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A questão da destruição de documentos probatórios da negociação SWAP veio mostrar que a actividade arquivística é de enorme importância e responsabilidade.
O Arquivo como actividade probatória da administração deve ter regras claras e sérias que garantam a seriedade e confiança na acção administrativa.
A direcção e orientação da actividade arquivística deve estar protegida de eventuais interesses contrários à actividade probatória arquivística.
Os arquivos administrativos devem ser enquadrados por lei. No caso concreto dos SWAP há portaria que pelo que parece não foi cumprida. Há certamente um responsável por uma ordem de eliminação ilegítima.
Os arquivos não podem ser entregues a curiosos, irresponsáveis ou sujeitos a actos contrários à lei.
É necessário legislar para que nos arquivos trabalhem exclusivamente arquivistas diplomados e sujeitos a código de ética profissional. Paralelamente que tenham uma actuação apenas pautada pela lei e independente de outros interesses. Nomeadamente nos que aconteceram que aparentemente foi o da destruição de documentos comprometedores de determinada acção que alguém pretendeu esconder de um acto de juízo.
Provavelmente acontecerá o mais fácil para os prevaricadores, que é o não tirar ilações deste episódio. Mas caberá à comunidade de arquivistas e técnicos de informação responsáveis alertar para o sucedido e exigir para o bom nome da administração púbica e privada que se legisle no sentido de haver arquivistas com missão e responsabilidade expressa em lei e que nos arquivos só trabalhem destes profissionais habilitados. Tal como só médicos podem receitar ou arquitectos e engenheiros assinar os projectos das suas competências.
É necessário acabar com a falta de rigor no recrutamento de profissionais para sectores cruciais para o bom nome e credibilidade da custódia da documentação probatória dos actos administrativos.
A minha preocupação com a formação em CIÊNCIA da INFORMAÇÃO levou-me a procurar saber como tinha sido o ingresso nos cursos de Ciência da Informação nas Universidades Portuguesas. Pela informação a que consegui aceder verifiquei que apenas na Universidade do Porto as vagas foram preenchidas. Na Universidade de Évora apenas se inscreveram seis candidatos. Na Universidade de Coimbra apenas cinco candidatos.
A falta de alunos nos cursos de ciência da informação, poderá entre outros hipóteses ter a ver com menor capacidade económica , com o encerramento de empresas, com o facto da profissão de bibliotecário ter deixado de ser uma carreira especial na administração pública, por não haver progressão nas carreiras, pela não exigência em todos os casos de habilitação específica para professor bibliotecário. Tudo isso junto poderá constituir possíveis explicações para o desinteresse pela formação em ciência da informação.
No entanto, verificamos cada vez mais a necessidade dos profissionais de ciência da informação nas empresas, nos arquivos, nas bibliotecas, nas editoras e nos meios de comunicação entre outros sectores da actividade económica.
*
O Bibliotecário Borges. Sim, esse mesmo, o Jorge Luís Borges, escritor.
Como outros bibliotecários tem também gostos, interesses e leituras próprias que constituem a sua próprias biblioteca, ou colecção para usar o termo técnico. Como outros bibliotecários pode deixar ou não a sua colecção para a biblioteca à qual se sente ligado por alguma razão. Colecção que pode não se confundir, mas pode fundir com essa biblioteca de comunhão. Isto aconteceu com Borges que foi Director da Biblioteca Nacional da Argentina. A esta biblioteca fez uma doação de livros e revistas. Os exemplares da colecção doada à Biblioteca Nacional não foram identificados com identificação do proprietário doador. Mas a colecção doada foi integrada na colecção da BN, o que é correcto. O que prova não ser correcto é a falta de identificação de origem da aquisição, neste caso por doação. Todos os documentos deveriam ter sido identificados com indicação do doador e posteriormente integrados na colecção da biblioteca. Um trabalho simples feito no momento certo que seria o da integração. Isso não foi feito.
Os documentos que pertenceram a Borges que hoje conseguem ser identificados são os que possuem anotações manuscritas nas margens dos livros e revistas. Hoje em dia, há bibliotecários que percorrem os depósitos da Biblioteca Nacional da Argentina a detectar livros e revistas pertencentes a Borges. Numa revista encontraram um manuscrito. Um “encontro” que poderia ter sido feito logo no momento da preparação da doação para incorporação.
Recentemente, por acção, dessa pesquisa nos documentos que se identificam como pertenca de Borges foi encontrado um manuscrito com o testo que corresponde ao final do “Tema do Traidor e do Herói” como aparece na edição de 1944 de “Ficções”. Esta recuperação foi feita porque dois bibliotecários andam há vários anos a fazer esta pesquisa. Dois bibliotecários durante vários anos dedicados a esta tarefa constitui certamente um custo muito elevado.
Esta história permite reflectir sobre a vantagem das boas práticas em biblioteconomia. Se tivessem existido na altura da doação, hoje não haveria dúvidas sobre a origem e propriedade da biblioteca doada de Borges, o material acompanhante teria sido identificado e conhecido. As boas práticas em biblioteca são mais económicas e racionais como medida de gestão, garantem maior fidedignidade à colecção, são mais eficazes para a recuperação.
Mas infelizmente as boas práticas nas bibliotecas têm vários adversários. Estre eles estão a falta de sensibilidade política para a necessidade de dotar as bibliotecas apenas com bibliotecários diplomados. A falta de legislação que a isso obrigue. A falta de massa crítica cívica que isso exija. A falta de empenho reivindicativo da comunidade de bibliotecários nesse sentido. Mas há esperança.
* texto feito a partir da leitura da notícia: http://www.publico.pt/cultura/noticia/bibliotecarios-argentinos-encontram-manuscrito-de-borges-1605185
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