. A linha do Vouga voltou a...
. Mosteiro de São Salvador ...
. ...
. IFLA e Lei de Bibliotecas...
. Manifesto 2022 para as Bi...
. Boavista
. O Porto ainda a meio do s...
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Luís Norberto Lourenço
Ex-aluno de pós-graduação em Ciêncis da Informação e da Documentação da Universidade Fernando Pessoa, em entrevista à revista livros & leituras
Na próxima 5ª feira (um dia após o centenário da morte de Manuel Laranjeira) Haverá Onda Poética na Biblioteca José Marmelo e Silva, em Espinho. Eu e outra leitora da Onda Poética, leremos o seguinte texto, excerto do "Diário íntimo" do autor.
ELE E AUGUSTA António Regedor / Diana Devezas (à vez)
1908
Domingo, 10 de Maio
Levanto-me aborrecido e fatigado. O ar que respiro é venenoso e amargo. A luz da tarde é azeda e glacial. Encontro a Augusta — que de longe avança para mim a sorrir. Digo-lhe de longe, seca e desdenhosamente, como quem lhe atira um insulto: — Boa-tarde. E nem sequer a fitei mais. Ao anoitecer fui visitá-la. Estava na cama — doente. Tinha os olhos de quem passara horas a chorar. Apiedei-me. Revoltei-me: indignei-me comigo. Tive uma crise de arrependimento. Pedi-lhe para irmos passear. A doença esvaiu-se. E fomos, ao longo da praia esbranquiçada, enlaçados, sob a claridade macia e pálida de um luar de cinco dias. Eu queria adormecer-lhe a alma com afagos. Pela madrugada a pobre alma, esquecida e feliz, com os olhos aguados de brilho e luz e rasos de alegria, presos nos meus, tinha espasmos de ternura infantil — desejos carinhosos de criança.
Sexta, 15 de Maio.
A Augusta tomou-se hoje nos braços, maternalmente, como uma mãe que conchega o filho ao colo e disse-me: — Quando te tenho assim, nos braços, é como se tivesse o mundo nas mãos.
Quem ensinaria esta criatura do povo a dizer estas coisas? O Amor? a genial intuição do Amor? Hum! duvido...
Duvido! duvido! duvido! — eis o que é horrível e intolerável. Tão horrível e intolerável que o meu desejo único é repousar e esquecer — encontrar alguém que me agasalhasse maternalmente, como uma ave abriga um filho debaixo da asa macia e carinhosa!
Terça, 16 de Junho.
A Augusta conta-me um episódio em que a virtuosa sociedade se indigna com o nosso amor. E ri. De repente pondo-se séria: — Vê lá tu o mundo! Porque eu sou tua amante, não sou honesta. Se eu fosse tua mulher, podia ser desvirtuosa como uma cadela, respeitavam-me. Assim, censuram-me. A minha desonestidade é ser tua amante. Apenas isto. Que estranha opinião essa gente tem da virtude!
Ficou pensativa um pouco e depois com ar aborrecido:
— Felizmente para nós! A nossa consciência é doutra opinião acerca da virtude.
Também ela sente que a única tranquilidade que dá gozo deveras é aquela que resulta de estarmos em paz connosco. Ainda bem! ainda bem!
Quarta, 1 de Julho.
A Augusta fala-me muito da G. — da morta.. . E, num instinto de mulher, fala-me dela com ódio.
Compreendo: ela supõe que entre nós se atravessa o cadáver — e a alma dessa extraordinária suicida, e tenta arrumá-la com o pé.
Não me indigno: eu bem sei que o amor é impiedoso e é injusto...
Quinta, 9 de Julho.
A espanhola manda-me chamar para lá ir a casa dela ver uma criança doente. Entendo. Vai ler-me mais uma vez a sina na mão e, pela cruz que formam certas linhas, vai predizer-me um casamento à Cirano. Eu raptarei uma mulher para outrem e afinal a mulher será para mim... Lá está também a H., é infalível. Ponho no dedo o anel de cabelo da Augusta. É um bentinho infalível. Que decepção! Nem a sina me leu, de entupida...
Terça, 4 de Agosto.
A Augusta começa a fartar-se de mim, vejo-o. Sinto a comoção estranha de que vou ser, de que estou sendo esquartejado. E depois que importa? Quase sinto uma alegria dolorosa de lembrar-me que ela se pode cansar de mim. Aquela mulher, aquela carne que eu possuí e gozei, aquela alma que foi minha — há-de ser de outro? Não, o que eu possuí e gozei foi a minha ilusão e essa é minha. O corpo dessa mulher e a sua alma goze-os quem quiser. Na verdade o que foi meu, foi a minha ilusão apenas. E serei livre!
Sábado, 8 de Agosto.
Encontro a Augusta numa crise de abatimento. Rompo numa demonstração laboriosa, sofística, afectiva. Adormeço-lhe os ouvidos e a razão com a lógica mentirosa e convincente das palavras — e ela adormece na ilusão das palavras.
Crer em palavras falsas ou em palavras de verdade — é afinal a mesma felicidade, a felicidade de crer. O horrível é a desgraça de duvidar, de ver nas palavras sempre a mesma música ilusória — e passageira.
Tens razão, Augusta: uma mentira, crida deveras, vale uma verdade — dá a mesma felicidade.
E eu deixo-me embalar...
Quarta, 2 de Setembro.
Cheguei tarde a casa da Augusta. Fiz um esforço, como alguém que precisa de mostrar-se corajoso estando aterrado, e fui. Queria que ela me visse sereno, descuidado, como quem já esperava pelo desenlace. Sorri, fui afável, postiçamente carinhoso.
— Estavas a dormir? — Eu sabia bem que ela não tinha dormido nada.
— Estava. — respondeu com o ar mais indiferente deste mundo.
— Oh demónio! Se eu sabia que vinha acordar-te, não teria vindo.
— Não viesse... — A voz tremia-lhe de despeito.
— Como me pedes para vir, nem que seja um momento.... Vim, porque supus que gostasses... Não gostas?
— Não me importa. — Fitei-a sem comoção um pedaço e, disse, naturalmente: — Oh demónio desculpa ter vindo incomodar-te. — Perdoa. - Ergui-me para sair. — Aonde vais? — perguntou assustada. — Boa noite. — Agarrou-se a mim numa explosão de choro e soluços.
E a farsa recomeçou.
Sábado, 19 de Setembro.
Dia de festa. Tarde, vou a casa da Augusta — e levo a alma cheia de presentimentos negros. Encontro-a na cama a chorar.
— Estás doente? - Não. — Queres sair um pouco a passear? — Não. — Vem comigo! - Não. Deixa-me. — Boa-noite. — Não responde.
Saio com uma alegria feroz a estoirar-me na alma — a alegria doida de um homem que acabasse de perder quanto tinha. Enfim! livre e só! e só! - desgraçado. Esta liberdade suprema custou-me a felicidade... Por isso é horrivelmente saborosa. Saio, vagueio à toa, como alguém que não sabe o que há-de fazer de tanta felicidade. Aó cruzar uma rua, sinto-me agarrado pela Augusta trémula, perdida... — Vem comigo. Depressa! senão caio morta na rua. — E eu, sem uma palavra, vou. Adeus, liberdade, estou preso outra vez...
Texto de Luis Norberto Lourenco, que pelo assunto e discussão que pode promover, merece ser publicado.
O livro em que este texto está inserido foi apresentado Há pouco tempo e disso demos aqui conta.
Manifestos contra o medo: Antologia de uma intervencao civica
Abertura das bibliotecas aos fins‑de‑semana
A genese desta proposta esta na necessidade de por cobro a dois problemas de ordem
cultural/educacional e contribuir para a diminuicao de outro de ordem socio‑economica.
Quanto ao 1.o, tem dois destinatarios: o publico em geral e os estudantes deslocados
em particular.
Assim, a ideia e permitir o usufruto das bibliotecas, a quem nao pode te‑lo durante os
“dias da semana de trabalho” ou “dias uteis”, ate porque a maior parte da populacao activa
sai do emprego depois da hora de fecho das bibliotecas; especificamente aos estudantes,
que estudam fora das suas zonas de origem, nomeadamente os universitarios, para que
possam consultar, fontes locais para trabalhos, aos fins‑de‑semana durante o periodo lectivo,
durante o qual apenas se podem deslocar a “casa” nos fins‑de‑semana ou nas ferias
escolares.
No plano socio‑economico, seriam criados novos empregos, uma vez que, a minha
proposta nao tem como intencao a sobrecarga de horario laboral dos actuais funcionarios,
ate porque sou apologista do limite maximo das 40h de trabalho (se bem que o ideal seriam
as 35h, mas isto fica para outra ocasiao…).
Certamente nao havera poucos desempregados interessados em trabalhar, mesmo
que seja aos fins‑de‑semana.
E parece‑me obvio que o Ministerio da Educacao, o Ministerio da Cultura, o Ministerio
do Emprego e as Camaras Municipais nao estao alheados ao fenomeno do desemprego e
apenas com uma medida atacar tres problemas: promover a cultura e fomentar a educacao,
combatendo simultaneamente o desemprego.
. Livros que falam de livro...
. Dança
. Rebooting Public Librarie...