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Istambul: Memórias de uma cidade, é um livro muito pessoal, muito autobiográfico do Nobel da Literatura Orhan Pamuk.
O livro é recheado de descrições de locais de Istambul, aproveitando para contar histórias da juventude, dos locais de residência e de férias. Das várias casas onde Pamuk viveu e as suas ambiências. Da família e da escola. Uma excelente forma de conhecer Istambul.
Pamuk, Orhan – Istambul: Memórias de uma cidade. Lisboa: Presença, 2008.
A burguesia mercantil do Porto no século XIV vive já fora da cerca que o cabido domina. E o Porto vai ter nova muralha para o defender. São 3400 metros de perímetro com seis a dez metros de altura de uma muralha de dois metros e meio de espessura e torres de catorze a vinte metros mais E para maior reforço tinha como nos diz Armindo de Sousa, a muralha era reforçada com cubelos, adarves, torres adossadas, balcões providos de mata-cães, torreões, varandins. e cavas.
Para a comunicação com o exterior e para o funcionamento comercial a muralha era provida de portas localizadas na maioria a norte e de postigos na sua maioria de ligação ao rio. Não havendo certeza de quantas portas e postigos, sendo que alguns postigos passaram a portas, calcula-se que tenham sido dezassete.
Vamos percorrer a muralha numa viagem hipotética a partir da estação de S. Bento. Junto a este lugar, que originalmente foi o mosteiro beneditino feminino de S. Bento da Avé Maria situa-se a porta de Carros. Esta porta parece resultar da evolução da existência anterior de um postigo. E a própria porta só se construiu 145 anos após a construção da muralha. É portanto uma porta tardia construída por necessidade do aumento do movimento e de crescimento da cidade.
Antes da existência da porta de Carros, a muralha era servida pelo postigo das Hortas que também foi chamado de postigo do Vimial. Após a construção do convento dos Cónegos Seculares de S. João Evangelista (padres Lóios), veio a ser chamado de postigo de Santo Elói.
Subindo para o Campo do Olival, hoje a Cordoaria, havia a porta do Olival situada num ponto alto que estava defendida por um castelo. Um pequeno pedaço da muralha ainda hoje pode ser observado no interior de um café e de uma farmácia.
Continuando para oeste havia o postigo das Virtudes por referência a uma fonte antiga conhecida por Nossa Senhora das Virtudes. Posteriormente veio a ser porta com o mesmo nome.
Segue-se o postigo de S. João Novo também conhecido por postigo da Esperança.
Continuando a descer havia o postigo da Praia que deixava de fora a praia de Miragaia, uma zona baixa e plana onde desagua o Rio Frio. Posteriormente, por iniciativa de D. Manuel é elevado a porta com uma torre e um arco que lhe dá uma nobreza que a vem a considerar a porta principal. A porta Nobre, por onde entra a nobreza e o clero. Foi demolida em 1872.
Daí avançamos para o muro da ribeira e as várias ligações ao rio. Ligações fundamentais para a defesa e igualmente para o comércio e toda a actividade portuária indispensável à vida da cidade e ao principal modo de transporte da época. O barco. E a cidade liga-se ao rio pelo postigo dos Banhos, postigo da Lingueta que mais tarde passou a postigo do Pereira de acesso a um largo cais. O postigo do Peixe que posteriormente se designou postigo da Alfândega em frente ao terreiro da alfândega. Foi demolido em 1838. O postigo do Carvão que ainda existe.
Logo a seguir para nascente a porta da Ribeira ao centro da muralha virada a sul. Tinha torre fortificada mas destruída para erigir a capela de Nossa Senhora do Ó. Para leste da porta da Ribeira ficava o postigo do Pelourinho, o postigo da Forca, o postigo da Madeira e o postigo da Lada. A entrada seguinte fazia-se já no cimo da escarpa e virada a nascente pelo postigo do Carvalho, já que se situava no sítio chamado Carvalhos do Monte. Mais tarde postigo de Santo António do Penedo. Evoluiu depois para postigo do Sol e finalmente porta do Sol. Seguia-se na muralha a Porta de Cimo de Vila defendida por torres. A seguinte era a Porta de Carros por onde começamos esta viagem.
Bibliografia
Oliveira, Eduardo de Sá Oliveira - Duas muralhas, duas cidades. A História Militar do Porto Medieval. [Dissertação Mestrado] U Porto. 2013.
RODRIGUES, Adriano Vasco, As muralhas do Porto medieval In Ingenium: Revista da Ordem dos Engenheiros, nº 2. Lisboa, Julho/Agosto de 1986.
SOUSA, Armindo de, “Tempos Medievais”, in História do Porto, dir. de L. A. de Oliveira Ramos, Porto: Porto Editora, 2001.
Legenda da Foto: Vista da porta das verdades, que à época da construção estaria dissimulada. É visivel a escadaria que conduz ao Barredo e o arco de um aqueduto que ainda pode ser observado actualmente numa pequena parte da sua extensão.
As portas da Cerca Velha
No povoado castrejo da Pena Ventosa terá havido uma cerca. Além desta defesa pré-romana terá havido uma outra do seculo III. Mas a que melhor conhecemos do Porto antigo é a que corresponde ao traçado da Rua de D. Hugo. E que é designada por sueva, do Bispo, ou Cerca Velha.
No século XII o perímetro da muralha tinha cerca de 750 metros, e quatro portas. A principal, com torre, chamada de Vandoma. Uma segunda porta, conhecida pelo Portal. O acesso era por escadas. O nome desta porta mudou no século XVI para Sant’Ana. Foi demolida em 1821, fica na literatura pela mão de Almeida Garrett no romance o Arco de Sant’Ana. No lugar existe ainda um nicho.
A terceira porta era a das mentiras. Teria sido uma porta disfarçada e por isso a porta da traição. Uma porta falsa. Hoje é renomeada porta das verdades e dá acesso ás escadas que descem até à Lada.
A quarta é a porta de S. Sebastião, que provavelmente só terá sido aberta no século XVI. Nessa altura era designada Porta do Ferro.
António Borges Regedor
Segundo (Oliveira, 2013: 11) na sua dissertação de Mestrado há recentes achados arqueológicos (2009) que revelaram um troço de muralha datada do século II a.C. que altera, ligeiramente, o registo de cercas defensivas da cidade do Porto.
Damião Peres pensa tratar-se de restos duma dupla cerca castreja, (Peres, 1962: 24 cit in Oliveira, 2013: 12)
Parece assim termos uma muralha castreja, pré-romana (séculos II-I a.C.) que se encontra-se junto à muralha medieval.
Isto faz considerar três muralhas no Porto em contraponto ás que conhecíamos. A Sueva e a Fernandina.
Bibliografia:
Oliveira, Eduardo de Sá Oliveira - Duas muralhas, duas cidades. A História Militar do Porto Medieval. [Dissertação Mestrado] U Porto. 2013.
PERES, Damião, “Origens do Porto” in História da Cidade do Porto, vol. I, Barcelos: Portucalense Editora, 1962.
António Borges Regedor
Estoril um romance escrito com um nítido toque jornalístico, a denunciar a profissão do autor. Estoril durante o período da segunda guerra mundial era ponto de passagem das famílias ricas que fugindo à usavam esta plataforma para trânsito com destino aos Estados Unidos da América. O autor narra algumas histórias e personagens com alguma dose de comicidade.
Passam pelo hotel, personagens como Ivan, um espião, ou um pequeno jovem judeu ortodoxo que chega ao hotel sozinho cheio de dinheiro , sem que os pais tenham conseguido passar a fronteira. A recebê-los está o porteiro Manuel. “Desde manhã até à noite abro a porta e a cada um que entra eu desejo as boas-vindas. Isso faz parte do meu serviço e é de altíssima importância…” p.38. Claro que também são atentamente vigiados pela PVDE – Polícia de Vigilância e de Defesa do estado, a polícia política do Estado Novo, o regime fascista português que resultou do golpe de estado de 28 de Maio de 1926 e da constituição corporativa de 1933.
Os hóspedes iam ficando mais ou menos tempo necessário para conseguir os vistos e os bilhetes para os barcos que os afastariam da guerra, e os levariam territórios onde poderiam continuar os seus negócios e vidas.
Uma das citações inseridas no livro: “um dos primeiros truques da arte de bem governar é saber não emitir ordens que é impossível cumprir”. O romance desenvolve-se no Estoril, em ambiente de refugiados ricos da 2º guerra.
Há passagens simultâneamente hilariantes, jocosas, doces e cáusticas. Uma delas é de Paderewski músico e antigo presidente da Polónia (p.51) que ia dar um concerto no Casino do Estoril estando de passagem para a América, mas aproveitando o momento de propaganda. O espaço íntimo do Casino foi abrilhantado com trajes de noite, visons, jóias (p.53). Seria um concerto com peças Frédéric Chopin, entre elas a Sonata Fúnebre com o maestro a tocar à moda antiga e num piano ligeiramente desafinado mas que não impediu de no final o público aplaudir de pé e gritar “Bravo” (p54). A peça terminou (p55) o maestro saiu e ninguém sabia bem o que estava a acontecer. O maestro pensava ter executado todo o programa. Não sabendo como lhe explicar o equívoco, Cardoso, o inspector da PVDE recruta nos empregados do hotel o quinteto que continuou o concerto. No final do concerto o inspector da PVDE chamou os jornalistas e explicou que o maestro era um grande artista e um grande estadista de um país amigo e sobre o que se tinha passado, não seria censura mas devia ficar na opinião pessoal dos senhores jornalistas e não ser noticiado e os fotógrafos deveria retirar as películas das máquinas fotográfica. Assim se resolvia os casos difíceis para o país.
Stankovic nasceu na Sérvia e naturalizou-se português. Passou por Londres e veio viver em Portugal. É escritor e tradutor. Traduziu do servo-croata para português O Nobel Ivo Andreic. Traduziu de português para sérvio Saramago, Cardoso Pires, Fernando Pessoa.
“Estoril” é do ano de 2015 e finalista de vários prémios. É ainda vencedor em 2016 do prémio Branco Copic da Academia Servia de Ares e Ciência.
Tiago-Stankovic, Dejan – Estoril. Um romance de guerra. Silveira: Book Builders. 2017.
António Borges Regedor
https://www.facebook.com/ExercitoPortuguesPRT/videos/336645057435059
Um dos principais temas deste blogue são as bibliotecas.
Aproveito a oportunidade para divulgar a Biblioteca do Exército Português.
A leitura do artigo de João Abel da Fonseca intitulado “A empresa de Ceuta – Dos antecedentes às circunstâncias que ditaram as causas próximas” permitem-nos compreender melhor a lógica, o sentido e o alcance imediato da conquista de Ceuta. (1)
Ceuta foi conquistada em 1415 no reinado de D. João I. Afirma João Abel da Fonseca num texto intitulado “A Empresa de Ceuta – Dos antecedentes as circunstâncias que ditaram as causas próximas” que tal fora possível por actos que a possibilitaram e que já vinham de D. Dinis. Logo no início deste reinado, em 1280, foi criada uma armada para a defesa da costa Algarvia sediada especialmente em Tavira. Por sua vez, D. João I assina, em 1386, com a Inglaterra o Tratado de Windsor e a Convenção Marítima anexa. Desta forma Portugal garante “numa articulação entre o Mediterrâneo e o Atlântico, encontrou novos limites – o meridional no estreito de Gibraltar e, mais tarde, o setentrional no canal da Mancha” (Fonseca, 2016, p.63).
Borges Macedo é da mesma opinião e refere que “Portugal, com esta aliança, ao lado da independência como estado,conservou a sua função europeia de garantir uma área essencial de tráfego internacional,livre das hegemonias peninsulares”. (Cronica da Tomada de Ceuta. Jorge Borges de Macedo, na sua História Diplomática Portuguesa – constantes e linhas de forca, precisamente, no capitulo intitulado “A defesa do equilíbrio”) (Macedo 2006, cit in Fonseca, 2016). (2)
Não é só Portugal interessado no Mar e nos territórios de África.
Já em 1260 Afonso X de Espanha tinha ordenado uma expedição marítima punitiva a Sale (Marrocos).
Em 1291 pelo tratado de Monteagudo e pelo Acordo de Soria a costa Magrebina era dividida ficando Espanha com os territórios a oriente de Ceuta e Portugal com os territórios a ocidente desta cidade.
Mas não se tratava apenas de garantir uma zona alargada de navegação segura. Outros países também tomavam iniciativas marítimas concorrenciais.
Algeciras foi tomada por Fernando IV de Leão e Castela.
Por seu lado o Sultão Abu al‑Rabi Sulayman, Rei de Marrocos, contratou mercenários aragoneses que conquistaram Ceuta ao Sultão Muhammad III de Granada e a entregaram ao Rei de Marrocos em 1309.
Uma expedição às canárias em 1341 é desencadeada conjuntamente por lusos-florentinos-genoveses.
Em 1400 Henrique III de Castela enviou uma esquadra que destruiu Tetuão
A igreja católica também exercia pressão para a tomada de posições aos mouros. D. Dinis foi incentivado a conquistar terras que ainda não tivessem diocese. D. Afonso IV recebeu indulgências para a conquista do reino de Fez. E para a conquista de Ceuta foi pregada uma bula do Papa em Pisa, João XXIII, apesar de no período de tempo entre 1410 e 1415 será o período do grande cisma na igreja católica e haver três papas em simultâneo. O já referido e ainda em Roma Gregório XII e em Avinhão Bento XIII.
Em todo este contexto impunha-se a conquista de Ceuta. A ideia de ir sobre Ceuta nascera, pelo menos, em 1409. (Fonseca, 2016). Em 1411 é assinado um Tratado de Paz que se seguiria a tréguas em vigor até 1413. Seguiu-se a reunião do Conselho secreto ou Cortes de Torres Vedras em 1414. Depois é já o que sobejamente conhecemos. A construção de cerca de metade da armada construída nos estaleiros de Miragaia que à época era uma enorme praia e onde hoje é o edifício da alfândega transformado em museu das comunicações. O episódio do abastecimento que atira para este facto o costume do consumo de tripas. O embarque das tropas em Lisboa. As escalas em Lagos e Faro e finalmente a tomada de Ceuta com cerca de 237 navios sendo de entre eles cerca de 88 naus.
Ainda segundo o autor referido a empresa de Ceuta teria como objectivos a afirmação do poder régio, a reconciliação nacional, a saída para a precária situação económica de alguns nobres e o controlo do comércio.
(1) FONSECA, João Abel da. – A empresa de Ceuta – Dos antecedentes às circunstâncias que ditaram as causas próximas. In João Abel da Fonseca, José dos Santos Maia e Luís Couto Soares (Cor) - Ceuta e a Expansão Portuguesa:Actas XIV Simpósio de História Marítima. Lisboa: Academia de Marinha, 2016.
(2) MACEDO, Jorge Borges de – História diplomática portuguesa: constantes e linhas de força. Estudo de Geopolítica. [Lisboa]: Instituto da Defesa Nacional, 2006.
Manguel, Alberto – Uma História da Leitura. Lisboa: Presença, 1998.
Portugal inicia uma rede nacional de bibliotecas por iniciativa de uma instituição privada, a Fundação Calouste Gulbenkian, um ano depois do regime ditatorial ter lançado a televisão. Apesar deste atraso que faz marco histórico, espantosamente um escritor , Alberto Manguel, escolheu Portugal para doar a sua biblioteca. Dessa forma dá corpo em Lisboa a um Centro de Estudos da História da Leitura.
Ele que é autor do fabuloso livro "Uma História de Leitura" editado em Portugal pela editorial presença em 1998. Foi-me muito útil. Recomendei-o aos meus alunos nas aulas de Licenciatura e Pós-graduação de Especialização e Mestrado. Voltei a ele e ás anotações que faço sempre nos livros que leio.
Sobre a leitura Manguel coloca a questão de não se limitar á leitura alfabética, mas esta é apenas uma das suas manifestações (p.20). Manguel entende a leitura de todo o que vemos e interpretamos. Ou seja, a tradução de signos. De seguida aborda as várias formas de leitura ( silenciosa ou em voz alta)e até os lugares de leitura (na cama por exemplo). E mesmo as mulheres e a leitura (p.85) para as interessadas.
A propósito da leitura em voz alta achei interessante a referência ao “lector” figura importante no trabalho de enrolar charutos.
Abordas questões da educação na antiguidade e na idade média. E aprendizagem da leitura.
Há também notas sobre a história da escrita e sobre os suportes.
E claro que como bibliotecário, director da biblioteca nacional da Argentina, não podia deixar de abordar a catalogação (p.199).
Não deixa de ser fascinante continuarmos a ver novidades em cada um dos livros que acrescentamos ás nossas leituras e de cada vez que os relemos.
António Borges Regedor
No café da juventude perdida, Patrick Modiano descreve um certo ambiente da “rive gauche” do Sena e dessas ruas de Paris. São nos anos sessenta os cafés dos intelectuais, dos artistas, dos noctívagos e mais tardiamente dos turistas e nostálgicos. Num desses cafés, o Condé, “que fechava mais tarde” ela “escolhia a mesma mesa, ao fundo da pequena sala”.
É a história de Louki, aliás Jacqueline Delanque ou, aliás, Choureau, nome de casada
O autor, Modiano, é Nobel de 2014. Mas já tinha o Grande Prémio de Romance da Academia Francesa em 1972. E o Prémio Goncourt em 1978. E ainda o Grande Prémio Nacional das Letras em 1996.
O livro é editado pela ASA, mais uma editora do grupo Leya, e tem uma página de rosto medíocre. Esta gente devia saber que a página de rosto deve indicar o local e a data de edição. Formalmente os livros são cada vez piores. Grandes escritores não merecem editores ignorantes.
Modiano, Patrick - No café da juventude perdida. 2ª ed. Alfragide: ASA, 2014. ISBN 978-989-23-0454-0
António Borges Regedor
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