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O porco cevado durante o ano, na véspera já não comeu. Os da casa, da família que há muito vive na cidade, mas que nesta e noutras alturas de festa regressa sempre. Também alguns amigos vieram ajudar.
A manhã acordou fria e branca, não de neve mas de geada. Daquela que pinta as árvores sem folhas. Debaixo de telheiro já está o banco corrido, a faca pousada, o alguidar no chão. O bicho há-de vir pelas orelhas e pelo rabo. Outros lhe pegarão nas patas e o colocarão deitado de lado no banco, seguro pelos restantes. E todos serão necessários quando ele sentir tão incómoda posição.
Agora ainda é tempo de trincar o presunto do ano anterior, com figos e azeitonas. Encher e repetir o copo de vinho. Assim é o mata bicho para o que mais se seguirá.
Nestes climas frios, o lugar do porco é na cave de uma casa onde por cima se guarda palha e outras coisas e por isso lhes chamam palheiro. É para lá que se encaminham os homens, e é de lá que arrastam aos guinchos o animal do ritual que alimenta a família por mais um ano. Colocado no banco, segurado com firmeza facilitando a destreza do punho do matador que aponta a faca certeira que de imediato faz calar o animal. Já sem vida, sem mexer, o sangue tinta o alguidar.
A seguir vai ser o queimar dos pelos com palha e o raspar com água quente e uma pedra até a pele ficar branca e lisa. Há-se ficar a arrefecer, depois ser desmanchado para salgar. Cortar as carnes poderá ser nos dias seguintes quando se encheram as tripas e as colocarem ao fumo em lareiros. A boa cura do presunto é de pelo menos 12 meses.
António Regedor
A Ponte da Misarela é conhecida pela ponte do diabo. E bem assim lhe podem chamar. E por várias razões. Por razões naturais. Localiza-se num profundo vale estreito, entre duas montanhas, e por onde se chega por carreiros serpenteados nas encostas de um e outro lado. É aqui bem perto que o rio Rabagão se une ao Cávado. E é aqui onde dois maciços rochosos, estreitam o rio que cai de uma fenda e o lança em caldeiras onde as pedras rolam até se polirem e formarem bolas graníticas, brinquedos de gigantes mitológicos ou do diabo, quem sabe. Dois rochedos que se elevam de um e outro lado do rio, são os contrafortes onde a ponte granítica encaixa e se comprime de robustez. Essa ponte medieval que foi reabilitada já no século XIX. Na sua vida foi palco de várias contendas, geralmente as motivadas pela independência e pela liberdade. Em Maio de 1809, durante as invasões francesas, neste lugar da freguesia de Ferral, juntaram-se oitocentos barrosões que ousaram travar caminho aos exércitos de Napoleão. Gente da terra, sem treino militar, mas calejada na rudeza da serra, conhecedora de todos os caminhos, atalhos e veredas onde emboscar, surpreender, golpear. No local, a placa indicativa do feito, afirma que sangrou o exército de Napoleão. E assim terá sido. Com as tropas em carreiros de pé posto, de largura nunca superior a suportar dois homens armados e equipados. Carregados da bestialidade da guerra. Na ponte onde há só lugar a passar uma carroça de cada vez. Fácil terá sido aos paisanos, tisnados do sol e esgueirando-se pelo arvoredo, fazer sangrar a tropa do imperador. Os lugares são muitos de onde com mosquete, ou só à pedrada se podia atingir a tropa fardada. As invasões fracassaram, o país manteve a independência. Mais tarde na luta fracticida entre liberais e absolutistas, a ponte voltou a receber os actores de mais um drama nacional. Desde 1870 que a nação estava dividida. Desta feita foram os liberais que vacilaram diante dos absolutistas comandados pelo General Silveira a caminho de espanha onde se refugiou. Quis o fado nacional que neste mesmo lugar a contenda entre os Constitucionais, Liberais do General Antas, derrotassem os cartistas absolutistas do Marechal Saldanha, do Duque da Terceira e do Barão de Leiria.
Do ponto de vista antropológico o local está ligado ao culto da maternidade. A mulher com dificuldade em ter filhos . As mulheres com dificuldades de maternidade, deveriam acompanhadas por mais dois homens aguardar o primeiro passante na ponte que lhes baptizaria a criança ainda na barriga. Os nascidos rapazes chamar-se-iam Gervásios e as raparigas, Senhorinhas.
António Regedor
Bibliotecas em altura como se fossem catedrais.
São belas estas bibliotecas em edifícios de enormes pé-direito. As estantes alinham-se paredes acima. Chega-se a elas por escadas. Normalmente em caracol que acedem aos varandins. Por vezes as escadas são ocultadas. Como acontece na escada da biblioteca do Conde de Óbidos em Lisboa, em que a escada se oculta numa porta relógio e tem a saída numa espécie de púlpito. Nunca deixamos de nos surpreender com as várias formas das bibliotecas.
António Regedor
Uma biblioteca é por definição uma colecção de documentos ordenados de modo a permitir a maior e melhor informação nela contida.
Colecção porque resulta da vontade de alguém reunir uns documentos em detrimento de outros. Tem portanto um critério temático. Documentos por ser constituída por suportes de informação que tradicionalmente eram livros, mas que ao longo do tempo em que foram surgindo novos suportes, discos e fitas magnéticas, visuais, audios, electrónicos e digitais, os foi incorporando sempre pelo critério da informação contida. Ordenados por haver necessidade de recuperar informação, apenas conseguida através da sua descrição física e intelectual. Ou seja, descrever o formato e tipo de suporte físico e descrever o seu conteúdo informativo o mais exaustivo possível através de uma linguagem técnica, artificial que traduza a informação de forma a ser pesquisada e encontrada pela sua pertinência. Quer dizer pela importância que possa ter para o pesquisador.
Normalmente é usada uma notação de localização que resulta da simplificação de uma classificação decimal universal. Alguns, poucos elementos dessa classificação são usados para dar uma cota de localização do documento físico. O conteúdo intelectual pode ser pesquisado mais exaustivamente se tiver sido efectuada uma indexação que usando palavras da linguagem natural, constitua uma linguagem organizada por assuntos no sentido de traduzir o conteúdo dos documentos.
Não havendo qualquer regra que indique a ordem das classes de classificação na montagem da biblioteca, há o costume de as colocar por ordem numérica crescente. Mas não tem de ser assim sempre. Há diversas formas de organizar a montagem das bibliotecas. Uma delas é a organização por centros de interesse. E esta forma é compatível com as cotas das notações da classificação decimal universal, a mais generalizada no mundo ocidental.
António Regedor
Recentemente comemorou-se o Armistício da Guerra de 1914-1918 na Europa, também conhecida por Primeira Guerra Mundial. A 11 de Novembro o Armistício é assinado entre o Império Alemão e os Aliados.
Este ano Portugal deu destaque a essa assinatura de paz na Europa, realizando um desfile de forças de defesa e de segurança.
O facto é importante por diversos motivos. Resulta essencialmente das disputas pelo controle de territórios a colonizar e donde se garantiria o fluxo de matérias primas essenciais ao desenvolvimento de industrialização europeia. Depois, porque ficou mal resolvida, foi seguida por uma crise económica e antecedeu regimes autoritários e uma segunda guerra.
Nesses quatro anos da primeira guerra foram mobilizados mais de setenta milhões de soldados. Era muita gente para alimentar. E as necessidades de uns, constituem as oportunidades de outros. A Fábrica de conservas Brandão Gomes de Espinho, soube aproveitar a oportunidade de vender comida em conserva para as tropas em conflito.
Podemos verificar isto numa publicação do Museu Municipal de Espinho, em forma de Jornal da Época. O número 3 de 18 de Maio de 2018. Por título apresenta-se a “Real Fábrica de Conservas Brandão, Gomes e Cª.” E apresenta a lista das refeições de campanha apropriadas para o exército, e tendo também o cuidado de dizer que também se indicavam para o turismo. Não menos importante a nota de esclarecimento que dizia tratar-se de alimentação igual à que a Inglaterra distribuía ao seu pessoal no ultramar, nomeadamente ás suas tropas em terra e mar. E podendo as conservas serem consumidas em frio, tinha o cuidado de recomendar que fossem aquecidas, para o que dava instruções. Tanto as refeições como as sopas deviam ser aquecidas em água a ferver pelo espaço de trinta minutos. No caso de aquecidas ao fogo, devia reduzir-se para quinze minutos e ser previamente abertas. A oferta era grande e variada. A Brandão Gomes, fornecia sopas de macarrão, de legumes, de nabos com arroz e de grelos com feijão branco. Dizia o folheto de apresentação que se recomendava estas sopas por “constituírem uma refeição extremamente substancial devido à sua composição de carne, chouriço e toucinho em caldo de grande valor nutritivo”. Para além da canja com galinha, havia Carneiro guisado com batatas, vitela à jardineira, chispe e orelheira com feijão branco, dobrada à portuguesa. Quanto a carne de vaca, havia com macarrão, com grão de bico e chouriço, com ervilhas, com feijão branco, com legumes, com arroz e ainda com batatas. Bacalhau havia guisado com batatas, com arroz e guisado com grão de bico.
Não espanta que com tal variedade, tenha sido um bom negócio para a Brandão Gomes. E que com este saber aproveitar a oportunidade, se tenha criado muito emprego, gerado riqueza e desenvolvido Espinho.
António Regedor
No meu blog “bibvirtual” de 9 de Agosto de 2018, e com o título “Caminhos de Ferro a serem devorados”, dava conta da alemã Deutshe Bahn, ter comprado uma empresa que era inglesa, para começar a operar de forma privada a linha de Corunha ao Porto. Já todos sabemos que a partir deste ano uma normativa da União Europeia, que é comandada pela Alemanhã, obriga a liberalizar o sector ferroviário.
O cidadão comum só agora se terá dado conta que a União Europeia quer mesmo liberalizar o caminho de ferro. Mas isso é, de há muito, conhecimento dos alemães, das empresas ferroviárias, e portanto também dos políticos, e dos gestores da CP, como é bom de ver. E a operação de caça à CP está montada.
Em Agosto do ano passado foi o ridículo argumento que os comboios no pico do verão aqueciam mais que o habitual. Nunca tinha sido problema desde que os pendulares e Intercidades existem, mas o ano passado foi. Depois a cozedura da CP em lume brando continuou com o bombardeamento de notícias sobre a falta de manutenção. Lembremos que a Sorefame foi vendida à concorrente Bombardier que a desmantelou. Mais bombardeamento de notícias sobre a falta de carruagens e de locomotivas. Ficou a saber-se que há locomotivas do tipo do intercidades, paradas e que as carruagens em falta são alugadas à empresa espanhola. Sai agora uma nova notícia de compra de carruagens. Será a reedição de uma outra tentativa de aquisição de material circulante que já esteve para marcada há dez anos atrás e não se efectuou.
Tudo estaria bem, se esta aquisição viesse com determinação de investir na CP pública, contribuindo para a melhoria do serviço público, do desenvolvimento social, da promoção do transporte colectivo, da redução da factura do carbono e melhoria da qualidade de vida e finanças do país.
Tudo muito lindo, mas parece que não será bem assim. Sabemos por Francisco Fortunato em artigo assinado a 14 de Janeiro de 2019, que o negócio poderá não ser apenas o da aquisição de unidades para o serviço regional, mas poder envolver a RENFE e o longo curso. A RENFE faz logo saltar a campaínha dado ser a parceria de Vigo-Porto, a tal em que os alemães da Deutshe Bahn estão interessados. E o longo curso que é precisamente a linha apetecível por ser a que anda sempre cheia e dá lucro.
Em 2009 estavam proposta a aquisição de 25 automotoras para o serviço regional e 6 unidades para o longo curso.
Hoje fica-se apenas por 22 para o serviço regional e é avançado um instrumento empresarial internacional com a RENFE, leia-se uma empresa, para onde seriam transferidos os 10 pendulares, colocando a renfe cinco ou seis comboios também para esse eixo de negócio que é o longo curso. Tudo isto parece configurar a formação de uma empresa, que a pretexto da falta de capacidade de investimento e aliada ao interesse da exploração rentável pelos grandes grupos internacionais como a alemã Deutshe Bahn, aproveita a normativa da União Europeia, para efectuar a privatização. Coisa que não interessa aos Portugueses, ao Estado Português, à economia nacional. Talvez interesse aos alemães, aos chineses e a alguns gestores que a esta hora estarão a pensar no seu recrutamento para a futura empresa privada.
Uma eventual privatização das linhas mais rentáveis da CP, iria deixá-la apenas com as linhas de necesssidade social que são obviamente as menos rentáveis. O que seria muito mau para a empresa pública e para o Estado.
António Regedor
Fonte: António Regedor bibvirtual https://bibvirtual.blogs.sapo.pt/caminhos-de-ferro-a-serem-devorados-199704
Francisco Fortunato. www.sindefer.pt
O Blog da jornalista Renata Cafardo, no jornal O Estado de S.Paulo, informa nesta sexta-feira (9) que o Ministério da Educação (MEC) do governo Jair Bolsonaro (PSL) alterou o edital para aquisição de livros didáticos que serão entregues em 2020.
Entre as modificações promovidas pela equipe do ministro Ricardo Vélez-Rodriguez – que foi indicado por Olavo de Carvalho – está a que abre espaço para conteúdos que não sejam baseados em pesquisas – as referências bibliográficas -, já que não há necessidade de citação da origem do conteúdo.
Nem me vou pronunciar sobre outros aspectos propostas nesta alteração do actual governo brasileiro. Apenas isto é suficiente para abalar a credibilidade científica do ensino no Brasil.
Não indicar a referência bibliográfica é não indicar a fonte, a origem do conhecimento. É não respeitar a autoria, o trabalho científico. É facilitar a fraude, a cópia, a desonestidade. É não apresentar argumentos com a devida autoridade de pares. É poder dizer qualquer baboseira, asneira ou falsidade. É o descrédito do trabalho dos investigadores e cientistas honestos brasileiros. Ninguém mais, na comunidade científica irá acreditar, nem creditar os alunos brasileiros. É criar uma nova geração de alunos e investigadores sem princípios, sem métodos fiáveis de investigação, sem hábitos de respeito pelas fontes e autorias. O fim numa geração da credibilidade científica do Brasil. Tenho pena. Cada povo tem o destino que merece.
António Regedor
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