanto encontrar um caso curioso de leitura em voz alta e colectiva. Uma prática nas fábricas de charutos. Perante um trabalho repetitivo e monótono, os trabalhadores quotizavam-se para ouvir um “lector” a contar os romances de que mais gostavam. É aliás essa a razão porque muitos dos charutos têm nome de livros. É o caso de Romeu e Julieta, ou de Montecristo.
Actualmente, sujeitos aos cuidados de distanciamento. Com a redução ou mesmo supressão das reuniões presenciais parece estar criada a necessidade e possibilidade dos grupos passarem para as várias formas de comunicação on-line e redes sociais. É um desafio, mas será uma oportunidade para evoluir para nova forma de existência de clubes de leitores. Afinal, é só mais uma mudança ao longo da história. A interacção pode ser feita pelas ferramentas disponíveis e já usadas no ensino e reuniões. As redes sociais podem até servir para a impossibilidade de estarem todos ao mesmo tempo em directo. Nestas pode ser lançado o livro para leitura e o grupo passar a fazer as suas intervenções quando tiver oportunidade na plataforma escolhida. Desde há muito tempo há no facebook um grupo de citações de livros que foi lançado por um professor de Salamanca, tenho seguido um grupo que apresenta sugestões de livros. E nada impede que se formem grupos para ler e comentar um livro em moldes idênticos ao que se pratica nos grupos presenciais. A pandemia não acaba com a leitura e os clubes de leitores mais uma vez podem mudar mas não acabar.
António Borges Regedor
João I filho ilegítimo nascido em Lisboa no ano de 1357, aclamado pelo povo sequência de uma conspiração que ficou conhecida por defenestração a 6 de Dezembro de 1383. Foi eleito rei nas cortes em em 1385.
No Porto, em 1387, casou com a neta do rei Eduardo III de Inglaterra que lhe reforçou a aliança com esse país. Em 1389 a negociou o 2º Tratado de Monção, que estabelecia tréguas e restituía por troca, terras conquistadas. Portugal cedia a Castela Salvaterra de Miño e Tuy, e recebia desta Mértola, Noudar e Olivença, no Alentejo, e Castelo Melhor, Castelo Mendo e Castelo Rodrigo, no Ribacoa. Em 1411 é assinado um Tratado de Paz com Castela.
Em 1415 para a conquista de Ceuta foi pregada uma bula do Papa de Pisa João XXIII, mas logo muda para o Papa de Roma Gregório XII. (Era o tempo do Grande Cisma da Igreja Cristã e chegou a haver três Papas em simultâneo).
Aliás, a empresa de Ceuta que abre caminho à exploração marítima foi executada com grande mestria diplomática e estratégica. Já no Tratado de Windsor havia uma Convenção Marítima anexa que dava a Portugal a segurança da navegação entre o Canal da Mancha e Gibraltar.Depois foi a anulação dos conflitos com Castela, reduzindo nessa frente a tensão e o perigo. E finalmente o modo sigiloso na preparação da conquista de Ceuta . Em 1414 reune em sigilo as Cortes em Torres Vedras para tratar de assuntos da conquista de Ceuta. A construção da Armada nos estaleiros de Miragaia no Porto. O embarque em Lisboa, foram operações de simulação do verdadeiro fim em vista, a conquista de Ceuta.
Em 1420 nomeou o seu filho Henrique administrador da Ordem de Cristo.
A sua mestria negocial não se manifestou apenas na diplomacia externa, foi também na forma de governar com o apoio de Cortes que reuniu quase anualmente.
D. João I foi um verdadeiro mestre da negociação.
António Borges Regedor
O vestuário é apenas a face visível de uma situação bem mais degradante da condição da mulher. O essencial da questão é a condição ontológica da mulher. A sua consideração de "ser" ("ontos") inferior, dependente, subordinada a uma autoridade masculina (pai, irmão, marido, tio, cunhado, primo). Sem vontade própria. Sem direitos pessoais, familiares e sociais. Sem direito a receber instrução e à escolha da profissão. Sujeita ao castigo arbitrário, psicológico e físico, que pode ser extremado até à morte. O seu estatuto social é inferiorizado aproximando-se do estatuto dos animais irracionais. (Ausência de direitos próprios. Só tem os direitos que lhe forem conferidos pelo homem de que depende (dono). E podendo ser castigada e morta como os animais). Esta questão da dignidade ontológica é que é fundamental. O resto são aspectos mais visíveis, importantes mas não essenciais. A crítica ao Islão não pode limitar-se ao aspecto folclórico do vestuário.
Restam já poucas dúvidas da derrota de Trump. Mas mais do que isso há uma constatação que se impõe:
Os Estados desunidos da América.
Há claramente dois mapas dos USA. O do Litoral e o do Interior. O Litoral Democrata progressista, industrial, cultural e o Republicano conservador, retrógrado e proto-fascista nas suas expressões racistas, chauvinistas, supremacistas, agressivos, e ainda rural e bronco, nas suas expressões ignorantes, terraplanistas, negacionistas da ciência, efabuladores e fantasistas políticos, alimentados por mentiras (fake news na expressão local).
Mas não deixa também de espantar que nos votantes haja tão pouca consciência de si próprios, de auto.estima e respeito pela sua identidade, direitos e deveres.
O que espanta é que sabendo-se da relação hostil que Trump tem para com as mulheres, quase metade ainda veja no energúmeno algum argumento para votar nele.
Espanta também que após a campanha para colocar os hispânicos atrás do muro, que um em cada dois não tenha espelho. Que falando da Covid 19 como o vírus chinês, ainda haja um em cada asiático que vota nele. Depois espantem-se que os chineses não tenham respeito pelos vizinhos. E também espanta que apesar de poucos, um em cada dez de negros goste de bastonadas e de morrer com tiros da polícia.
Espanta também que quatro em cada dez votantes com ensino superior encontrem alguma afinidade com as mentiras, os negacionismos e as tretas da terra plana do Trump.
Bem precisa a Europa de se afirmar como espaço autónomo de referência civilizacional, ético, cultural, económico, de justiça e de segurança para não se afundar com o império em derrocada e poder afirmar-se face ao império emergente.
António Regedor
Chamavam-se cartuchos. Eram feitos de papel reciclado. Cinzentos porque pouco lixiviados. É a adição de cloro que faz o papel mais branco, mas também mais ácido e menos durável. Estes papeis resultavam de processos mais simples de fabrico. Praticamente só maceração extensão da pasta e secagem. Sem branqueamento, sem calandragem. Eram usados para diversos fins, entre os quais o embrulho. Eram vendidos vulgarmente em folhas de tamanho "A3". Em meados do século XX os cartuchos de papel eram usados para embalar mercearia. Arroz, e grãos diversos. Havia ainda uns mais finos, mais clareados e calandrados usados para o que se designava de mercearia fina. Café ou açúcar por exemplo. Havia ainda um toque de distinção de algumas casas que tinham uma imagem de marca que imprimiam nos cartuchos. A impressão era feita na casa que também fabricava os cartuchos através de uma com "zincogravura",. a marca do cliente. Dava origem a séries de cartuchos impressos e exclusivos de determinadas casas, normalmente de mercearia fina.
António Borges Regedor
. Livros que falam de livro...
. Dança
. Rebooting Public Librarie...