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Já assisti a muita coisa na vida. Já vivi em ditadura, em revolução social, em democracia. Na democracia sempre com a sensação de estar incompleta. A democracia é a procura de fazer sempre melhor e ainda melhor. Quer dizer que a Democracia tem o defeito de ser necessário estar sempre a procurar torná-la melhor. E tem a virtude única de fazer de cada um de nós o seu criador.
A ditadura era assim, não mudava e a solução foi acabar com ela, da única forma que se pode acabar com as ditaduras. A sua rejeição.
Na revolução social de 1974 e 1975 em Portugal, também vivi muitos episódios que só acontecem nesses períodos de indefinição, instabilidade, incerteza, mas muita vontade de mudar, agir, construir. As revoluções sendo esteticamente agradáveis, são socialmente inquietantes.
Hoje acho piada aos plenários na unidade onde prestei serviço militar, e ao momento em que o primeiro ministro Pinheiro de Azevedo anunciou que o governo entrava em greve. Nada disso foi grave. Era um período revolucionário.Um tempo em que se quebrava a hierarquia e a disciplina militar. Um tempo em o país estava repartido por muitos poderes e o governo era apenas mais um. Tempo revolucionário em que os juízes não faziam falta porque a justiça fazia-se na rua. O patrão que não pagava era corrido da fábrica. O senhorio especulador ficava com a casa ocupada, O polícia confinado à esquadra e as mocas na rua.
Hoje, assisto a uma manifestação ridícula do orgão de poder judicial fazer greve, como ridícula foi a alocução de Pinheiro de Azevedo. Manifestação criminosa porque um orgão de poder não deve, não pode fazer greve. A defesa da Constituição que os orgãos de soberania têm de salvaguardar, não se faz com interrupções. Um orgão de soberania que interrompe a defesa da constituição, coloca-se fora dela e contra ela. E os juízes de hoje (com letra pequena) e na sua pequenez estão contra a constituição que por obrigação terão de defender. Ou então demitam-se. Não gostam, não querem, ninguém os obriga. Sejam coerentes. Demitam-se.
Na realidade estão a demitir-se. De ser orgão de soberania. A demitir-se de serem diferentes dos assalariados da função pública. Querem assumir que não fazem parte do Estado e que o Estado é o patrão que lhes paga e que manda neles, como no fascismo. Demitem-se de fazer justiça, que acreditem neles. E a justiça passa a ser uma banalidade que qualquer assalariado, ou não, pode fazer. Desacreditam-se a si e à justiça, e abrem caminho à justiça popular em que qualquer bandido é juiz. E por reivindicação mesquinha como a de querer ganhar mais que o primeiro ministro. A Justiça que aplica o direito, trocada pelo justiceirismo sem direito.
Lamento profundamente a falta de Sentido de Estado, a Irresponsabilidade Ética no seu péssimo exemplo. Lamento ainda mais que os Juízes se coloquem ao nível dos carroceiros grevistas.
Desconfio que não se trate apenas de reivindicação laboral, porque a agenda de greves está pensada para daqui a um ano. Daqui a um ano? O que esconde esta agenda de tão longa greve?
António Regedor
O sociólogo Gilberto Freyre escreve em 1933 um estudo sobre a formação social do Brasil com o título: “Casa grande e senzala”. Caracteriza a formação da sociedade brasileira como acção de colonização de característica patriarcal, escravocrata e de alguma idealidade quanto à miscigenação. Sendo que até na miscigenação havia diferenciação, já que a igreja a incentivava a ligação às indígenas, mas não às pretas. Refere a opressão contra a mulher, que sendo negra ou indígena seria objecto sexual, e que confinava as brancas à casa grande descuidando a sua educação. Não havia escolas, os meninos eram ensinados em casa. Alguns, mais tarde em colégios de padres. Aos negros e mestiços era vedado o acesso ao sacerdócio, donde não seriam educados.
O branco vivia na casa grande . O negro, mestiço e índio na senzala.
As elites brasileiras parece gostarem destes tempos da escravatura. Da casa grande da cidade e da senzala do morro, da favela. A sociedade brasileira, no seu todo, parece preferir a condição da sua sociedade arcaica. Teima em não abandonar a estrutura escravocrata das relações sociais. Em não abandonar a violência sobre os pretos, os indígenas, as mulheres. As brancas parece não sentirem a clausura da casa grande no condomínio. Os brasileiros, homens e mulheres continuam a cultivar a violência, a ignorância, o racismo, a senzala. As estatísticas referem-na como sendo das sociedades mais violentas, mais ignorantes. Parece não terem aprendido nada com o tempo.
António Regedor
Em 1941 foi construído em Portugal, o primeiro navio de arrasto lateral. Construído nos estaleiros da Companhia União Fabril (CUF). Destinava-se à pesca do bacalhau. Mas logo em 1945 foi estabelecida a regulação dos recursos marinhos e controlo dos fundos do Atlântico, denominada Proclamação Truman. No ano seguinte realizou-se a Convenção Internacional de sobre pesca, em Londres. O primeiro organismo de gestão das pescarias do bacalhau do Atlântico, foi a Comissão Internacional das Pescarias do Noroeste Atlântico (ICNAF) criada em 1948. Nos dois anos seguintes era construído na Holanda o “Santo André” para a pesca do bacalhau nos bancos da Terra Nova.
Só em 1954 é que foi construído o primeiro navio de arrasto pela popa do mundo. Foi o “Fairtry” nos estaleiros de Aberdeen, na Escócia.
Mas o “Santo André” modernizava-se em 1961 com a instalação do parque de pesca coberto e de dois porões de congelados. Portugal estabelece uma Zona Económica Exclusiva de 200 Milhas em 1977 e a (ICNAF) dá lugar à North Atlantic Fisheries Organisations (NAFO).
Portugal adere em 1986 à CEE e passa a vigorar a Política comum de pesca. Bem depressa se chega à última campanha de arrastões laterais da frota portuguesa em 1991. Logo no ano seguinte o Canadá proíbe a pesca de bacalhau na Terra Nova e o “Santo André” é reconvertido em Navio-Museu.
Está hoje ancorado no Jardim Oudinot, na Gafanha da Nazaré, Município de Ílhavo. Era um navio moderno, com 71,40 metros de comprimento e porão para vinte mil quintais de peixe (1200 toneladas). No convés principal, ao centro do navio, estão instalados o guincho de manobra de redes, o sistema de roldanas, as patescas, as portas de arrasto e a rede, componentes essenciais na pesca. O guincho era manobrado por dois operadores e tinha capacidade para 25 toneladas. A fábrica de transformação de pescado tinha capacidade de processar 12 toneladas por dia.
Para ter uma ideia da máquina que fazia mover este navio, é de referir que o motor atingia a potência máxima de 1700 cv. Abastecia com 450 mil litros de gasóleo e gastava 250 litros hora. Atingia a velocidade máxima de 11 nós (cerca de 20Km/h).
Mas não só. Tinha uma caldeira para aquecer a água necessária ao aquecimento no navio, geradores a gasóleo para produzir a energia eléctrica, e um dessalinizador com capacidade de produzir 1500 litros de água potável, por dia.
Cerca de 57 pessoas viviam neste
Barco durante o período da faina. Capitão, imediato, piloto, enfermeiro, telegrafista com camarotes próprios e próximos. Cozinheiro, dois ajudantes e contramestre de salga em camarotes junto à cozinha. Chefe de máquinas, mais dois maquinistas, electricista e quatro ajudantes de maquinista com camarotes junto das máquinas. E finalmente camaratas para 40 homens.
Mas o melhor, é entrar no barco e imaginar-se na faina, com todos os barulhos, balanços e tarefas, apenas com o mar por horizonte.
António Regedor
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