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O Centro Estudos José Marmelo e Silva
comemorou os 111 anos do nascimento do escritor que é patrono da Biblioteca Municipal de Espinho e onde possui uma sala-museu.
A efeméride foi assinalada com o lançamento e apresentação do livro “Sobre Poemas da Ilha do Porto Santo” da autoria de Fernando de Castro Branco.
Fernando de Castro Branco é Doutor em Literaturas e Culturas Românicas com a tese: "Adolfo Casais Monteiro e a Doutrina Estética da "Presença" .
José Marmelo e Silva nasceu em Paul na Beira Baixa a 7 de Maio de 1911. Estudou na Universidade de Coimbra e concluiu a Licenciatura na Universidade de Lisboa. Fixou residência em Espinho onde sempre foi professor e onde morreu a 11 de Outubro de 1991. Foi agraciado com a medalha de ouro da cidade e com o grau de Comendador da Ordem de Mérito pela Presidência da República.
Na sua bibliografia refiro “Sedução” (1937); “O Sonho e a Aventura” (1943); “adolescente Agrilhoado”(1948); “O Ser e o Ter”( 1968); “anquilose”(1971); “Desnudez Uivante”(1983); “O Cabo Elísio” (1989).
José Marmelo e Silva escreve estes poemas numa semana, do Verão de 1946, que passa na Ilha de Porto Santo. É o resultado do impacto que lhe provoca a ilha e as pessoas na sua condição. “Marmelo e Silva parece equilibrar nestes poemas a tradicional dicotomia entre a utilidade ou não da arte, tanto mais que ele mesmo beirava os dois pólos representativos dassa problemática no tempo, o Neo-Realismo, evidentemente, e também o Presencismo” como nos diz Fernando de Castro Branco (2022).
Branco, Fernando de Castro. Sobre Poemas da Ilha do Porto Santo. [Paul]: Centro de Estudos José Marmelo e Silva, 2022. ISBN 978-989-33-2939-9
António Borges Regedor
Hoje é Dia Mundial do Livro. É sempre útil voltar à “arqué”. A esse elemento que deveria estar presente em todos os momentos da existência de todas as coisas do mundo tal como o pensavam os filósofos da antiguidade. À Teogonia. A de Hesíodo ou às outras que enformam o pensamento o pensamento ocidental de raiz mediterrânica. Nomeadamente o humanismo Judaico-Cristão que resulta das Teogonias Babilónicas e Mediterrânicas.
Escolhi para lembrar este dia a “Poesia Grega”. É “uma amostra representativa de diferentes géneros poéticos cultivados na Grécia Antiga”. Conforme diz o tradutor Frederico Lourenço no prefácio que faz a esta edição da Quetzal saída do prelo em 2020. Neste livro reúne poesia de Hesíodo (“Teogonia” e “Trabalhos e Dias”); Álcman (poeta lírico do século VII a.c. ; Semónides do século VII a.c. ; Mimnermo do século VII a.c. e que foi muito apreciado em Alexandria e Roma ; Safo, que terá sido a primeira autora da literatura europeia. Convém referir que esta aristocrata nascida na ilha de Lesbos, em meados do século VII, era esposa e mãe e que a sua poesia completa foi reunida em Alexandria ; Íbico nascido no século VI a.c. ; Anacreonte nascido no século VI a.c.; Teógnis do século VI a.c. cuja poesia se destinava a ser cantada em saraus/ beberetes que se denominavam à época simpósios; Píndaro expoente máximo da poesia lírica da Grécia do século VI a.c.. a sua poesia reflete o confronto entre os valores aristocráticos imutáveis e os sufistas relativistas, Calímaco, autor mais recente, do século III a.c. que desenvolveu a maior parte da sua vida na biblioteca de Alexandria onde foi autor do seu catálogo; E finalmente Teócrito que se dedicou à poesia bucólica também no século III a.c..
António Borges Regedor
Conheci-o professor que nas suas aulas de português levava as suas turmas à Biblioteca Municipal. A aula em Biblioteca era da maior liberdade. Cada aluno fazias as suas próprias escolhas. Tinham acesso a tudo sem qualquer impedimento. Obras de referência como enciclopédias ou dicionários de diversas especialidades. Jornais ou revistas. Ficção ou ensaio sobre qualquer matéria. Religião ou Filosofia, Matemática ou Geografia, Medicina ou Desporto. Fotografia ou Banda Desenhada. Um Professor que me espantou pelo seu saber, qualidade e ousadia da didáctica e pedagogia.
Gente assim faz amizade. E partilhamos o mesmo espaço da Livraria do Sr. Miguel onde o Antero começou a Onda Poética. Quando a livraria encerrou e se tornou urgente encontrar outro espaço para a “Onda”, abri as portas da sala onde tinha sido a Biblioteca Gulbenkian para as sessões de poesia até se encontrar espaço de maior visibilidade. O amigo e poeta Antero não desistiu, não esmoreceu, procurou novo espaço para a poesia em Espinho.
Abriu-se a porta do Casino Solverde à poesia. A “Onda Poética” realizou-se durante largo tempo no bar do Casino. E quando finalmente Espinho teve uma casa digna para Biblioteca Municipal, o Antero Monteiro fez questão de levar o poema à companhia das outras letras, na sua própria casa.
O Antero juntou muitos amigos à sua volta, e como ele o sabia fazer tão bem. Levou-nos a dizer poesia a bibliotecas e bares. Com o Antero Monteiro entravamos pela noite a ler poesia. Podia ser no espaço mais formal do centro literário, como podia ser na madrugada no “púcaros”. Com o Antero descobríamos autores e poemas e com ele tentamos ler poesia.
A “Onda Poética” era a sua assinatura. Sem ele ficamos órfãos de poesia.
António Regedor
Alfredo Soares -Ferreira apresentou Lúcio Lima, poeta. E ficamos também a saber que Lúcio Lima através de Alberto Soares-Ferreira apresentou o seu livro de poemas. “Rio Torto – A Nascente” foi editado em 2021 pela Poesia Fã Clube.
Alfredo Soares-Ferreira é engenheiro e foi Professor no Politécnico do Porto. O seu empenhamento cívico tão expressão mais evidente na direcção de Organizações Não Governamentais. Neste livro dá vida a Lúcio Lima. E apresenta-o dizendo no prefácio que: “ o texto vai de fugida, o horizonte mente, perdemo-nos agora, com a ajuda da Física, na distância focal:” e é esse distanciamento que observamos em mais de cem páginas de poesia de todo um tempo ou tempos vividos, sentimentos, emoções, gentes, situações. Tudo o que a vida comporta e pode comportar a poesia.
António Borges Regedor
Porque hoje é dia de onda poética na biblioteca de espinho, deixo aqui o que pensava da poesia quem a escreveu com mestria.
Persistência da poesia
Crónica de Manuel António Pina, na revista “Visão”, em 7 de Junho de 2007
A poesia é um mistério incompreensível. Porque escrevem as pessoas poesia? E porque a lêem ou ouvem outras pessoas? Eu sei que pode escrever-se poesia (o que quer que "poesia" signifique) por muitos motivos, nem todos respeitáveis.
Ao longo da História, a poesia tem servido um pouco para tudo, seja ut doceat, ut moveat aut delectet, que é como quem diz "para ensinar, comover ou deleitar" (a fórmula tem 500 anos e é de Rudolfo Agrícola) seja para enaltecer e louvar ou, se não para ganhar a vida, ao menos para fazer por ela.
Hoje, como provam os programas de Língua Portuguesa da dra. Maria de Lurdes Rodrigues, a poesia é coisa perfeitamente dispensável no ensino e qualquer telenovela comove e deleita mais gente que um poema de Cesário ou de Herberto; por outro lado, já ninguém encomenda um poema para eternizar os seus feitos (a verdade é que também faltam feitos que mereçam ser eternizados) nem nenhuma dama se deixa seduzir com protestos de amor decassilábicos e metáforas. Quanto a ganhar a vida estamos falados; com raras excepções, os livros de versos vendem umas poucas centenas de exemplares e só editores suicidas se metem em tal negócio. Há tempos, um editor punha a uma selecta audiência de poetas a seguinte pergunta: como se edita poesia e se tem uma pequena fortuna ao fim de uns anos? A resposta é: começando com uma grande fortuna. No entanto, continua a haver gente a escrever poesia e gente a editá-la. E gente a ler ou a ouvir poesia.
Na semana passada realizou-se em Maiorca o Festival de Poesia do Mediterrâneo (outro mistério: por todo o lado continuam a realizar-se festivais de poesia). Havia poetas catalães, castelhanos, asturianos, árabes, portugueses.
Na última noite, 500 ou 600 pessoas ouviram ler poemas em línguas que não conheciam. Muitas vezes (pelo menos no caso do árabe e do português) não faziam a mínima ideia do que falavam os poetas. Mas escutavam como se participassem numa celebração cujo significado estivesse além (ou aquém) das palavras.
Que procuravam ali aquelas pessoas? Só a "música das palavras"? Mas a poesia não é música, é um pouco menos e um pouco mais que música. É certo que também não é apenas sentido mas algo entre uma coisa e outra ou ambas ao mesmo tempo, "música do sentido", como diz Castoriadis, e talvez, quem sabe?, alguma forma de sentido que a música possa fazer. Como os outros, também eu escutava. Às vezes julgava reconhecer uma palavra e agarrava-me a ela como um náufrago até a perder algures fora e dentro de mim, ou percebia uma sonoridade dolorosa, uma inflexão irónica, uma invectiva (em árabe, meu Deus!, que mais podia eu perceber?), e isso me bastava para, por um momento, me sentir absurdamente feliz.
Talvez, quem sabe, a poesia seja alguma espécie obscura de religião, talvez ela própria seja uma língua estrangeira falada em regiões distantes e interiores, talvez escrevendo poesia e lendo e ouvindo poesia estejamos perto de algo maior do que nós ou do nosso exacto tamanho. Porque alguma razão há-de haver para a persistência da poesia mesmo em tempos tão pouco gloriosos como os nossos.
O facto de me interessar por poesia, o de conhecer alguns poetas e o de durante alguns anos ter sido diseur numa tertúlia de poesia, chamou-me a atenção a entrevista que a revista “somos livros” faz ao médico e poeta João Luís Barreto Guimarães. Desde logo porque na primeira pergunta o poeta diz entender a poesia não como algo frágil, mas como resistência. Isso trouxe-me à memória a poesia como resistência no período da ditadura em Portugal. Recordo o meu círculo de inconformados com a ditadura, a falta de liberdade para coisas tão comezinhas como o de beber coca-cola, a perspectiva dos jovens da minha idade terem de fazer guerra colonial. E como um dos primeiros poemas nesse ambiente foi “o canto e as armas” de Manuel Alegre ou “a invenção do amor” de Daniel Filipe, ou os poemas das letras musicadas de Hendrix, Joan Baez, Bob Dylan, e Patxi Andion, e por aí adiante nos anos sessenta e setenta.
E o poeta refere a atenção que a poesia confere ao silêncio em contraponto ao tempo presente em que “toda a gente tem opinião sobre tudo”. É deste ponto de partida que me dou conta de como a poesia é síntese, essencial, depurada, palavra pensada, medida, reflectida. Assim como devia ser toda a nossa vida. Em teoria da informação tendemos a considerar boa informação a que é precisa, relevante e pertinente. Os tempos de hoje estão pejados do contrário do que é boa informação. Coisa que quase já só na poesia encontramos.
Diz também Barreto Guimarães que a poesia “dá imensa atenção” ao silêncio. E dou-me conta que a minha forma de ler poesia é a de vincar, notar, valorar, dar tempo aos silêncios do poema. Agora entendo, para além do ritmo, o valor das pausas na leitura, dos silêncios na poesia.
Não me espanta que o ICBAS na linha do seu fundador Nuno Grande, tenha decidido incluir no currículo de medicina uma cadeira de poesia. No frontão desta escola de medicina inovadora está a inscrição: “O médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe”.
Bibliografia de João Luís Barreto Guimarães: “Nómada”, “Mediterrâneo”, “O tempo avança por sílabas”, “Movimento”, “Aparte pelo todo”, “Luz última”, “Rés-do-chão”, “Este lado para cima”, “Você está aqui”.
Antóio Borges Regedor
Lembro alguns anos levar para férias uma pasta de livros cujos títulos, autores ou temas me suscitavam curiosidade. Ia lendo o que me agradava. Colocava alguns de lado. Era uma selecção de férias.
Hoje escolho para recomendação de leituras de verão, livros que garantidamente merecem ser lidos.
“Porto” de Ernesto Vaz Ribeiro. “Uma história da Leitura” de Alberto Manguel. “A guerra nos Balcãs” de Carlos Branco. “O segredo de Compostela” de Alberto Santos. “No café da juventude perdida” de Patrick Modiano (melhor romance de 2007). “Sobre a Leitura” de Marcel Proust. “Crónica do Rei-Poeta Al-Mu´Tamid” de Ana Cristina Silva. “Eva” de Arturo Péres-Reverte. “Os loucos da rua Mazur” de João Pinto Coelho. E de Carlos Vale Ferraz recomendo “A estrada dos silêncios”, “A última viúva em África”, “Nó cego”, “Queu fazer contigo, pá?”, “Angoche”. De poesia “Na tua ausência” de Daniela Fernandes. "Solto" de Ana Gabriela Nogueira. "Poesia Reunida" de Manuel resende. "366 poemas que falam de amor" antologia compilada por Vasco Graça Moura . De todos estes tenho notas em https://bibvirtual.blogs.sapo.pt
António Borges Regedor
A morte de um amigo deixa-me mais só na minha geração que tem a marca do Maio de 68 e Abril de 74. Conheci o Manuel Resende no Porto e com ele partilhei alguns momentos da transformação social democrática em Portugal. Engenheiro que se fez jornalista no Jornal de Notícias. Anti-militarista que se fez líder de soldados. Poeta que também traduziu poesia. A sua poesia pode ser encontrada na editora “cotovia”. A tradução do grego Konstantínos Kaváfis, uma edição da editora “FLOP” está em português e grego.
António Borges Regedor
Entre o Sono e Sonho
Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.
Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.
E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
Faleceu hoje, dia 6 de Junho, Albano Martins
Nasceu em 1930, Licenciou-se em Filologia Clássica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi professor do Ensino Secundário, trabalhou na Inspecção-Geral de Ensino e foi professor na Universidade Fernando Pessoa. É autor de cerca de trinta títulos de poesia, tradutor de poesia clássica, italiana e de Pablo Neruda. Organizou, para a Imprensa Nacional-Casa da Moeda (Lisboa, 1987), uma Antologia do poeta simbolista português Eugénio de Castro. Está representado em diveras antologias. Colaborou em prosa e verso em diversos jornais e revistas, quer nacionais , quer estrangeiras.
Foi membro da Associação Portuguesa de Escritores, do P.E.N. Clube Português, da Associação Portuguesa de Tradutores, da Associação Galega da Língua (AGAL) e Membro Honorário da Academia Cabofriense de Letras (Estado do Rio de Janeiro).
Integrou a Comissão Instaladora do Museu Nacional de Literatura, no Porto e foi membro da direcção da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto.
Tem os prémios de Tradução instituído pela Sociedade de Língua Portuguesa; o "Prémio Eça de Queirós" de Poesia, da Câmara Municipal de Lisboa e a medalha Oskar Nobiling, de mérito cultural da Sociedade Brasileira de Língua e Literatura, do Rio de Janeiro
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