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Hoje é dia de dizer muitos lugares comuns sobre o livro e a leitura.
É comum dizer-se que se devia ler mais, e melhor. Que em Portugal se lê menos, muito menos, que nos países com sucesso científico, económico e social.
Mas não se pode querer hoje o que o país nunca teve, nem mudar de um dia para o outro.
No início do século XX o analfabetismo era generalizado. 78,6% da população era analfabeta.
Na República o ensino primário era de oito anos, mas apenas três eram obrigatórios.
Na ditadura o ensino primário foi reduziu inicialmente para 3 anos. Já só nos anos setenta a quarta classe passou a ser obrigatória.
Mesmo assim, o limite de idade para a escolaridade obrigatória era os 14 anos de idade, e o analfabetismo, e o abandono escolar era muitíssimo alto ainda no 25 de Abril de 1974.
Não admira que a primeira biblioteca pública, ou seja, de acesso ao público, embora de característica patrimonial e erudita, tenha sido aberta apenas em 1833.
Mais significativo é que em 1958, quando as carrinhas da Gulbenkian começam a levar livros à população, a televisão já há um ano lhes conquistava a atenção pela novidade. A televisão chegou primeiro a casa dos portugueses.
António Regedor
Manifestação de 15 de Abril de 1972 no Porto contra a Carestia de Vida
Faz hoje quarenta e sete anos que no Porto se realizou, em pleno regime de ditadura, uma manifestação contra a carestia de vida. A poucos dias do 1º de Maio, data festiva na Europa Democrática, mas proibida em Portugal de Ditadura. Até aí, o 1º de Maio ia tentando ser comemorado tanto quanto possível. O local de concentração era a baixa do Porto, essencialmente a Praça D. Pedro IV, ou Praça da Liberdade, antiga Praça Nova onde esteve o edifício da antiga Câmara Municipal. Nesses tempos a concentração de pessoas que mais ou menos deambulavam pela Praça e se estendiam pela Avenida dos Aliados e ruas e praças adjacentes, era nitidamente maior. Mas nada de manifestações como hoje as conhecemos, já que ao menor aglomerado de pessoas a polícia presente em força mandava dispersar. À época corria a piada que mais de dois era ajuntamento.
Foi para esta praça que a manifestação contra a carestia de vida foi convocada. A Praça e a Avenida eram os pontos términos de eléctricos e autocarros, e na proximidade da Estação de S. Bento e não longe da estação da Trindade. Local, portanto de muita concentração, para tomada de transportes e de passagem de um para outro modo de transporte. A manifestação, como as outras foi marcada para o fim da tarde, hora de saída dos empregos e portanto de muita gente.
Nesse dia do ano de 1972, e em resultado de grande quantidade de folhetos distribuídos clandestinamente, a Praça estava nitidamente diferente. O Ambiente político era qualitativamente diferente. Poucos anos antes, em 1970 tinha sido fundada a intersindical. Estava-se numa crise que vinha já desde 1970, com elevadas taxas de inflação. Quase metade do orçamento de estado era gasto na guerra colonial.
O Regime também se tinha preparado para esse dia. As forças policiais, a chamada polícia de choque, equipada com capacete, escudo, e bastão, estava concentrada nos cinco pontos estratégicos para o cerco à Praça da Liberdade e à Avenida dos Aliados. Estava atrás da Câmara Municipal, na Praça Filipa de Lencastre, Praça D. João I, Largo dos Lóios e Estação de S. Bento. E dispersos um pouco por toda a Praça da Liberdade os pides e legionários que se encarregariam de vigiar e provocar a dispersão, prender e carregar com bastões sobre as gentes concentradas, fossem ou não manifestantes.
Foi o que fizeram, logo que uma bandeira nacional foi levantada por um manifestante junto à estátua de D. Pedro iV na Praça da Liberdade. Uma mole de gente compacta avançou no sentido da Avenida da Liberdade. Quem levava a Bandeira Nacional só conseguiu atravessar os metros de rua. Os pides e legionários identificaram-se com braçadeiras e fitas que ocultavam nos bolsos dos casacos. Desde logo e por todos os lados havia pides e legionários à bastonada indiscriminada. De todos os pontos saíram os polícias de choque. Todas as ruas ficaram bloqueadas. As correrias de fuga eram travadas com barragens de polícias que freneticamente espancava todos, sem distinção, manifestantes ou não. Em poucos minutos, fugiu quem pode. Muitos refugiados em estabelecimentos. Cafés que cerravam as portas e corriam cortinas. Corpos tombado no chão por espancamento. O trânsito cortado e a evacuação dos que se tinham escondido nos cafés da baixa, era feita em fila indiana, entre as paredes e filas de polícias e observados pelos pides. O 1º de Maio não teve história nesse ano. Foi preciso passar mais um 1º de Maio em ditadura. Só em 1974 em Abril e já quase no fim do mês se abriu a Praça da Liberdade à Liberdade.
António Regedor
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